Topo

Entenda o que há por trás das picuinhas do divórcio e o quanto elas são prejudiciais

Usar todos os artifícios possíveis para atingir o "ex" ou a "ex" após o divórcio não traz nada de bom para você - Stefan/UOL
Usar todos os artifícios possíveis para atingir o "ex" ou a "ex" após o divórcio não traz nada de bom para você Imagem: Stefan/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

10/04/2012 07h00

O rompimento de um casal, invariavelmente, inclui sofrimento, raiva, mágoa. Afinal, é frustrante ver que os sonhos de uma vida a dois não deram certo. Alguns divórcios são amistosos; outros, apenas civilizados em nome dos filhos ou do amor próprio. Porém, não são poucas as separações que envolvem tantas brigas que nem mesmo as decisões judiciais têm o poder de selar a paz. Mas por que homens e mulheres que partilharam gargalhadas, tristezas, lençóis e projetos se tornam inimigos? E, pior, passam a criar problemas em relação a tudo: visitas aos filhos, disputas que vão de objetos insignificantes a bichos de estimação, regulam dinheiro, infernizam o novo romance do outro.

Uma das explicações é que a sensação de fracasso incomoda, e muito. "As pessoas não sentem que tentaram de tudo, não veem o fim que elas mesmas estão impondo. Simplesmente acham que não aguentam mais e terminam o relacionamento. Esse sentimento do 'inacabado' é que transforma o casal em inimigo, pois é cheio de ressentimentos e incompreensões", afirma a mediadora de conflitos Suely Buriasco, que recomenda, antes de ir a um tribunal, que o casal procure ajuda psicológica para entender o que de fato desejam e como lidar com a crise.

Embora haja uma impressão cultural de que as mulheres são mais encrenqueiras, Suely Buriasco, que atende vários casais em crise, afirma que, independentemente do sexo, vai criar mais problema quem tiver mais dificuldades de adaptação à nova vida. "Normalmente, a pessoa não absorveu bem a situação”, diz. Para a psicóloga Angélica Amigo, a mudança de estado civil inclui medo e incerteza diante de uma nova vida, a de descasado. "Não é fácil reinventar-se. A pessoa precisa aceitar a nova identidade de solteiro, o que provoca um balanço sentimental", afirma.


Filhos viram moeda de troca
As especialistas são unânimes em afirmar que o golpe mais baixo que o ex-casal pode desferir é tratar os filhos como moeda de troca. Eles ficam no meio do fogo cruzado, desamparados. Há casos, por exemplo, em que um pede a guarda das crianças apenas para agredir o outro. Quando a conquistam, nem sempre proporcionam o melhor para a criança (que teria mais qualidade de vida se estivesse com a outra parte): relegam seus cuidados a babás, matriculam em escolas de período integral, dedicam pouca ou nenhuma atenção... Existe até quem pressione a obtenção da guarda, mesmo ciente de que tem chances mínimas de consegui-la, apenas para chatear. Não percebem que, na tentativa de magoar o outro, acabam ferindo gravemente as emoções dos próprios filhos.

Falar mal do ex-marido ou da ex-mulher é outra manobra traiçoeira. A atitude pode acarretar problemas terríveis aos filhos na vida adulta, como a dificuldade de estabelecer vínculos. "Denegrir a imagem do pai ou da mãe é a pior forma de detonar emocionalmente uma criança ou um adolescente", diz a psicóloga Raquel Fernandes Marques. "Eu atendo vários pacientes que sofrem com isso e sempre tento explicar que quando a mãe diz ‘seu pai é um inútil’, por exemplo, que ela se refere somente ao ex-marido dela e que tal desabafo não deve ser levado ao pé da letra", conta ela, ressaltando que é preciso preservar as figuras paterna e materna.

Segundo a psicóloga Sandra Samaritano, não é raro que homens e mulheres apelem para outros tipos de reprimenda. "As brigas podem acontecer por causa da agenda de visitas, quando a guarda é compartilhada ou existe algum tipo de acordo. Um se recusa a trocar o fim de semana, diante de um imprevisto, só para irritar o outro. E quem sai perdendo são os filhos", afirma.

Para Sandra, outro tipo comum de manifestação é a disputa por bens, que nada mais é do que uma tentativa de chamar a atenção do outro e puni-lo, ainda que inconscientemente. "Mesmo quem tem condições financeiras de pagar uma pensão prefere brigar no tribunal por pirraça", diz. A psicóloga Angélica Amigo diz que o ideal seria as pessoas tomarem decisões importantes de modo racional, e não impulsivo, movidas pela raiva. "Qualquer resolução tomada com os nervos à flor da pele pode trazer consequências desastrosas. Infelizmente, na hora da separação isso acaba atingindo aluguel, mensalidades escolar e outras despesas que têm a ver diretamente com o bem-estar dos filhos".

Triângulo amoroso imaginário
Angélica diz ainda que quando uma terceira pessoa surge no enredo –um novo namorado ou namorada– é comum que as coisas se confundam. "Ciúmes, saudades, despeito e outros sentimentos guardados podem vir à tona", diz. Para a psicóloga Raquel Fernandes Marques, a principal dificuldade é se desvincular do sentimento de posse. "É perfeitamente humano sofrer um aperto no coração ao saber que o "ex" ou a "ex" se envolveu com alguém. Isso mexe com a autoestima, porque, ainda que não tenha consciência disso, a pessoa se sente preterida e acha que toda a história de amor que viveu não valeu nada".

O sentimento de rejeição pode se transformar em ódio; o ódio em boicote e o boicote em autossabotagem. É mais fácil detestar o outro do que a si mesmo –ou seja, ao culpar o outro pelo fim da relação, a pessoa não reflete sobre as próprias emoções nem faz uma avaliação sincera sobre sua parcela de responsabilidade pelo fracasso do relacionamento. E o gasto de energia para irritar um 'ex' impede a pessoa de seguir em frente e prestar atenção na própria vida.