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Instituição quer camisinhas mais atrativas, como a sabor banana split

Pam Belluck

New York Times News Service

28/06/2013 07h12

Basta uma olhadinha na loja online Condomania para apreciar a variedade de camisinhas existentes. Há sabores como ponche, banana split e chiclete, camisinhas com anéis vibratórios dotadas de baterias que duram até 20 minutos e camisinhas que brilham no escuro, prometendo "30 minutos de diversão cintilante".

Na categoria "camisinhas de celebridades", temos o "pacote de estímulo de camisinhas do Obama": cada unidade é gravada com uma imagem do presidente dos Estados Unidos fazendo sinal de positivo com os polegares. Porém, mesmo que esse selo presidencial de aprovação fosse real, ele não superaria um obstáculo crônico e sério da saúde pública: a maioria dos homens não gosta de camisinha.

Agora um protagonista influente na saúde global, a Fundação Bill e Melinda Gates, está entrando no jogo. A instituição terminou de receber inscrições para o que chama de Grande Desafio: desenvolver "uma próxima geração de camisinhas que preserve ou aumente o prazer de forma significativa".

O objetivo é abordar dois problemas importantes: gravidez indesejada e doenças transmitidas sexualmente, como a Aids. De forma barata e eficiente, os preservativos previnem as duas situações, mas, em âmbito global, somente 5% dos homens as usam e ocorrem 2,5 novas infecções por HIV anualmente. Segundo especialistas de saúde, para deter essa onda, o número de homens utilizando camisinhas regularmente precisa dobrar.

"Prazer sexual reduzido costuma ser a razão predominante para não usá-las", diz Stephen Ward, diretor de programa da Fundação Gates. "Será possível torná-las mais desejáveis? É o que estamos procurando".

Mais de 500 inscrições foram feitas no concurso, que premiará os vencedores com US$ 100 mil neste outono do Hemisfério Norte, e até US$ 1 milhão na sequência. Segundo Ward,  pela primeira vez foram enviadas amostras em um desafio da instituição.

"Caixas de camisinhas, acessórios para camisinha, estojos para camisinhas que parecem outra coisa para que as mulheres sejam discretas ao carregá-las. Nós recebemos uma capa completamente cheia com camisinhas, lubrificantes e pastilhas de hortelã", diz ele.

Os participantes foram orientados a não discutir os projetos publicamente. Ou seja, o criador de um vídeo do YouTube oferecendo a Gates uma camisinha aplicada com um estilingue não deve ser um participante sério.

Contudo, especialistas em preservativos --alguns dos quais estudam o assunto há anos-- sugerem o que pode dar certo e o que certamente não funcionará.

"Não creio que tenhamos visto a camisinha que impressione todo o mundo", afirma Ron Frezieres, vice-presidente de pesquisa e avaliação do Conselho de Saúde da Família da Califórnia, antigo testador de preservativos para fabricantes, governos e organizações sem fins lucrativos.

"Para começar, os homens gostariam de não acreditar que as estão usando. Depois, tem de ser um pouquinho melhor do que aquilo a que estão acostumados. Ainda precisamos encontrar a mistura perfeita".

O perfeito pode não ser o inimigo do bem neste caso, mas é tremendamente complicado de se garantir.

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"Quando vi o anúncio da Fundação Gates, eu escrevi falando: 'É legal que tenham tomado essa iniciativa, mas já fiz isso antes e espero que consigam encontrar algo que eu não achei'", diz Jeff Spieler, consultor técnico sênior de população e saúde reprodutiva da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional.

"Essa é a minha paixão há anos e anos. Eu comecei pensando: 'Puxa, se pudéssemos criar uma camisinha que tornasse o sexo melhor com ela do que sem. Se pelo menos não afastasse o prazer sexual, não seria como chupar bala com o papel'".

Segundo ele, a princípio seus chefes falaram: "Ei, Jeff, tome cuidado. Não queremos que o Congresso acabe conosco porque Jeff Spieler quer melhorar o sexo".

Vários fabricantes criaram camisinhas mais atraentes. Alguns modelos, como Pleasure Plus e Twisted Pleasure, criados por um cirurgião indiano, Alla Venkata Krishna Reddy, qualificado por Spieler de "Leonardo da Vinci dos preservativos", abordou a questão da rigidez e fricção. Eles são espaçosos, inchados, "como a espiral de um sorvete", afirmou Spieler. O movimento do material extra pretende ser estimulante.

Outro design, o preservativo eZ-On, tinha como alvo o "problema de vestir". Feito de poliuretano, não látex, era folgado, "trazendo dentro o que chamo de tutu", disse Frezieres. "Ele não era direcional, então é possível vesti-lo de qualquer lado". Ou, nas palavras de Spieler, "é como enfiar o pé numa meia aberta".

Porém, somente alguns homens gostam desse recurso. Acontece que as camisinhas estão sujeitas a uma ampla gama de gostos e desgostos.

"Alguns homens querem que ela seja totalmente transparente para que, ao olharem, não pareçam estar usando nada", diz Frezieres. "Para outros, tem de ser vermelho e vibrante, como um letreiro de neon".

Frezieres e a colega Terri L. Walsh conduziram estudos envolvendo preservativos com lubrificantes que criam sensação de aquecimento. "Alguns falaram que ardia feito queimadura, outros relataram um sensação branda, agradável ou até mesmo orgasmos mais intensos. Por outro lado, como Walsh assinalou, uma camisinha mais estimulante poderia piorar a situação para homens com ejaculação precoce, assim para eles a questão é: 'Qual o grau de excitação que você espera da camisinha?'".

De acordo com Spieler, outro dilema dos testes é que "não dá para comparar um ato sexual a outro. Pode-se deparar com um ato sexual após uma briga e a relação sinaliza as pazes. Ou você pode ter três dias seguidos de sexo ruim, então dá uma nota baixa para o preservativo usado."

O que não impediu a inovação dos fabricantes. Existem camisinhas com anéis vibratórios como a Durex Play - Ring of Bliss, afirmou Bidia Deperthes, consultora técnica sênior de HIV para o Fundo de População das Nações Unidas. Spieler a chama de "czarina dos preservativos".

Alguns homens sempre se queixam da duração da bateria: "Bidia, 20 minutos não é muito tempo." Ao que ela responde: "Dá um tempo, pessoal. Quinze minutos já é um elogio para vocês".


Bidia, cujo escritório conta com uma parede de camisinhas, têm versões embaladas como pirulitos, em caixas de chocolate ao leite miniatura e puxa-puxa embrulhado com celofane.

 

  • Ozier Muhammad/The New York Times

    Bidia Deperthes, consultora de HIV para o Fundo de População das Nações Unidas, em seu escritório repleto de camisinhas


E o que é aquilo preso em sua blusa de seda? Um broche de tecido. Porém, no avesso do broche vemos, sim, uma camisinha. Isso que é arte vestível.

Uma inovação bem-sucedida foi a camisinha Hat, lembrando uma touca de banho pequena, projetada, segundo Frezieres, "para se ajustar pouco abaixo da ponta" para "dar sensação máxima". Infelizmente, "nos testes clínicos, os casais tinham dificuldades em manter o preservativo no lugar".

Outra ideia foi a camisinha em spray, criada pela aplicação de látex líquido para proporcionar um preservativo modelado para uso do homem. "Ótimo conceito", diz Frezieres.

No entanto, não tinha ponta para coletar o fluído. "Ficamos pensando em como tirá-la mais tarde".

Um projeto promissor, já disponível em alguns lugares do mundo, é o Pronto 4:Secs, cuja caixa é decorada com personagens ao estilo de Dick Tracy. O 4:Secs, cujo nome seria um trocadilho e o tempo que supostamente levaria para ser colocado (quatro segundos), é uma camisinha com aplicador plástico que lembra um salva-vidas.


"Esse é muito legal", declara Bidia, demonstrando como o aplicador se parte ao meio permitindo que o preservativo seja colocado direto de cima para baixo.

Talvez o mais inovador seja o Origami, novo produto de origem norte-americana, ainda na fase de testes clínicos. O inventor, Danny Resnic, disse ter sido motivado por sua própria experiência quando "um preservativo de látex estourou e terminei diagnosticado com HIV".

Anos de testes o levaram a criar uma camisinha com dobras ao estilo do fole de uma sanfona, frouxas para permitir o movimento interno. Feita de silicone, com o intuito de deixar a sensação mais parecida com a pele, "ela é colocada em menos de um segundo" e "não existe jeito errado de colocar".

 

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  • Arte/UOL

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Além de preservativos masculinos, que a Origami chama de "camisinhas externas", a empresa tem uma versão feminina (um preservativo interno), e os primeiros preservativos para sexo anal e oral, garante Resnic.

O concurso da Fundação Gates também aceitou projetos de camisinhas femininas, mas estas são historicamente menos populares.

Embora alguns homens prefiram a experiência e, para algumas mulheres, ela lhes dá uma capacidade maior de proteção, o preservativo feminino é muito mais caro e precisa ser posicionado corretamente para não ser tirado ou virado para um lado.

De acordo com Frezieres, uma ideia para torná-lo mais atraente é anexar o preservativo feminino a uma calcinha tipo fio dental.

Nos países em desenvolvimento, a camisinha representa outros problemas. Em algumas culturas, os homens são tão resistentes que as mulheres precisam se envolver em delicadas "negociações de camisinha". E mulheres que andam com preservativos podem ser vistas como prostitutas.

Bidia e Franck DeRose, diretor executivo da organização sem fins lucrativos Condom Project, empregam músicas e danças sobre camisinhas para tentar torná-las mais divertidas e dar às mulheres maneiras de levá-las de forma discreta, incluindo recipientes que lembram balas para melhorar o hálito.

Bidia também deseja mais opções. Por exemplo, ela observou que os dois tamanhos padrão eram grandes demais para alguns homens, assim versões menores deveriam ser incluídas nas embalagens doadas aos países em desenvolvimento.

E ela quer mais variedade. "Falei para o grupo de trabalho da camisinha na Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional: 'Pessoal, você são muito pouco criativos'". O preservativo padrão que os países recebem "não cheira bem; tem cheiro de borracha".

Ao saber que eram oferecidas 18 opções, ela falou que era necessário ter um marketing melhor, pois a maioria dos países escolhia o mesmo tipo básico. Bidia está desenvolvendo uma "caixa de chocolate", apresentando várias camisinhas como se fossem trufas, para enviar aos ministros da saúde do exterior.

Na verdade, segundo ela e os outros entrevistados, dada a ampla gama de diferenças pessoais e culturais, o valor do concurso da Fundação Gates pode estar em encontrar vários tipos de camisinhas --talvez de materiais novos-- e em ajudar para que sejam fabricadas de maneira barata para o mundo em desenvolvimento. Como disse DeRose, "às vezes você quer usar botas, outras vezes, chinelos de dedo".