Topo

Periguetes despertam sentimentos contraditórios que vão da admiração à antipatia

Com autoestima elevada e segura de si, Suelen (Isis Valverde) é a periguete assumida de "Avenida Brasil" - TV Globo
Com autoestima elevada e segura de si, Suelen (Isis Valverde) é a periguete assumida de "Avenida Brasil" Imagem: TV Globo

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

23/08/2012 07h20

O sucesso da personagem Suelen (Isis Valverde) em “Avenida Brasil” confirma que as periguetes se tornaram um novo recurso da teledramaturgia para conquistar a audiência. Personagens como Teodora (Carolina Dieckmann), de "Fina Estampa", e Natalie Lamour (Deborah Secco), de "Insensato Coração", mostram que toda novela que se preza precisa ter uma garota bonita e gostosa sempre metida em roupas insinuantes e que usa a sensualidade para conseguir o que quer. Assumidas na intenção de chamar a atenção pelo aspecto físico, as periguetes das novelas e da vida real despertam paixão e ódio. 

A autoestima elevada, o jeito seguro e o fato de se sentirem à vontade na própria pele estão no topo da lista de motivos que as tornam tão incômodas. “Elas assumem uma postura escancarada de sedução e sensualidade. Isso choca, provoca antipatia, admiração ou até inveja”, afirma a psicóloga Miriam Barros. Para a psicóloga e psicopedagoga Eliana de Barros Santos, as periguetes são polêmicas porque questões sobre sexualidade, sobretudo a feminina, sempre incomodam. “A sociedade instiga a sensualidade declarada e depois cobra dessas mulheres um vestuário recatado”, diz Eliana.

Segundo a psicopedagoga, a periguete promete muito de sua sexualidade ao expor seus atributos físicos e se mostrar desejável abertamente, mas muitas vezes isso fica só na promessa. “Ela instiga as fantasias masculinas; realizá-las é outra questão”, afirma a especialista. Apesar do visual sexy, nem todas as periguetes são tão sexualmente ativas. “Elas gostam de seduzir, mas podem ter internamente desejo de ser ‘uma moça para casar’. Tais ambiguidades fazem parte de questões e conflitos psicológicos que qualquer ser humano tem”, diz a psicoterapeuta Cristiane Moraes Pertusi.

Essa mensagem dupla (mulher fatal/gostosona na aparência, mas recatada e "de família") acaba chocando e confundindo as pessoas. “Talvez essa estranheza se deva também ao machismo, ainda existente, que não admite que uma mulher seja provocante sem que isso signifique que ela tenha que aceitar qualquer proposta sexual”, diz a psicóloga Miriam Barros. 

  • TV Globo/ João Miguel Júnior

    Natalie Lamour (Deborah Secco), de "Insensato Coração" usava a sedução para ter fama e dinheiro

Como as pessoas também se vestem para se proteger, é possível que muitas periguetes tentem esconder a fragilidade emocional atrás das roupas e acessórios que gritam e mostram sua sensualidade. “À primeira vista podemos dizer que são mulheres que se gostam. Mas muitas vezes esse excesso de autoafirmação, com seus comportamentos sedutores repetitivos, encobrem uma baixa autoestima”, diz Cristiane Pertusi. A constante necessidade de confirmar seu valor é indício de um vazio muito grande a ser preenchido.

Julgamento constante
A periguete é autêntica e corre atrás do que quer –passeio em carrão, camarote vip, olhares de cobiça, namorado rico e/ou famoso. E é julgada. “É uma hipocrisia julgar e rotular essas mulheres, afinal muitos de nós desejamos essas coisas. Elas pelo menos assumem o que querem”, afirma a psicóloga Miriam Barros.

  • TV Globo/ Matheus Cabral

    Teodora (Carolina Dieckmann), de "Fina Estampa"

Ser periguete não é uma tarefa das mais fáceis, já que tanto julgamento e hipocrisia pode levar à perseguição e ao preconceito. “Como grande parte da sua autoestima é baseada na aparência, essas garotas correm o risco de desenvolver algum tipo de compulsão por exercícios físicos ou por cirurgias plásticas devido à busca constante de uma imagem perfeita. Além disso, podem ter sérios problemas emocionais se, por qualquer razão, perderem essa aparência”, diz Miriam Barros.

O tempo passa, a idade chega, a beleza muda. E a periguete pode se tornar uma vítima do próprio estereótipo. “Apostar somente nisso empobrece a vida de qualquer pessoa. Por isso, é importante que essas meninas possam pensar em investir também na aquisição de outros atributos, como educação, cultura, amizades e informação”, diz Miriam.

Sentimentos contraditórios
As especialistas acreditam que em uma época em que a mulher se destaca no mercado de trabalho, mas continua lutando pela igualdade de direitos, deparar-se com as periguetes é um retrocesso muito grande na evolução feminina -embora muitas ainda usem a sedução para obter algo, só que de forma mais sutil. “A comunidade feminina se vê desnudada com o comportamento das periguetes, por isso se inquieta”, diz Eliana.

Para a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi, os sentimentos contraditórios que as mulheres têm em relação às periguetes se deve ao fato de elas representam toda a libido e a sexualidade que muitas ainda hoje não conseguem expressar. “Elas estimulam a mulher a se perguntar como está sua sexualidade e sua sensualidade no cotidiano. Talvez a mensagem delas para as demais mulheres seja: cuidem e gostem de si, tenham objetivos, determinação e não se escondam”.