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Pessoas com hábitos noturnos têm mais dificuldade em manter um relacionamento

Dono de uma pizzaria, Alessandro só conseguiu ter um bom relacionamento porque Letícia ia visitá-lo - Fernando Donasci/UOL
Dono de uma pizzaria, Alessandro só conseguiu ter um bom relacionamento porque Letícia ia visitá-lo Imagem: Fernando Donasci/UOL

Daniel Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

04/05/2012 07h00

Ficar acordado até de madrugada, valorizar o sono da manhã e levantar tarde são hábitos daqueles que o dicionário define como notívagos. Eles se sentem mais dispostos e produtivos conforme avança a madrugada e evitam compromissos pela manhã sempre que podem. Encontrar empregos que se encaixem em seu estilo de vida é um desafio, por isso é comum que tenham profissões com possibilidades de horários mais flexíveis. Já quando se fala em relacionamento, a coisa complica. Como manter a harmonia da relação quando o casal é formado por um notívago e outro de hábitos diurnos?

Alessandro Molina Ferreira, 41 anos, é proprietário de uma pizzaria na zona norte de São Paulo há 16 anos, negócio condizente com seu estilo de vida. A estratégia deu certo, mas o empresário passou a ter algumas dificuldades pessoais. “Cheguei a conhecer algumas mulheres e ter rolos", diz ele. "Mas era muito complicado lidar com a cobrança de estar presente em situações sociais, porque quando as pessoas estão se divertindo, estou trabalhando”. Até encontrar Letícia Montanari, 32, com quem é casado há nove anos. “As mulheres com quem tentei me relacionar antes dela não se esforçaram para compreender meu ritmo, meus horários trocados. Ela foi companheira desde o começo”, conta Alessandro. Letícia até vê vantagens na relação. "Às vezes as mulheres são muito chatas. Cobram muito dos maridos e não sabem aproveitar os momentos juntos”, diz. Para o casal, o mais importante é saber aproveitar o tempo sem brigas. “Já fico pouco tempo com meu marido, então prefiro aproveitar para namorar e me divertir”.

Para Letícia, o que contribuiu para a segurança do relacionamento foi o marido sempre permitir sua presença. “O respeito pelo estilo de vida sempre existiu, e é isso que sustenta o nosso amor depois de nove anos”, diz ela. Há quatro meses, o casal teve a primeira filha, Allegra. “Eu posso me organizar para estar mais perto da minha filha durante o dia e participar das primeiras etapas do desenvolvimento”, diz o pai de primeira viagem. Para ficar mais tempo em casa e perto da família, o empresário agora aboliu o escritório e faz todo o trabalho burocrático em casa.

  • Leandro Moraes/UOL

    Solteira, Sabrina Ayres diz que seus horários atrapalham na hora de ter um relacionamento


Problemas em relacionamentos
A tecnóloga em marketing Sabrina Ayres, 31, está solteira e diz que ficar acordada até tarde atrapalha na hora de ter um relacionamento. “Sou muito mais produtiva de madrugada. Minhas melhores ideias surgem à noite. É muito difícil um homem compreender que sou assim”, diz.

Ela já teve experiências boas e ruins em relacionamentos passados. “Já tive um namorado que compreendia totalmente meu estilo, apesar de não ser notívago", diz. "Mas também já fui muito criticada por um parceiro que não entendia que às onze da noite eu começava a ficar agitada e querer sair, enquanto ele já estava se preparando para dormir”. Sabrina  confessa já ter se forçado a dormir mais cedo para ser companheira. Mas, para ela, o parceiro perfeito seria aquele que compartilha de sua preferência pela noite e entende seus hábitos. Como todo notívago, ela sabe que flexibilidade é essencial.

Jogo de cintura é fundamental
A dona de casa Bárbara Torres, 35, acorda às 6h para levar as filhas Isabela, 12, e Laura ,11, para a escola. Volta para casa e para a cama ao lado do marido, o funcionário público Anderson Estevo de Oliveira, 36. Em alguns dias da semana, a mãe almoça ao lado das filhas por volta das 13h. Em outros, espera o marido acordar já quase no fim da tarde. “Preciso ter muito jogo de cintura para não ser uma mãe ausente para minhas filhas ou uma mulher ausente para meu marido”, diz Bárbara. 

  • Fernando Donasci/UOL

    Bárbara só consegue tomar "café da manhã" com o marido, Anderson, às 16h, quando ele acorda

Anderson começou a trabalhar à noite há dez anos e não pretende parar tão cedo. Para o relacionamento funcionar é preciso que o casal esteja disposto e seguro do amor um pelo outro. Bárbara conta que os horários trocados afetam inclusive os fins de semana e dias de folga. “Muitas vezes, eu o acordo aos domingos para irmos comer fora. Vamos a um restaurante com as meninas e quando chegamos em casa, ele vai dormir de novo", diz ela. "Mas é um jeito de driblar a situação e manter a família unida”. O mesmo acontece nas férias. Quando o marido se acostuma com um horário diferente, já é hora de voltar ao trabalho e à rotina noturna.

O esforço parece valer a pena. Para Bárbara, o estilo de vida do marido gera adaptações, mas não problemas. A cobrança da família e dos amigos chega a ser maior do que os problemas do casal. “Amo meu marido e quero estar com ele e com minhas filhas”, afirma.

Hábito ou personalidade?
Para a psicóloga Renata Almiento, ser notívago é uma questão de hábito. “O organismo pode se acostumar com os horários tradicionais. É uma questão de disciplina”, afirma. Segundo ela, as pessoas que procuram um relacionamento com alguém de hábitos diurnos têm mais facilidade de mudar os horários, já que é socialmente mais aceitável estar acordado durante o dia e dormir à noite.

A vida social é importante para os casais, como estar em festas de família, sair com amigos para bares e restaurantes ou até mesmo assistir ao jogo de futebol na casa de alguém. Essas atividades são prejudicadas nesses tipos de relacionamento e o parceiro precisa estar disposto a enfrentar as privações. Ao mesmo tempo, os notívagos precisam estar cientes de que poderão sofrer alguma pressão por parte do parceiro. “É natural abrir mão de algumas coisas quando queremos estar com alguém. Basta saber até que ponto é possível fazer isso sem se ferir", diz Renata. "O notívago pode tentar dormir mais cedo e o parceiro, mais tarde, assim se cria um equilíbrio”.