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Como lidar com o dilema de ajudar ou não parentes financeiramente?

Viajar ou ajudar um irmão com dificuldades? Independentemente da decisão, ela deve te fazer bem - Lumi Mae/UOL
Viajar ou ajudar um irmão com dificuldades? Independentemente da decisão, ela deve te fazer bem Imagem: Lumi Mae/UOL

Catarina Arimatéia

Do UOL, em São Paulo

27/06/2013 07h49

O descompasso financeiro entre as pessoas, principalmente da mesma família, pode levar a situações desconfortáveis ou constrangedoras, além do sentimento de culpa em quem está em uma situação melhor. Viajar ou ajudar um parente? Contar ou não ao irmão desempregado que vai comprar um apartamento ou trocar de carro? Dar presentes sofisticados nos aniversários ou optar por lembrancinhas mais de acordo com o poder aquisitivo dos familiares? São questões que parecem simples, mas nem sempre têm respostas óbvias.

"Família é uma instituição com enorme força, seja ela boa ou não. É nela que se estabelecem os primeiros acordos, as primeiras negociações, as primeiras demonstrações de lealdade", diz Blenda de Oliveira, psicóloga clínica e psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise/SP. Ou seja, ser diferente, pensar diferente, ter outro estilo de vida ou construir valores próprios podem criar sentimentos de traição nos pais ou irmãos, por exemplo.

Aquele que tem mais dinheiro acaba se sentindo culpado por ter uma condição financeira melhor do que os outros. Um sentimento que tem mais razões subjetivas do que reais. "Não há por que sentir vergonha nem por ter mais nem por ter menos", fala o professor Aurélio Melo, coordenador do GAEPE (Grupo de Atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão) Psicologia do Desenvolvimento, da Universidade Mackenzie, em São Paulo.

A condição financeira pode ser resultado de uma combinação de sorte, trabalho e facilidades que alguns tiveram e outros não, conforme diz o professor Aurélio Melo. Portanto, "não há sentindo em nos culparmos por algo que não depende de nós", acrescenta. Principalmente se o dinheiro foi obtido honestamente. "Não é crime ter uma vida melhor materialmente do que aquela da sua família. Entretanto, o processo de diferenciação pode provocar sentimentos de não mais pertencer ao grupo familiar”, diz Blenda.

Outra situação incômoda que pode aparecer é a família se sentir humilhada diante do poder aquisitivo maior do seu membro mais abonado. Como agir se isso acontecer? Para a psicanalista Blenda de Oliveira, não adianta fazer de conta que tem um menor poder aquisitivo só para aliviar os sentimentos de humilhação ou inveja que os familiares possam vir a sentir. "Se há esse sentimento, cabe aquele que o carrega resolver", diz ela. Já para o professor Aurélio, ser discreto e simples pode ajudar o outro a não se sentir mal. "Mas não temos controle total sobre isso. Há pessoas que sempre se sentirão inferiores", afirma.

Ter conforto ou ajudar?


No dia a dia, há situações que põem à prova os dois lados, o que tem mais e o que tem menos. Por exemplo, na hora em que um parente pede dinheiro emprestado. "Em primeiro lugar, deve-se pensar que não há obrigação em dar ou emprestar", diz Cecília Zylberstajn, psicodramatista e psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Também é preciso tomar cuidado para que a relação com os parentes não fique apenas baseada no dinheiro. 

"Temos uma crença muito forte de que o dinheiro é algo sujo ou mau. Por isso, apropriar-se dele e negar a cedê-lo ou escolher para quem e onde colocá-lo vêm sempre associados a uma ideia errônea de egoísmo", diz Blenda.

Isso sem contar a sensação de que há a "obrigação" de auxiliar as pessoas da família, o que pode levar a dilemas como: viajar ou ajudar o sobrinho a pagar suas mensalidades atrasadas da faculdade? Para o professor Aurélio Melo, a ideia de justiça pode ajudar a decidir. Basta fazer algumas perguntas: "Estou sendo justo comigo ajudando o outro? Isso me faz bem? É um dever meu? É algo que não preciso, mas me fará bem?". As respostas mostrarão o que fazer.

Há outros momentos em que situações financeiras diferentes também podem criar desconfortos: em aniversários ou Natal, por exemplo. Nesses casos, a pergunta é: quem pode mais, deve ou não dar presentes mais caros, até mesmo para os seus próprios filhos? Como ficará a situação diante dos outros membros da família, que não têm tantas condições assim?

"Cada um deve presentear dentro de suas próprias condições", diz Cecília Zylberstajn. "Há famílias que lidam bem com essas discrepâncias, outras não. O ideal, para não causar constrangimentos, é dar um presente mais caro para o filho em outra situação, como em seu aniversário, e não no Natal, na  frente de todo mundo".

Segundo Blenda de Oliveira, a melhor maneira de lidar com situações assim é sempre usar o bom senso. "Sou partidária de manter certa privacidade em situações que podem causar incômodos, o que não deixa de ser uma escolha que prioriza o bem-estar e, além de tudo, é generosa".

Quando o relacionamento torna-se muito complicado, com atitudes agressivas ou ironias de ambos os lados, chega o momento de avaliar o relacionamento familiar, afirma Cecília Zylbertajn. "Infelizmente, o dinheiro, às vezes, separa as pessoas", afirma. Nesse momento, é hora de questionar se a família está te fazendo bem. Em alguns casos, o único jeito é se afastar. Ou, como diz a psicóloga e psicodramatista, "criar uma distância saudável e amigável".