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Em filme, Sarah Jessica Parker vive desafios de muitas mães que trabalham; conheça histórias

Sarah Jessica Parker, em cena do filme "Não Sei Como Ela Consegue" - EFE/Craig Blankenhorn/Weinstein
Sarah Jessica Parker, em cena do filme "Não Sei Como Ela Consegue" Imagem: EFE/Craig Blankenhorn/Weinstein

MÁRCIA PEREIRA

Colaboração para o UOL

17/12/2011 07h00

Em casa, Kate aguarda a babá chegar para instruí-la sobre o que fazer com seus dois filhos, Emily, de 5 anos, e Ben, de 2. Como a funcionária chega atrasada, Kate acaba se atrasando para o trabalho. No escritório, seus colegas, a maioria homens, insinuam que ela deixa a desejar, pois divide-se entre o trabalho e a família. Apesar do ambiente majoritariamente masculino e um tanto hostil, Kate consegue emplacar um grande projeto e tem seu esforço reconhecido pelo chefe. Conclusão: a profissional, que tinha fama de não se dedicar totalmente ao trabalho, prova que é possível combinar eficiência com casamento e maternidade.
 
Kate, na verdade, é a personagem da atriz americana Sarah Jessica Parker no filme "Não Sei Como Ela Consegue", em cartaz nos cinemas. Apesar de fictícia, sua história não é diferente das de muitas profissionais, mães e mulheres brasileiras. Saiba como duas delas se viram para conciliar carreira e maternidade:

  • Haroldo Saboia/UOL

    A publicitária Lica Bueno, com seus filhos sabel, de 10 anos, e Joaquim, de 5


Mãe e executiva em tempo integral
Assim como Kate, a publicitária Lica Bueno, de 37 anos, tem uma vida profissional e familiar intensas. Diretora nacional de mídia da agência de publicidade F/Nazca, comanda uma equipe de 44 pessoas. É casada com um publicitário e mãe de Isabel, de 10 anos, e Joaquim, de 5. Seu dia, no trabalho, tem cerca de dez horas e, entre uma reunião de concorrência e uma apresentação, ela atende aos apelos e telefonemas da filha, do filho e dos três empregados que a ajudam a organizar a rotina da família.

 

"Minha filha está em uma fase em que tudo fica mais intenso e dramático. Às vezes, ela me liga ‘85 vezes’ no dia para me pedir algo ou contar alguma coisa”, diz Lica, que, no dia da entrevista, teve de atender a um telefonema do motorista, sobre qual conjunto de luzes deveria comprar, se azul ou amarelo, para a árvore de Natal da família.

Ela acredita administrar bem a casa e a agenda recheada da agência. “Sou uma workaholic convicta e tento explicar isso da melhor maneira aos meus filhos. Digo que amo demais os dois e que também amo o meu trabalho”, afirma a publicitária, que, às vezes, leva trabalho para casa. "Tento ensinar às crianças que trabalho é uma coisa boa, não um sacrifício. E não é preciso ser supermãe para ser uma boa mãe.”

Para conseguir realizar tarefas com eficiência, Lica diz contar com colaboradores competentes e eficientes. “Tenho uma empregada, uma babá, uma faxineira e um motorista que trabalham comigo há anos. Conhecem meus esquemas, gostos e horários”, diz. Segundo ela, essa cumplicidade é fundamental para que tudo corra bem.

Ganhar menos, para estar mais presente

  • Haroldo Saboia/UOL

    A chef de cozinha Danielle Dahou, mãe de Noah, de 6 anos

Mãe de Noah, de 6 anos, a empresária e chef de cozinha Danielle Dahoui divide-se entre seus dois restaurantes, em São Paulo, todos os dias. Para se dedicar à criação da filha, ela optou por diminuir seu ritmo de trabalho e, consequentemente, seus rendimentos. "Antes da Noah nascer, eu tinha quatro restaurantes. Depois, fiquei só com um. Hoje, como ela cresceu, consigo administrar dois”, conta. Danielle reduziu seus ganhos mensais em cerca de 60%, o que a fez comprar um carro menor e mudar de um apartamento de 300 metros quadrados para uma casa de 120 metros quadrados.

“Sempre trabalhei muito, cerca de 16 horas por dia. Agora, continuo trabalhando, mas menos”, diz Danielle. Ela confessa que, antes da filha nascer, o trabalho vinha em primeiríssimo lugar. “Hoje Noah assumiu esse posto. Depois vem eu, o trabalho, e, em quarto lugar, os amigos e os amores”, afirma ela. “Com a experiência aprendemos a entender o timing da vida.”

As mães workaholics vieram para ficar?
Segundo Carlos Frederico Lucio, professor de antropologia da Escola Superior de Propaganda e Marketing e da FAAP, ambas universidades de São Paulo, o surgimento dessa categoria de “mãe workaholic”, que há algumas décadas era inimaginável, é consequência da  luta feminina pela liberdade de serem e fazerem aquilo que desejam. E não aquilo que lhes foi imposto ou determinado. “Uma das principais sementes dessa conquista, que chegou nos últimos anos, foi o movimento feminista, iniciado na virada do século 19 para o 20”, explica ele.

Para o catedrático, é visível a evolução das relações de trabalho. “O atual e pungente momento da economia brasileira, no qual toda mão de obra é bem-vinda, permite a absorção de um tipo de trabalhador que, na visão mais conservadora, tem limitações. Caso das mães com marido e filhos”, analisa o professor. “O mercado amadureceu no sentido de acolher pessoas que tenham outras necessidades, que não só o trabalho”, diz Lucio.

Receita de sucesso para ser uma mãe workaholic

Lica Bueno e Danielle Dahoui partilham, aqui, dicas acumuladas com suas experiências:

- Se puder, monte uma equipe afinada para lhe ajudar nas tarefas diárias -em casa e no trabalho;
- Coloque na agenda os compromissos familiares, como faz com os do trabalho;
- No tempo reservado para cada função, dedique-se por inteiro;
- Tente separar um fim de semana no mês para se dedicar ao ócio.