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Saiba quais passos seguir para se recuperar de uma separação

Para superar a dor de uma separação, não fique alimentado recordações - Didi Cunha/UOL
Para superar a dor de uma separação, não fique alimentado recordações Imagem: Didi Cunha/UOL

Ciça Vallerio

Do UOL, em São Paulo

22/11/2012 07h28

O fim de um relacionamento amoroso sempre é sofrido. A separação pode causar mais transtornos emocionais do que a morte de um parente ou de um amigo. Não é à toa que essa fase também é chamada de luto, afinal, é a morte da idealização da família e do amor eterno. 

Para a psicóloga e terapeuta de casais Pamela Magalhães, respeitar o tempo de luto é essencial para trabalhar os sentimentos que afloram durante essa fase, como angústia, frustração, tristeza, raiva, entre outros. "O fim desse processo é a aceitação, momento em que se começa a entender que o relacionamento acabou", explica. "Mas até alcançar esse estágio, a pessoa precisa tirar coisas boas da experiência vivida".
 
O furacão emocional que homens e mulheres experimentam após o fim de uma relação foi batizado por especialistas norte-americanos de "síndrome do estresse do divórcio". A socióloga Hui Liu, pesquisadora da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, analisou entrevistas concedidas por 1.282 homens e mulheres, entre 25 e 83 anos, por um período de 15 anos. Em março de 2012, o estudo revelou que aqueles que viveram a experiência do divórcio tiveram mais problemas de saúde do que os que permaneceram casados.  
 
Outro estudo também mostrou que o estresse psicológico aumenta o dano causado pelos radicais livres –moléculas instáveis que atacam células saudáveis e são, em parte, responsáveis por doenças como o câncer. Em uma pesquisa com mais de 10.800 mulheres, publicada em 2002 no American Journal of Epidemiology, descobriu-se que o estresse causado por eventos traumáticos como o divórcio poderiam estar associados ao aumento do risco de câncer de mama. 
 


Elas sofrem mais?
 

Para a psicanalista e terapeuta de casais Ana Cláudia Simão, uma separação traz mais sofrimento para mulheres do que para homens. "Quando eles pedem separação, geralmente, é porque já têm outra", afirma. "Homem não sabe bancar uma vida solteira, tendo de se virar sozinho, sem ter alguém para cuidar dele". Segundo ela, quando é a mulher que pede separação, muitos entram em desespero e saem correndo atrás de uma substituta. Há casos em que o marido preterido só sai da casa quando arruma alguém para morar junto, conta Ana. 
 
As mulheres, por sua vez, costumam apostar as fichas mais altas na relação a dois, na idealização da família e do amor, mesmo que elas sejam profissionais e independentes financeiramente. Esse é um dos motivos pelos quais o sofrimento pós-separação é uma prerrogativa basicamente feminina. Além disso, elas exteriorizam a dor e não têm vergonha de sofrer –o que é muito bom para superar a separação. Os homens, porém, são culturalmente treinados para calar a própria emoção.
 

Comece a se reestruturar
 

"Desapaixonamento"

Muitas vezes, a separação se torna ainda mais difícil quando uma das partes ainda gosta do outro. Para acelerar a ruptura desse sentimento, o especialista em comportamento amoroso e professor de psicologia da USP Ailton Amélio desenvolveu uma técnica de "desapaixonamento". Veja os quatro passos:

- Pare de idealizar o parceiro: se um dos ingredientes do amor é a admiração, ela é diminuída combatendo a idealização. Para "corrigir" essas distorções demasiadamente otimistas, comece questionando qualidades e encontre defeitos. Aos poucos, os pensamentos ruins sobre o "ex" ou a "ex" vão ajudar a minar os sentimentos amorosos.

Associe lembranças a coisas ruins: com efeito semelhante à medida anterior, associe lembranças positivas da pessoa amada a eventos desagradáveis. Quando vier à mente, por exemplo, aquele sorriso lindo, obrigue-se a recordar de algo desagradável que vocês viveram. Quanto mais intensas as imagens negativas usadas nessas associações, mais eficazes serão.

Colocar a esperança à prova: se houver esperança de que ele ou ela ainda gosta de você, é hora de ver se isso é verdade ou ilusão. Como? Durante um encontro, por exemplo, pegue na mão do "ex" ou da "ex" ou tente um beijo. Se surgir reciprocidade, a relação pode ser reassumida e ter um final feliz. Do contrário, enfrente a dor dessa rejeição, mas ela ajudará a extinguir o amor.

- Elimine ligações: suma com as recordações, pare de escutar a música que marcou a relação ou de frequentar os mesmos lugares. Também não xerete sua vida no Facebook. Tente desligar-se  totalmente.

A perda de referências individuais, que estavam até então diluídas na vida de casal, pode causar desorganização emocional, de acordo com o psiquiatra e psicoterapeuta de casais e de família Luiz Cuschnir. "Para resgatar essas referências, é importante entrar em contato com aquela pessoa que, muitas vezes, ficou adormecida dentro de nós, além de rever projetos pessoais. Em separações traumáticas, a psicoterapia auxilia na elaboração da perda e também do crescimento pessoal", diz o médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e do Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher.
 
Cicatrizes profundas são quase inevitáveis em um rompimento amoroso. Mas a maneira de lidar com essas marcas podem ajudar a se fortalecer. O primeiro passo, segundo os especialistas, é não perder tempo demonizando o "ex" ou a "ex", culpando a pessoa de tudo, enquanto planeja uma vingança. Além de não ser construtivo, é preciso ter consciência de que, em uma relação, ambos contribuíram para o declínio do vínculo conjugal. "As pistas de que algo não estava bom sempre existem. Não enxergá-las é uma maneira de negação", afirma a psicanalista e psicoterapeuta familiar e de casais Blenda de Oliveira.
 
Para amenizar as dores da separação, internalizar a culpa por acreditar que a bancarrota amorosa foi o resultado de uma falha pessoal também não leva a nada. Segundo a psicanalista Ana Cláudia, quem se prende à culpa ou à raiva leva muito mais tempo para dar a volta por cima. Segundo os especialistas, a melhor maneira de se recuperar das agruras que envolvem essa fase é investir na autoavaliação. Olhar para si mesmo ajudará a avaliar o que aconteceu e evitar que os mesmos equívocos se repitam nas futuras relações.   


Como superar os principais obstáculos

- Raiva e culpa levam a ações equivocadas. Não deixe que esses sentimentos te dominem seus; 
 
- Evite compartilhar problemas da separação com novos parceiros, pois isso dificulta a construção de um novo vínculo; 
 
- Invista em atividades que lhe dão prazer: cursos, cinema, amigos, leitura. Preencha o tempo em vez de ficar se lamentando; 

- Aposte nos cuidados pessoais, incluindo atividade física;
 
- Procure amigos para desabafar, mas não passe o tempo todo se lamuriando; 
 
- Evite ficar muito tempo só, mas momentos de introspecção fazem bem. Encontre um equilíbrio; 
 
- Concentrar-se no trabalho ajuda a tirar o problema da cabeça, amenizando pensamentos negativos; 
 
- Não saia correndo atrás de uma nova relação. Isso só traz ansiedade e o risco de se decepcionar novamente será grande; 
 
- Quando se tem filhos, é muito importante não contaminá-los com rancores do casal. Isso faz com que as crianças sofram mais; 
 
- Perceba que, apesar da dor, a separação traz novas possibilidades, como uma futura relação mais plena e satisfatória.