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Terapia de casal ajuda a salvar relação ou a terminá-la sem traumas

A terapia de casal dura, em média, três meses, mas há quem prefira continuar com as sessões - Thinkstock
A terapia de casal dura, em média, três meses, mas há quem prefira continuar com as sessões Imagem: Thinkstock

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

13/08/2013 07h58


A terapia de casal ainda é encarada com resistência. Parceiros que vivem relações problemáticas hesitam em recorrer a essa modalidade de análise por uma série de motivos: desde achar que a medida é para fracassados até medo do julgamento que família e amigos farão.

No entanto, esse tipo de terapia pode ser uma alternativa eficaz na tentativa de reconstruir o relacionamento de duas pessoas que ainda se amam, mas que não conseguem se entender.

"Recomendo quando as discussões se tornaram infrutíferas e constantemente viram brigas. Quando a irritabilidade, a raiva e a impaciência permeiam a relação, que se torna destrutiva, deixando os parceiros exaustos", explica a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar. "Sem perceber, ambos constroem muralhas para se defender um do outro".

Problemas como infidelidade (inclusive virtual), depressão, dificuldades financeiras, uso de álcool e drogas, falta de desejo, discordâncias sobre a educação dos filhos e conflitos com a família são algumas das razões que costumam levar os casais ao consultório.

 

Como funciona a terapia?

 
As sessões são conjuntas, mas se, eventualmente, um dos dois precisar de atendimento individual, para lidar com alguma questão particular que está atrapalhando a relação, é possível marcar encontros sem o par. Isso depende do terapeuta e da situação vivida pelo casal.

"Em geral as sessões são a dois, pois a intenção é, justamente, que haja transparência, para que possam falar e ouvir um ao outro, buscando soluções para o que os aflige", informa a psicóloga Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casais pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
 

  • Arquivo pessoal

    "Decidimos fazer terapia de casal durante o namoro, quando o Rodrigo entrou em depressão. Eu tive de participar do tratamento dele para ajustar algumas coisas em nossa relação, pois ele estava mudando e nosso relacionamento virou de ponta-cabeça. Percebi que eu também precisava mudar. Passamos pela terapia individual e depois a de casal. A parte mais difícil é reconhecer que precisamos abrir mão de comportamentos antigos para nos conhecermos. Aprendemos a mudar certas crenças e a compreender o outro".

    Carla Alves Rabello, 35. Juntos há 18 anos, ela e Rodrigo de Carvalho Rabello são casados há sete e pais de Yasmin, 7, e Davi, 5

Havendo a necessidade de sessão individual, ambos terão o mesmo número de atendimentos, mas qualquer segredo contado ao terapeuta será dito, também, na sessão conjunta. 
 
O tratamento dura, em média, três meses, com sessões semanais, mas há casais que se sentem bem com o processo e decidem continuar. "Cada caso é um caso. Costumo indicar terapia individual para aqueles que precisam amadurecer ou trabalhar questões particulares", conta Carmen.
 

Final feliz sob uma nova ótica

 
O desfecho feliz não significa somente o casal ficar junto, mas, sim, conseguir resgatar a boa comunicação, o afeto, a boa vida sexual, a cumplicidade e a vontade de continuar a construir uma vida a dois. Entretanto, o casal pode concluir, através das sessões, que a separação é a melhor saída.  
 
De acordo com a psicóloga Marina Vasconcellos, as pessoas esperam muito para procurar ajuda, e o fazem grande parte das vezes quando já não há quase possibilidade de resgatar uma relação tão desgastada. "É comum receber casais que chegam dizendo que essa é a última chance que darão ao casamento, pois não aguentam mais tamanho sofrimento. Se procurassem resolver os problemas à medida em que aparecem, tudo seria mais fácil", diz.
 
  • Arquivo pessoal
  • "Fazemos terapia de casal há cerca de nove meses e tem sido ótimo, pois passamos a nos entender melhor e a nos escutar mais. A terapeuta consegue traduzir situações que eu ou ele temos dificuldade de conversar. Sou mais velha, mas o Lucas é mais maduro. Ele não é de falar muito, mas tem conseguido expor melhor os sentimentos. Algo que o chateasse antes, por exemplo, ficaria guardado. Hoje, ele fala. Com isso, nossas questões não se transformam em uma ‘bola de neve'. Tem nos ajudado a encontrar o equilíbrio em uma fase em que a família aumentará. O que falta em um é encontrado no outro, mas conseguimos identificar isso só com essa ajudinha".

    Renata Fernandes, 37. Ela e Lucas Albano, 27, estão juntos há quatro anos (casados há seis meses) e esperando o primeiro filho

Às vezes, a terapia serve para que o casal consiga se separar de forma amigável, entendendo o que aconteceu, aceitando a perda de forma madura e consciente para que não corra o risco de errar novamente em um próximo relacionamento. E para que não fiquem questões pendentes. 
 
Mesmo quando não ficam juntas, as pessoas podem se beneficiar da terapia de casal, o que é positivo em especial para quem tem filhos. A partir das sessões, cada um olhará para si a fim de entender como seu comportamento afeta o parceiro ou qual é sua responsabilidade pelos conflitos que vivem a dois. Com as questões resolvidas, é mais fácil manter uma relação de amizade após a separação. 
 


Terapia de casal e terapia sexual

 
Muita gente ainda confunde terapia de casal e terapia sexual. São processos bem diferentes: na terapia de casal, o objetivo é mais amplo e envolve o tipo e qualidade do vínculo, a história da relação, as expectativas e os ideais de cada um, o desvelamento do contrato inconsciente e os papéis cada um ocupa. Também são levadas em consideração quais as fantasias inconscientes que permeiam a relação.
 
Na terapia sexual, o objetivo é melhorar o sexo. "Mas como a sexualidade está ligada à relação, é comum que ela seja discutida na terapia de casal. É possível abordar essa questão sem precisar de um especialista no assunto. Exercícios são propostos e problemas que pareciam mais complicadas, como ejaculação precoce, são resolvidas na terapia de casal", explica Marina Vasconcellos.