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Pais evitam brigas entre irmãos com medidas simples; descubra se você age bem

Mesmo sem perceber, pais podem estimular a competição entre os filhos, o que gera as brigas - Thinkstock
Mesmo sem perceber, pais podem estimular a competição entre os filhos, o que gera as brigas Imagem: Thinkstock

Simone Sayegh

Do UOL, em São Paulo

21/07/2012 08h00

Administrar o relacionamento entre os filhos, seus desejos e, principalmente, seus humores não é fácil. Muitas vezes, os pais sentem-se culpados por não conseguir manter a paz entre os irmãos, por mais que tentem. "Brigas entre irmãos são naturais, mas conflitos violentos podem desencadear ansiedade, depressão e autoestima baixa, independentemente da posição de vítima ou agente dos atritos", explica o psiquiatra Alfredo Castro Neto, ex-presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria da Infância e da Adolescência no Rio de Janeiro. Segundo ele, as brigas ocorrem porque existem sentimentos ambivalentes nos filhos, que na maioria das vezes não são devidamente percebidos pelos pais.

"Há crianças que chegam a desenhar o berço do irmão explodindo, mas, quando perguntamos para os pais sobre essas emoções, eles as desconhecem completamente", explica Neto. As diferenças de opinião, os questionamentos e as discussões são normais entre irmãos, porque, além de amor, o relacionamento envolve rivalidade, ciúme e raiva. O mais importante é a forma como essas emoções são canalizadas, porque as brigas dentro de uma família funcionam como um treino para a vida em sociedade.

"É importante reconhecer que família não é aquela maravilha que aparece em comerciais de televisão. Há momentos de bom convívio, mas é um universo complexo, que requer cultivo no dia a dia", afirma a psicóloga clínica Natércia Tiba, autora do livro Mulher sem Script (Integrare Editora) e colaboradora no livro "Quem Ama, Educa!", do psiquiatra e educador Içami Tiba. 

É meu!
A maioria das causas das rixas entre irmãos se resume à antiga briga pelo poder. Quando são crianças, irmãos disputam tudo, desde a atenção dos pais até a posse dos brinquedos. Essa competitividade tem, frequentemente, o aval dos responsáveis. "Sem perceber, os pais fazem muitas comparações entre os filhos e acabam destacando aquele com quem têm mais afinidade", explica Neto. Mesmo não depreciando diretamente nenhum, ao ressaltarem constantemente as qualidades do outro já fazem uma exclusão inconsciente. E elogios forçados não revertem esse quadro. "A criança precisa de elogios verdadeiros, porque sabe perfeitamente quando os pais estão mentindo". Deve-se evitar rótulos como filho "problema" ou "revoltado", que só reforçam a baixa autoestima.

Grande parte das vezes, a situação de desequilíbrio começa no nascimento do irmãozinho. De acordo com a psicopedagoga Maria Teresa Messeder Andion, diretora e membro do conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é natural que a mãe dedique mais tempo ao bebê, deixando o primogênito esquecido momentaneamente. "Quando as pessoas vão visitar um bebê nem reparam no mais velho", diz Maria Teresa. Mas pode acontecer de o filho esquecido dar sinais de que alguma coisa não anda bem. São comuns sintomas como tristeza, apatia, insônia, enurese noturna, falta de apetite e agressividade. "Ele quer chamar a atenção de todos, pois sente que perdeu o trono", explica.

O comportamento agressivo nas crianças pequenas é natural, muitas vezes ela morde ou bate no coleguinha, babá ou professora por pura demonstração de ciúmes. Com crianças mais velhas ou pré-adolescentes, é possível perceber o ciúme do irmão na rebeldia contra o aprendizado, a ponto da raiva ser descontada nos colegas e professores. "São os aspectos afetivos e emocionais demonstrados na questão cognitiva", explica Maria Teresa.

Quando adolescentes, os irmãos tendem a brigar menos entre si, principalmente se os pais dão conta de reprimir situações de discórdia antes que elas aconteçam, e conseguiram estabelecer um canal de diálogo com os filhos. Caso isso não ocorra e eles ainda tenham questões emocionais importantes para resolver, podem perder a concentração nas tarefas e não cumprir com as obrigações. "Tudo passa a ser extremamente chato para o adolescente, ele se faz de vítima para chamar a atenção dos pais e coloca a culpa no irmão menor", explica Maria Teresa. 

Quando a briga é entre irmãos adultos, a chance de rompimento é muito maior, porque a influência dos pais diminui consideravelmente. "Os pais podem ajudar a ver a situação sob outros ângulos, mas, nesse caso, sempre cabe aos filhos a decisão", explica Natercia.

Esse "jogo de cintura" dos pais depende do quanto eles verdadeiramente conhecem da personalidade de cada filho, incluindo pontos fracos e fortes. "Quando os filhos ainda são crianças, os pais tendem a tratá-los como se fossem todos iguais", explica Neto. "Os passeios acabam sendo para toda a família, mesmo que a menina de sete anos odeie ir ao parque aos domingos", explica. Tratar filhos diferentes da mesma maneira impede o nascimento de uma cumplicidade que só a relação intima e individual pode trazer.

Punir ou não punir?
Quando é a hora de interferir nas disputas entre irmãos? Para Natércia, o termômetro é o grau de sofrimento deles e da família. "Quando as disputas levam a agressões verbais ou físicas, é hora de impor limites". De acordo com a psicóloga, muitos pais acreditam que o laço de sangue por si só é motivo de amizade entre irmãos, e acabam não interferindo em situações desrespeitosas. Exatamente nesses casos cabe a noção dos limites.

A punição, no entanto, também deve ser muito criteriosa. Não adianta bater ou castigar severamente um filho agressor, porque, assim, os pais estão reafirmando um mau comportamento. Sob ameaça, ele para; quando os pais viram as costas, ele repete o comportamento. "Pais que usam castigos severos para deter a agressão de uma criança tendem a ter filhos que apresentam uma grande dose de agressividade na escola e nas brincadeiras fora de casa", explica Alfredo Castro Neto.

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    Relações intensas nunca serão pacíficas, mas os desentendimentos ajudam no amadurecimento


Por esse motivo, o psiquiatra acredita que os pais devem dar às crianças oportunidade de construir suas próprias justificativas internas e desenvolver um quadro permanente de valores. Além disso, cabe aos pais evitar o desenvolvimento de situações potencialmente explosivas, separando as crianças antes que elas comecem a brigar. No entanto, se uma briga mais grave ocorrer, os pais não devem assumir a postura "deixe que eles se entendam". 

Os pais precisam ensinar aos filhos a perceberem os sentimentos envolvidos e a pensarem no bem-estar da relação. Devem intervir firme e controladamente e, se necessário for, aplicar um tipo de punição. No entanto, grande parte das vezes é impossível saber quem começou a briga, já que cada um apresentará a sua versão dos fatos. Nesse caso, Natercia recomenda que os pais penalizem todos os filhos envolvidos e não tentem decidir pelos relatos quem foi o culpado. "Se brigam pelo computador, todos devem ficar sem ele para pensar em uma maneira de compartilhar."


A paz é possível?
Segundo Neto, o melhor caminho é criar uma atmosfera acolhedora e de liberdade emocional dentro de casa. Se a criança fala abertamente aos pais que sente raiva do irmão, ela é imediatamente punida. No entanto, se diz que gosta da irmãzinha, recebe um abraço. "A mensagem é simples: a mentira é premiada enquanto a verdade é punida, e essas ambivalências reprimidas geram agressividade", explica. 

O melhor comportamento é entender a raiva e frustração do filho e, junto com ele, transformar os sentimentos. Além disso, a atenção exclusiva beneficia tanto os pais, que passam a conhecer cada filho individualmente, quanto os filhos, que conseguem estabelecer, naquele momento de exclusividade, uma relação direta e única, sem a influência do comportamento dos irmãos ou de alguma competitividade presente na família. "É muito importante que os pais programem passeios com um dos filhos de cada vez para atender a vontade de todos", explica. Além disso, é importante não forçar os filhos a fazerem tudo juntos. É normal que tenham gostos e turmas de amigos diferentes.

Outra atitude que minimiza problemas futuros é a inclusão. Cabe aos pais trazerem o irmão mais velho para participar das atividades e rotinas do novo membro da família. "Ele deve ir ao médico, participar dos exames, dar opinião na cor e modelos das roupinhas, na escolha do nome, ajudar hora do banho, propiciar leituras, contos etc.", sugere Maria Teresa. O mais velho deve se tornar um participante ativo da nova relação com o bebê para não se sentir excluído. 

Então é possível ter paz? Difícil. "Relações intensas dificilmente são estáveis e calmas a ponto de serem pacíficas", afirma Natercia. Normalmente, irmãos que nunca brigam mantém uma relação mais superficial. Dentro de uma família saudável, os desentendimentos sempre acontecerão porque ensinam a cada envolvido a pensar diferente e a superar limites. Se um dos filhos se sentir desrespeitado, todos devem pensar como a relação pode ser melhorada, porque as relações familiares são um grande treino para a vida. "Os intolerantes em casa tendem a ser assim socialmente, portanto, ajudar os filhos a desenvolver formas de lidar com a competição, ciúme, rivalidade e diferenças é um bem não só para ele, mas para a sociedade."