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Comparar filhos gêmeos só gera intrigas; veja se você estimula a competitividade

Comparações entre gêmeos geram brigas constantes entre irmãos e infelicidade de ambos - Thinkstock
Comparações entre gêmeos geram brigas constantes entre irmãos e infelicidade de ambos Imagem: Thinkstock

Katia Deutner

Do UOL, em São Paulo

03/03/2012 07h00

Sabe aquela história de vestir filhos gêmeos com roupas iguais e querer que ambos se comportem da mesma maneira? Os pais deveriam esquecê-la. Cada criança tem a sua personalidade e, embora nascidos no mesmo dia, irmãos são bem diferentes. Segundo especialistas, comparar as crianças ou elogiar uma apontando o erro da outra são os piores erros na educação de gêmeos --e também entre irmãos de idades diferentes. No entanto, com filhos da mesma faixa etária fica mais evidente.

“Comparações sempre existirão, mas é importante que os pais fiquem atentos para que não sejam frequentes ou provoquem demérito pelo que um dos filhos não fez ou por suas dificuldades”, diz a psicóloga Ana Canosa. Observar uma resolução interessante e comentar o fato ou até mesmo a maneira que um se organiza ou se esforça para resolver seus conflitos não prejudica, desde que seja uma via de mão dupla. “Ambos os filhos têm qualidades diferentes que podem ser usadas como modelo. O grande problema é quando os pais massacram um deles, comparando-o com o outro, principalmente em momentos de conflitos ou de raiva”, diz a psicóloga.

Apontar um favorito ainda pode gerar um sentimento de exclusão, agregar poucos valores à educação e criar rivalidades desnecessárias. “No futuro, compromete a autoestima, a relação entre os irmãos e a cria estereótipos que limitam o desenvolvimento pleno”, afirma Blenda de Oliveira, psicoterapeuta de adolescentes e crianças.

“Seu irmão é mais inteligente, por que não se espelha nele?” ou “seja mais educado, como seu irmão” são típicas frases que devem ser excluídas dos hábitos dos pais. “Cada um tem a sua maneira de ser e a certa não existe. Os sentimentos negativos tendem a aumentar. Há uma grande chance de a criança que sempre está sendo comparada se sentir sem valor no futuro, criando uma ideia de que, só sendo igual ao irmão, é possível ser querido”, diz a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano.

Além de não conseguir formar a sua própria personalidade, a criança exposta frequentemente a comparações ainda não consegue reconhecer as qualidades dela e passa a se sentir fracassada, justamente pela falta de crença que tem em relação a si mesma. “Sem contar, é claro, que pode se tornar uma pessoa invejosa, pois nada do que tem é bom. Claro que este é um resultado de uma situação extrema e depende também da maneira como cada um reage frente a essas comparações”, diz a psicopedagoga Ana.

Todos são prejudicados
Se a longo prazo esses conflitos geram problemas psicológicos, a curto podem causar brigas constantes entre os irmãos. É possível que a criança que se sinta diminuída use a raiva como manifestação de protesto, seja cruel e sarcástica ou viva em constante ansiedade. Outras tendem a se fechar, adequando-se a um padrão mínimo de exigência dos pais para não serem mais incomodadas com as comparações e se afastam cada vez mais do envolvimento afetivo e convivência aberta e espontânea com a família. “Até mesmo os que na comparação são vistos de maneira mais positiva carregam a exigência de cumprir as expectativas, encontrando dificuldades de lidar com os erros, fracassos e com tudo que vá contra o que é esperado”, segundo Blenda de Oliveira.

Independentemente da atitude dos pais, é comum a competitividade entre os gêmeos, afinal, disputam o amor paterno e materno. “Os irmãos são nossos primeiros rivais e com eles treinamos o que vamos viver no mundo fora do sistema familiar. Não há qualquer contraindicação nisso, mas se os pais se posicionarem a favor de um ou de outro se inicia algo que compromete a relação entre os irmãos”, completa Blenda.

Lado dos pais
Mas o que os pais podem fazer ao perceber que o parceiro está fazendo comparações em demasia? O melhor mesmo é chamar para uma conversa, longe dos filhos, em tom calmo e assertivo, sem críticas, raiva e cobranças ou colocando toda a responsabilidade no outro.

“O casal precisa ter liberdade para conversar e mostrar o prejuízo que está sendo gerado para a criança. Se o pai ou a mãe não conseguem ter essa espontaneidade, de falar com o cônjuge sobre assuntos cruciais relacionados ao bem-estar dos filhos, acredito que as comparações estão sendo feitas para sinalizar uma crise maior no relacionamento conjugal”, explica Blenda.