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Casais que divergem sobre o desejo de ter filhos precisam investir no diálogo franco

Paulo (Dan Stulbach) e Esther (Julia Lemmertz), personagens da novela "Fina Estampa" - Estevam Avellar/Divugação TV Globo
Paulo (Dan Stulbach) e Esther (Julia Lemmertz), personagens da novela "Fina Estampa" Imagem: Estevam Avellar/Divugação TV Globo

SIMONE CUNHA

Colaboração para o UOL

19/12/2011 07h00

O desejo de ser mãe alimentado por Esther, personagem de Julia Lemmertz na novela "Fina Estampa", acabou culminando na sua separação. Seu marido Paulo (Dan Stulbach) não aceitou a gravidez realizada por meio de uma inseminação e, nesse assunto, o casal não conseguiu se entender. Exagero de novela? Não. A divergência sobre ter ou não filhos pode comprometer um relacionamento. "Isso ocorre por que, durante muito tempo, prevaleceu um modelo de família que, automaticamente, incluía filhos", explica Margareth dos Reis, psicóloga e doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

  • Haroldo Saboia/UOL

    O casal Karine e Juliano: ela não está pronta para a maternidade; ele quer ser pai


O assunto não é amplamente discutido antes do casamento ou estabilização das relações. Com o passar do tempo, ter um bebê torna-se um processo natural. Porém, nem sempre os dois estão prontos para assumir tal compromisso. E este é o caso da estudante Karine Alessandra Vianelo de Oliveira, 24, casada há três anos e oito meses com Juliano Souza de Oliveira, 27, ministro religioso. “Não me sinto preparada para tamanha responsabilidade. Primeiro quero ter uma casa, um carro, uma carreira e, quando estiver segura, irei pensar no assunto."

No entanto, sua decisão pegou seu marido de surpresa. “Fiquei um pouco atônito. Penso em ser pai desde o momento em que me casei”, diz. Para Margareth, a decisão de Karine é muito comum nos dias atuais. “As mulheres têm priorizado a carreira e optam por adiar a maternidade”. E a psicóloga acrescenta que isso acontece por que, apesar de elas estarem inseridas no mercado de trabalho, a responsabilidade dos filhos sempre pesa mais para elas. “Quem pode faltar no emprego para levar o filho ao médico?”, questiona Margareth.

Dialogar é essencial
Ao dar início a uma vida em comum, o casal inicia um processo de conhecer um ao outro. “Não existe quem deve ceder e quem deve ganhar em um relacionamento. O único caminho é o diálogo franco e aberto sobre as expectativas de cada um”, diz Maria Cristina Pinto Gattai, professora do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP).

Juntos há um ano e oito meses, o casal Felipe Cappucci, 32 e Fernanda Cappucci, 30, ambos designers de interiores, apostou no bate-papo para entrar num acordo em relação ao assunto. “Não acredito que este seja o momento ideal. E o fato de ele querer já me incomodou mais. Cheguei a me sentir pressionada, mas, depois de muita conversa, enxergamos os pontos um do outro e procuramos um meio termo”, diz Fernanda.

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    Felipe e Fernanda chegaram a um acordo: esperar mais um pouco para pensar em filhos


No caso deles, esperar mais um pouco foi a solução. Mas Felipe já avisou: “Não gostaria de esperar demais”. Ele conta que já imaginava que sua mulher iria preferir aguardar mais um tempo e agora cabe a ele esperar o momento certo surgir. "Eu me sinto preparado para ser pai e se ela não quisesse ter filhos, com certeza, comprometeria o nosso relacionamento. Nunca pensei na hipótese e acredito que seria difícil aceitar”, conta.

Para Margareth, as mulheres são mais flexíveis. “A maioria diz ‘não quero agora’. Elas aceitam dialogar e, geralmente, acabam cedendo”. Ao contrário dos homens que, de acordo com a especialista, não gostam nem de tocar no assunto. “Quando a decisão em não ter filhos parte deles, é um pouco mais complicado. Os homens são mais determinados e é muito comum eles preferirem não debater o tema”, informa Margareth.

Será que ele vai mudar de ideia?
"As mulheres costumam apostar nisso. Acreditam que, com o tempo, o marido pode mudar de opinião”, explica Margareth. Porém, a especialista dá uma dica: “Melhor não contar com isso. Vale dialogar e tentar encontrar um acordo para evitar frustrações”.  E isso é o que a pedadoga Silvia Helena Tavares, 34, procura fazer, embora seu marido responda com poucas palavras. “Estamos casados há três anos e cinco meses e ele diz que se sente inseguro para ser pai. Entendo, mas não quero desistir”, afirma. O assunto parece incomodá-lo, tanto que preferiu não dar entrevista. 

Para Luana Beretti, 26, representante comercial, a melhor tática neste momento é não insistir. Casada há três anos e oito meses com Wesley Beretti, 26, que tem a mesma profissão que ela, Luana tem certeza de que quer ser mãe. “Mas ele sempre acaba a conversa dizendo que não sabe se quer assumir essa responsabilidade. Que está muito bom só nós dois e, prefiro não gerar conflitos, pois ainda posso esperar", diz.

No entanto, Luana conta que o fato de seu marido não querer um bebê a preocupa. “Ele costuma ser muito decidido. E isso vem me incomodando, ao ponto de dizer a ele que quero ser mãe e, se ele não mudar de ideia, é melhor repensarmos a relação.". Em contrapartida, ele ameniza: “A única forma é irmos conversando e tentando um acordo e esperar para ver o que Deus prepara.”

Uma sonha em ser mãe, a outra não tem jeito com criança

  • Haroldo Saboia/UOL

    Nina e Mariana enfrentam um dilema: só uma delas sonha com a maternidade

Casadas há cinco meses, Nina Lopes, 39, DJ e Mariana Pizzolatto, 27, professora de inglês, também enfrentam o dilema. “Eu não tenho a menor vocação com criança e a Mari sonha em ser mãe desde pequena”, conta Nina.

Para Mariana, o fato de sua companheira não curtir a ideia, a decepcionou. “A mulher se torna completa quando tem um filho. Acho importante criar a sua própria família. E penso que a Nina pode mudar de ideia no futuro”, diz Mariana que já havia até escolhido um amigo querido para doar o sêmen para a inseminação.  

Porém, para a DJ, essa é uma decisão definitiva. Ela afirma que não consegue se enxergar mãe ou participando da criação de um filho com alguém. “Acho que filho combina com quem deseja tê-los, independentemente da orientação sexual. Se eu fosse heterossexual, também não desejaria ser mãe. Torço para que as leis de adoção sejam regulamentadas a favor de homossexuais e que todos os casais homoafetivos que tiverem esse desejo possam realizá-lo, amparados pela lei."