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Pais fazem "vaquinha" e até "viram a casaca" para a promover carreira de filho atleta

Ao lado do pai Rogério Menezes, a judoca Sarah Menezes exibe medalha inédita conquistada por ela - Leandro Milú/UOL
Ao lado do pai Rogério Menezes, a judoca Sarah Menezes exibe medalha inédita conquistada por ela Imagem: Leandro Milú/UOL

Giuliana Vilella

Do UOL, em São Paulo

12/08/2012 07h06

A rotina de Rogério Menezes teve uma transformação radical há pouco mais de duas semanas. Se antes a vida era tranquila ao lado de dona Olindina, em Teresina, capital piauiense, hoje a sua casa é constantemente visitada por jornalistas, ávidos informações sobre a história de sua família. "Não gosto muito de dar entrevistas, mas não reclamo também", disse, um tanto envergonhado, mas sem deixar de demonstrar certo orgulho.

O motivo dessa "invasão de privacidade" repentina é dourado. E foi conquistado com muito suor, vitórias, derrotas, quedas, vaquinhas e, agora, sorrisos. Rogério é pai de Sarah Menezes, 22 anos, a primeira judoca a conquistar uma medalha de ouro na história do Brasil em uma Olimpíada.

  • Leandro Milú/UOL

    Rogério Menezes exibe capa do jornal "O Dia" com sua filha Sarah beijando a medalha de ouro na capa

Alcançar este feito, porém, não foi tarefa das mais fáceis. Primeiro, ele relutou em ver a filha vestindo um quimono e lutando. "Eu não gostava da ideia de ela ser judoca quando era mais nova. Queria que fosse estudar. Mas aí comecei a ver que ela tinha jeito, então não tive mais como impedir. Ela é boa mesmo", conta.

O desafio seguinte foi fazer com que Sarah pudesse participar das competições. A solução foi uma tradicional "vaquinha" entre parentes e amigos. "A gente passava recolhendo dinheiro para ver quem podia ajudar. Mas agora esses tempos passaram e ela está bem, campeã. Foi duro, mas valeu a pena. E olha, vem mais por aí, viu?"

A história de Felipe Mendonça Cavicchioli ainda não rendeu a euforia de um ouro conquistado nos Jogos de Londres e carreata pela cidade, como a da judoca piauiense. Mas já tem um capítulo, no mínimo, inusitado.

Aos 11 anos, o garoto joga no time sub-11 do Corinthians como meia-direita. Sonha em fazer carreira como jogador, como a maioria da molecada. Porém, para conseguir ter um bom desempenho com a camisa do Timão, o menino teve de conter uma antiga paixão.

"Nós somos todos palmeirenses e ele tinha muita vergonha de sair do carro, depois do treino, com a camisa do Corinthians. Tive de conversar e explicar que, se quisesse ser realmente jogador, precisaria passar por essas coisas", relata André Cavicchioli, pai do garoto.

O empresário procura acompanhar todas as partidas do filho, seja no campo, seja no futsal, outra modalidade que também pratica no rival do alviverde. Ele não deixou de ser palmeirense por causa da possibilidade de ver seu menino seguir carreira no Corinthians. Mas, em alguns momentos, admite que se controla nos jogos.

"Vou aos jogos dele, torço por ele e pelos outros meninos porque os vejo sempre. Faço isso porque sou um jogador frustrado, então quero ver meu filho feliz naquilo que sonha. Faço o que eu queria que meu pai tivesse feito por mim quando era moleque. Mas não dá pra ficar gritando 'Timão, êô!'. Isso eu não consigo fazer."

  • Alex Almeida/UOL

    O palmeirense André Cavicchioli esquece a rivalidade com o Corinthians para apoiar o filho

Hoje, depois de cinco anos no clube do Parque São Jorge, Felipe tem praticamente uma rotina pesada de treinos durante a semana. "Mas tem de ir bem na escola também", afirma o pai.

Mais tranquilo em relação ao seu amor pelo Palmeiras, o menino já consegue assistir aos jogos do seu time com a camisa do alvinegro.

André sempre procura aconselhar o filho, dizendo que compartilha do mesmo sonho, mas que não quer nada forçado. Depois da celeuma com o filho mais velho, o pai agora só tenta fazer com que seu caçula de 4 anos entenda como funciona a relação amor x profissionalismo. "Ele vê o irmão com a camisa de um e torcendo pra outro e fica confuso."

Por sonho, pai tentou interromper crescimento do filho

Para os apaixonados por esporte a motor, o ápice não é a chance de disputar uma medalha olímpica ou uma Copa do Mundo, mas conseguir uma vaga na Fórmula 1. Para se ter uma ideia, em 2012, 32 pilotos estão disputando a GP2, categoria considerada de acesso à elite do automobilismo. Somente o campeão deve subir para a F-1. Em toda a história da categoria máxima do automobilismo (63 temporadas), menos de 1.000 homens conseguiram este feito: 835. Átila Abreu bem que sonhou em fazer parte do seleto grupo, mas um fator genético complicou este sonho.

  • Divulgação

    João Abreu, pai do piloto Atilia Abreu, trabalhou muito para realizar o sonho profissional do filho


"Ele cresceu demais", disse em um tom de lamentação o empreendedor João Abreu, pai do piloto. Atilia Abreu ia bem em uma das categorias que antecede à F-1. Em 2003, ele iniciou na Fórmula BMW alemã e terminou o campeonato em sétimo lugar. Um ano depois, fechou a temporada como vice-campeão, atrás apenas de Sebastian Vettel, atual bicampeão da F-1. A carreira seguia em alta, com a chance de ser um dos pilotos oficiais da Mercedes-Benz, em 2005.

"Quando ele estava na F-3 na Europa, ainda cabia no carro. Mas começou a crescer muito e parou quando chegou a 1,84m. Chegamos a tentar um tratamento para ele parar de crescer, mas não dava mais tempo. Acabou ficando alto demais para um carro de fórmula. Ficou três anos parado por isso. Foi uma frustração muito grande”, relembra o pai.

A partir de então, a missão do empreendedor foi dar força para que o filho continuasse seu sonho, mas em outra categoria. Hoje, aos 25 anos, Átila é um dos 32 pilotos que competem na Stock Car, categoria máxima do automobilismo nacional. "Sempre fiz de tudo para ver o Átila nas provas, desde levar aos treinos e corridas, até viajar para a Europa e voltar em quatro dias. Foi muito sofrido, suado, mas hoje sei que ele está feliz, que é o que importa", conta Abreu, pai de um rapagão de 1,89 m.