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Gritaria? Chulé? Abusos? Veja como dizer a um colega de trabalho que ele está te incomodando

Simone Cunha

Do UOL, em São Paulo

10/07/2012 14h57

O trabalho não é uma extensão de casa. Há regras importantes a serem seguidas. E se você sabe disso, mas seu colega não, talvez seja a hora de dizer a ele, com muito tato, o que te incomoda. Se o comportamento dele apenas está em desacordo com o que você acredita, aceite. Mas se é desagradável a ponto de interferir no seu trabalho, é possível abrir o jogo. "Precisamos aprender a falar o que tem de ser dito com o sorriso no rosto”, afirma Célia Leão, consultora de etiqueta empresarial, de São Paulo. Para ela, as pessoas cometem um erro frequentemente: guardam o que deve ser falado e, de repente, explodem. “Os problemas devem ser resolvidos à medida em que aparecem”, diz.

UOL Comportamento selecionou dez situações que podem afetar o andamento profissional. Veja se seu colega se enquadra em alguma e saiba como agir. Aproveite os exemplos para uma autoavaliação. Já pensou que você pode estar sendo inconveniente?

Abusos

Imprimir um documento pessoal, tudo bem. Desde que isso não vire um hábito. Algumas pessoas sentem-se tão à vontade no ambiente profissional que acreditam que podem usar toda a infraestrutura --telefone, e-mail, impressora, copiadora-- à vontade para resolver pendências pessoais. Para a consultora de comportamento Doris Azevedo, de Porto Alegre, o ideal é fazer isso fora do trabalho. “É uma questão de ética e de educação. Se precisar usar a infraestrutura do ambiente profissional, comunique ao chefe e justifique a urgência”, explica.

Dê um toque: se o seu colega de trabalho anda exagerando a ponto de atrapalhar as suas tarefas, aja com diplomacia, mas deixe claro que a atitude é um abuso. "Interrompa a impressão dele e diga que você precisa imprimir um documento importante para uma reunião e que você observou que as páginas dele não têm a ver com o trabalho", diz Célia. Se o problema persistir, a chefia deve ser comunicada. "Esclarecer o que é permitido é tarefa das chefias e do RH", afirma Doris.

Atrasos

Respeitar a jornada de trabalho é regra básica, para patrões e empregados. É um dever cumprir os horários pré-estabelecidos e, não querer levar vantagem, marcando compromissos pessoais no horário do almoço que ultrapassam o tempo estipulado para a refeição. Saiba que, independentemente de o horário ser registrado –podendo gerar punições–, ele deve ser respeitado sempre.

Dê um toque: para você sair para o almoço depende daquele colega que nunca retorna no horário combinado? Reclame, mas com educação. E se o problema persistir, a especialista em etiqueta e comportamento Cláudia Matarazzo, de São Paulo, afirma que é melhor ir direto ao ponto: "Vamos trocar de horário, pois você demora demais e eu fico aqui morrendo de fome", diz. Se o atraso, no entanto, interfere no início de uma reunião ou apresentação em equipe, Célia sugere começar a atividade sem a pessoa. Se o líder questionar, responda que o colega está atrasado, mas sem tom de fofoca. "Neste caso, cabe à chefia resolver a questão".

Mau cheiro

Mau-hálito, suor excessivo, chulé, gente que não toma banho ou exagera no perfume. Não importa. Qualquer uma dessas situações incomoda. Manter a higiene é fundamental, o que não significa ser reconhecido por aquela fragrância que toma conta do ambiente. Escovar os dentes após o almoço, renovar o desodorante, não tirar os sapatos e colocar os pés em cima da mesa são regras de educação que precisam ser levadas a sério. "São situações delicadas, mas infelizmente bastante frequentes", diz Doris.

Dê um toque: Cláudia Matarazzo afirma que levar o problema à chefia é exagero. "Acho melhor avisar a pessoa, de forma discreta, dizendo que ‘estão comentando’ e ela precisa ficar mais atenta", afirma. Se a pessoa em questão não é a próxima o suficiente para que você toque no assunto, o chefe deve fazer isso. De acordo com Doris, a pessoa mais indicada para abordar o assunto é o responsável pelo RH. "De qualquer forma, é importante que alguém fale e, neste caso, sensibilidade é fundamental. Nunca exponha o colega ao ridículo". Que tal mencionar uma situação parecida, ocorrida com você ou algum conhecido (ainda que não seja verdade)? Isso facilita a conversa.

Celular inconveniente

Não há nada de errado se alguém é fã da música  "Eu Quero Tchu, Eu quero Tcha" e decidiu que ela será o toque do seu celular. Porém, não é educado a cada chamada todos os colegas terem de ouvi-la. “No ambiente corporativo, o celular deve ser mantido no modo silencioso ou de vibração", explica Célia. Mas se o seu colega não sabe disso e o telefone dele vive te desconcentrando, comente com ele.

Dê um toque: seu colega foi ao banheiro e deixou o celular em cima da mesa e aparelho tocou a música inteira e ele não veio atender. Assim que ele retornar, diga o que houve e peça para ele baixar o volume. "Diga ao dono do telefone que o toque lhe incomoda e tira a sua concentração", afirma Cláudia. E nada de questionar o gosto musical dele ou prolongar muito o assunto. Tenha objetividade e delicadeza para falar.

Roupas inadequadas

Cada empresa tem o seu grau de tolerância quando o assunto é moda. E a melhor maneira de se manter elegante é apostar no bom senso. "Se vista bem e de acordo com a profissão", explica Doris. Quando o local é descontraído, funcionários às vezes exageram. Ainda que o local seja informal, trabalhar de minissaia ou bermuda é inadequado. "Isso queima a imagem de qualquer profissional", afirma Célia.

Dê um toque: se a pessoa em questão for um colega íntimo e você tem a intenção de ajudá-lo, alerte. "Diga que estão comentando e que isso pode lhe atrapalhar", diz Célia. Caso trate-se de algum funcionário seu, oriente. Sem fazer julgamentos (como dizer que a saia é vulgar ou a camisa é horrorosa), explique que a roupa não é a indicada para o tipo de atividade exercida. Se a pessoa não for tão próxima e não afeta em nada o seu trabalho, é melhor não se meter. Afinal, uma saia curta demais de uma outra pessoa não te prejudicará em nada.

Desabafos

A vida é cheia de altos e baixos e ninguém está imune a términos de relacionamento, brigas familiares, cheque devolvido. Com problemas ou não, o trabalhador tem de pegar no batente. Desabafar com um colega é normal. Na teoria, vida profissional não se mistura à pessoal. Na prática, porém, é difícil disfarçar uma grande preocupação. Ainda que você tenha compaixão pelo colega e queira ajudá-lo, durante o expediente, é preciso manter a postura. "O melhor é conversar depois do horário", diz Célia.

Dê um toque: se em um dia específico o colega decide se abrir com você, ouça. Se o papo se prolongar, sugira almoçarem juntos ou saírem após o horário para conversar com mais privacidade. Entretanto, se o colega enxerga em você um psicólogo e frequentemente interrompe o seu trabalho para desabafos, é melhor cortar o assunto. Célia explica que é possível dizer: “Adoraria te ajudar, mas não posso agora. Depois do expediente a gente conversa, tudo bem?".

Gritaria

Gritar (ao vivo ou ao telefone) incomoda em qualquer situação. Muitas vezes, quem fala alto não percebe que está exagerando. “Algumas nacionalidades e seus descendentes têm o tom de voz mais alto. Outros berram porque acham que assim serão escutados. Outros, por não terem razão, alteram o tom de voz. Os motivos são inúmeros, mas a solução é uma só: diminuir o volume”, explica Doris.

Dê um toque: sem muita frescura ou papos longos, demonstre no momento da gritaria o quanto isso está te atrapalhando. "Faça um gesto e peça para o colega falar mais baixo", diz Claudia. Mas sem agressividade e cara feia. Não resolveu a situação? Repita o gesto. A pessoa continua? Sem que outras pessoas notem, converse: diga que atrapalha o seu trabalho o tom de voz que ela usa. Mas não se preocupe: normalmente, a pessoa percebe que está incomodando no primeiro gesto que você fizer.

Fanatismo

Cada pessoa tem suas preferências. E isso fica ainda mais claro quando o assunto é religião e futebol. Porém, local de trabalho não é para tentar converter o colega que senta ao lado ou ficar provocando o torcedor de um time diferente.

Dê um toque: um dia, seu colega lhe traz um folheto da igreja. No outro, deixa a canção tocando em volume baixo. Daqui a pouco te convida para um culto. “É melhor cortar. Diga que respeita, mas que já tem suas próprias convicções”, afirma Célia. Se o assunto for futebol e aquele colega fanático não para de te chamar para fazer piadinhas, retribua com um sorriso amarelo e diga: "Que legal! Só que agora estou muito ocupado".

Fofoca

Evitar fofocas no ambiente de trabalho é um exercício. Sempre surge um comentário aqui, outro ali. Porém, é importante não alimentar esse vício. “Afinal calúnias e fofocas vão e voltam, num efeito bumerangue”, diz Doris. Se você já aprendeu essa lição e não se envolve em futricas, ótimo. Mas é importante, também, não ficar ouvindo histórias que não vão te levar a lugar algum. 

Dê um toque: para Célia, a melhor maneira de não atrair um fofoqueiro é não dar ouvidos a ele. Se der para interromper, faça isso, sem medo de que a pessoa note. “E se ele te pegar em um momento em que não dá para se esquivar, ouça, não comente nada e não passe adiante”. A especialista diz que ignorar é o melhor antídoto contra o problema. Se ainda assim ele insiste em te procurar para esse tipo de papo, Doris afirma que abordar diretamente o fofoqueiro e questionar o que falar da vida alheia acrescerá a sua vida, algumas vezes, surte um efeito inibidor. Vale tentar.

Interrupções desnecessárias

Usar a internet para o trabalho é a regra. Portanto, nada de bater longos papos no MSN com sua melhor amiga ou ficar postando mensagens no Facebook. Pior ainda é buscar vídeos engraçados no Youtube ou acessar sites de fofoca para conferir os próximos capítulos da novela. No trabalho, a Internet deve ser utilizada como instrumento de pesquisa. “Seu foco no trabalho deve ser o trabalho”, afirma Doris.

Dê um toque: Infelizmente, o colega que senta na baia ao lado não se conscientizou disso e, para piorar, não te dá sossego e toda hora te chama para conferir algo "muito legal" na rede. Célia diz que a melhor maneira é demonstrar que não está gostando e não quer participar. “Pergunte se tem algo a ver com o trabalho, pois está muito ocupado naquele momento”. De acordo com Cláudia, você pode usar um tom de cumplicidade, mas deve deixar claro que não quer ser incomodado. E para reforçar ainda mais a sua postura, ao final do expediente, vale dar uma cutucada: “O que você queria me mostrar naquela hora? Agora que encerrou o expediente posso te dar mais atenção”.