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Alcançar a felicidade é mais difícil para quem sonha com o impossível e teme perdas

Jovens, em especial, acreditam que serão plenamente felizes quando tiverem um excelente salário, um casamento harmonioso, um ou dois filhos bonitos, saudáveis e educados - Stefan/UOL
Jovens, em especial, acreditam que serão plenamente felizes quando tiverem um excelente salário, um casamento harmonioso, um ou dois filhos bonitos, saudáveis e educados Imagem: Stefan/UOL

Veridiana Mercatelli

Do UOL, em São Paulo

18/10/2012 13h03

Você saberia responder, sem pestanejar, o que é felicidade? Existem teorias que afirmam: a felicidade é uma enganação criada pelo psiquismo humano para garantir a sobrevivência da espécie. Por isso a queremos a qualquer preço, sem saber exatamente do que se trata.

Os primeiros a tentar explicar a felicidade foram os antigos filósofos gregos. Para os epicuristas, por exemplo, o homem só conseguiria ser feliz se deixasse de lado as preocupações com o destino e as angústias em relação à morte e fosse em busca do prazer e da contemplação do belo, que deveria ser o objetivo principal de cada ação humana.
 

Fórmula simplificada

Depois dos filósofos, vieram os sociólogos, antropólogos, psicólogos, neurocientistas aos quais se juntaram até publicitários e marqueteiros, na tentativa de explicar o que é ser feliz (ou de explorar essa dúvida para convencer o outro de que o segredo da felicidade está em ter isso ou ser aquilo).

"A ideia de felicidade muda de acordo com a época. Na Roma Antiga, só era possível ser feliz se houvesse liberdade. Um escravo, então, jamais poderia sonhar com ela. Já para o homem contemporâneo, ela está ligada a outras questões, como ter a possibilidade de realizar seus desejos", explica Dulce Critelli, terapeuta existencial e professora de Filosofia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
 
 
O problema é que dentro da ideia "felicidade é poder ter" cabe tudo. Ou quase tudo. O homem contemporâneo, em especial o mais jovem, acredita que será plenamente feliz quando tiver um excelente salário, um casamento harmonioso, um ou dois filhos bonitos, saudáveis e educados. E que esse pacote venha acompanhado de muito sucesso na carreira.

"Nas sociedades modernas ocidentais, o sucesso profissional é uma dos índices usados para medir o grau de felicidade, que deve ser diretamente proporcional ao tamanho das conquistas", afirma a terapeuta existencial. Ou seja, quanto mais sucesso, mais feliz a pessoa deve ser. Mas, no dia a dia, a prática não comprova a teoria. Nem sempre quem consegue conquistar o que sonhou consegue se sentir plenamente feliz. 

"A construção do conceito do que é felicidade tem a ver com a história de cada um, de como cada pessoa aprendeu a lidar as dificuldades da vida", diz Ana Mercês Bahia Bock, psicóloga, professora de Psicologia Social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

De acordo com Ana, existem pessoas marcadas pela coragem, que enfrentam as maiores dificuldades, mas não desanimam. Em geral, estas se consideram felizes, ainda que estejam passando por momentos difíceis, com graves situações financeiras ou a morte de uma pessoa querida. Outras, entretanto, desenvolvem, ao longo da vida, baixa resistência às frustrações o que, não raro, gera dificuldades em lidar com as perdas, não importa se é o furto do carro 0 Km ou apenas um pneu furado que atrasou o sujeito para uma reunião nem tão importante.

"É comum que o medo permanente de perdas que aflige as pessoas desse tipo as impeça de aproveitarem suas conquistas, pois ela sempre estarão imaginando qual vai ser o próximo prejuízo que sofrerão", afirma Ana Bock. 


Ser ou estar, eis a questão

O economista, filósofo e escritor Eduardo Giannetti da Fonseca, autor do livro "Felicidade" (Editora Cia das Letras), prefere pensar a felicidade sob duas possibilidades: a de estar feliz e a de ser feliz. "O estar feliz é um estado de ânimo momentâneo, circunstancial. Já o ser feliz é uma avaliação que o indivíduo faz acerca da sua vida como um todo", diz.

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Isso quer dizer que dá perfeitamente para você estar feliz porque recebeu um aumento, ainda que não se sinta plenamente satisfeito com o seu trabalho e não seja reconhecido pelo seu chefe. Como também é possível sofrer porque ainda não teve dinheiro para conhecer Paris, mas no balanço geral, sentir-se satisfeito por tudo o que conquistou até agora. Resumindo: ninguém é feliz o tempo todo nem em todos os aspectos da vida. O conceito de felicidade eterna e plena é uma enganação.
 

A grama do vizinho é sempre mais verde

Se existe uma questão que atrapalha a busca pela felicidade é o desequilíbrio entre o que se deseja e o que é possível de ser realizado. O resultado da equação malfeita, em geral, é frustração. "Toda infelicidade é resultado da diferença entre o que quero e o que tenho", explica o economista-filósofo Eduardo Gianetti.

Para ele, é necessário adequar o plano de voo de acordo com o tamanho das asas. O que significa dizer: pode sonhar, sim, mas dentro de suas possibilidades. Se depois de anos de casada, por exemplo, você descobriu que seu marido não era exatamente o príncipe encantado com o qual sonhou, não precisa se sentir infeliz só por isso. Ele pode ser um excelente sujeito, que faz de tudo pela família. Então, aproveite. Não é todo mundo que tem a mesma sorte.
 
É importante, também, evitar comparações. Nem sempre é fácil ser feliz sabendo que o vizinho troca de carro a cada lançamento enquanto o máximo que dá para comprar é um seminovo. "Fazer comparações é da natureza humana. O que mudou com a tecnologia foram as referências", diz Gianetti.
 
Se antes a comparação era feita com alguém do mesmo grupo, o vizinho, por exemplo, hoje, com o avanço tecnológico, a disputa é com as imagens, seja da televisão, das revistas, ou da internet (basta dar uma olhada rápida na sua "timeline" do Facebook para achar que todo mundo tem uma vida bem mais interessante). A melhor saída para escapar da armadilha das comparações é aproveitar mais a beleza do seu jardim sem se preocupar com a grama –ou o álbum de fotos no Facebook– do vizinho.