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Candidatos têm quatro minutos para provar que são bons partidos em encontro de solteiros

Márcia Pereira

Do UOL, em São Paulo

10/01/2012 07h00

Há quem diga que, mesmo com a ajuda tecnológica das redes sociais, nunca foi tão difícil conseguir um amor. Aliás, o ritmo de vida que chegou junto com a tecnologia, a facilidade do contato à distância e a priorização das relações de trabalho, em detrimento das sociais, afastam ainda mais as pessoas. Talvez, por essas razões uma modalidade de paquera tem conquistado a preferência de homens e mulheres: os encontros promovidos para solteiros (ou "speed datings").

Esse tipo de evento reúne solteiros, em bares ou restaurantes. Sentados em mesas para dois, eles têm exatos quatro minutos para mostrar que são bons partidos (em alguns encontros o tempo se estende para sete minutos). "Parece pouco, mas conheço várias pessoas que começaram a namorar assim", diz Felipe Padilha, sócio da empresa Speed Dating Brasil, de São Paulo, que conheceu a modalidade de encontro em Nova York. "Um casal que se conheceu na reunião que promovo se casará no fim do ano e me convidaram para a festa", conta Carlos Vycente, do Partner Clube, de Porto Alegre, que há dois anos organiza esses eventos.

Elaborado para facilitar a formação de casais entre membros da colônia judaica do oeste americano, no fim da década de 90, o "speed dating" foi descoberto por outras culturas e se espalhou pelo mundo. “Nos Estados Unidos, há encontros destinados a asiáticos, negros, atletas, pessoas que têm interesses em um determinado tipo de literatura, gays, entre outros", conta Padilha, que já reuniu mais de 1.500 pessoas, dos mais variados tipos, nos encontros que organizou em dois anos.  Segundo ele, depois do filme Hitch – Conselheiro Amoroso (2005), estrelado por Will Smith, o Brasil também passou a se interessar pela modalidade de paquera. No longa, a personagem da atriz Eva Mendes acompanha uma amiga a um desses encontros.

  • Rodrigo Paiva/UOL

    Daniel Alvim, fisioterapeuta de 33 anos; ele já foi a três eventos promovidos para solteiros


"Há empresas realizando 'speed datings' no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Brasília, Goiânia e Foz do Iguaçu”, afirma Márcio Figueiredo, sócio de Padilha. Ele próprio arrumou sua última namorada em um dos encontros que organiza.

Para Vycente, os encontros ajudam a criar laços.  “Na noite, as coisas são muito fugazes. Você dança com uma pessoa horas e, ao se despedir, nem sabe o nome dela", diz ele, que criou o Partner Clube com mais três amigos descasados. Ele indica o serviço para quem procura algo sério. "Se quiser uma relação mais consistente, o 'speed dating' é uma boa opção", diz o empresário de 54 anos.

Perfil do candidato
Apesar de as mulheres serem as que mais procuram esse tipo de programa —segundo Ivan Medeiros, coordenador dos eventos do Speed Dating Brasil, elas representam cerca de 70% das inscrições—, na hora de falar sobre o assunto ainda são reticentes. Elas têm medo de passar uma imagem de incompetência amorosa. "Não quero que achem que eu sou uma encalhada por vir aqui", disse, sem se identificar, uma participante de São Paulo. "Os homens se aventuram e se soltam mais", conta Medeiros.
 

Depoimentos de candidatos

"Já vim a três encontros e gosto bastante. É como um programa com amigos. Conheci pessoas interessantes e costumo sair com elas. Mas ainda não pintou uma namorada. Procuro deixar a mulher à vontade. Brinco, se percebo que ela está tensa", Daniel Alvim, fisioterapeuta, 33

“Acho uma alternativa muito boa às redes sociais. E em uma hora conhecemos 15 pessoas. Ficamos cara a cara e é mais difícil mentir. Apesar da descontração, o assunto é sério. Não é como na balada, que tudo pode ser camuflado. Atualmente, as pessoas têm mais dificuldade de relacionamento, pois não têm tempo. Elas têm se dedicado mais ao trabalho e a ganhar dinheiro", Milton da Silva, neurolinguista, 37

"Sou tímido e esse tipo de encontro é melhor para abordar uma mulher. Sinto que estamos no mesmo barco e não fico constrangido de perguntar nada. Depois de um 'speed dating' já saí com garotas. Na balada nunca consegui", Mauro*, funcionário público, 38

"O tempo é mais do que suficiente para saber se rolou química ou não. E sempre procurei fazer a minha pergunta eliminatória, para me ajudar a julgar o candidato: ‘Qual a sua música preferida?’. Se o cara respondia axé, pagode ou sertanejo, já colocava ‘não’ na ficha", Juliana*, engenheira, 27

"O tempo é curto, quando se engata um papo legal, e longo, se a pessoa é desinteressante. Preciso aprender a administrar melhor isso, para não parecer que estou entediada. Achei isso meio constrangedor, quando tinha que enrolar o candidato até dar os 4 minutos", Patrícia, gerente de marketing, 34

Tanto elas ficam mais envergonhadas que, nessa reportagem, não há fotos posadas de mulheres. Muitas concordaram em dar seu depoimento, mas não querem ter seus rostos revelados. Já os homens, mesmo os tímidos, enfrentam com mais facilidade a situação. Expõem suas preferências, anseios e receios, sem pudor de não agradar as candidatas.

"A objetividade é essencial", ensina Medeiros, que está solteiro e cogita participar de um dos eventos que organiza para, quem sabe, arrumar uma namorada. “É importante dizer que o 'speed dating' não é exclusivamente para se conhecer uma mulher ou um homem para a vida toda. Primeiramente, ele ajuda na ampliação dos contatos", diz ele. "Por tabela, no meio desses novos amigos e amigas pode estar a sua cara metade."

Não existe uma profissão mais frequente entre os candidatos. Há de bancário a neurolinguista. Os profissionais liberais também são assíduos, como médicos, economistas, engenheiros, publicitários, entre outros. E os participantes têm entre 18 e 50 anos. Mas os encontros não misturam faixas etárias muito distintas (há encontros que reúnem mulheres entre 25 e 30 anos e homens entre 30 e 35 anos, por exemplo).

Como funciona um "speed dating"
Geralmente, os encontros reúnem 15 homens e 15 mulheres. “Como costumamos receber mais inscrições de mulheres, procuramos equilibrar”, afirma Medeiros. "O ideal é ter o mesmo número de homens e mulheres. Quando não conseguimos isso, preferimos ter mais homens". Basicamente, porque são as mulheres que ficam sentadas nas mesas e os homens que fazem o rodízio, quando toca o sino, anunciando que os quatro minutos expiraram e é hora de conhecer o próximo candidato.

Todo mundo fala com todo mundo. Durante as conversas, os participantes costumam anotar características importantes de cada um, em uma ficha cedida pela organização. Nesse mesmo papel, a pessoa indica se o candidato com quem acabou de conversar lhe interessou, talvez tenha lhe interessado ou não interessou. No dia seguinte, a empresa cruza os dados das fichas e, se algum par em potencial for detectado, os dois receberão o e-mail um do outro para que comecem a se comunicar. As datas das reuniões são divulgadas nos sites das empresas e é cobrada uma taxa de inscrição por evento, que varia de R$ 35 a R$ 70 (e pode incluir um drinque ou um jantar).  

 

*Os sobrenomes foram omitidos a pedido dos entrevistados