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Voltar a morar com os pais é difícil, mas tem aspectos positivos

Karina Gomes, 35, voltou para a casa da mãe Inês Aparecida Gomes, 64, quando mudou de carreira - Fernando Donasci/UOL
Karina Gomes, 35, voltou para a casa da mãe Inês Aparecida Gomes, 64, quando mudou de carreira Imagem: Fernando Donasci/UOL

Giovanny Gerolla

Do UOL, em São Paulo

16/08/2013 08h44

A produtora de moda Karina Gomes, 35, desistiu da carreira para investir em uma nova profissão: tornou-se auxiliar de cabeleireiro e aceitou uma considerável redução em sua renda mensal, até adquirir experiência suficiente para conseguir andar novamente com as próprias pernas. 

Já o publicitário Rodrigo Simono Giammarino, 32, se divorciou em novembro de 2012 e teve de abrir mão de parte de sua privacidade, até poder investir em um segundo imóvel próprio (o primeiro ficou para a ex-mulher e o filho).  
 
O que ambos têm em comum? A percepção de que, em alguns momentos da vida, é preciso retroceder para, posteriormente, conseguir avançar. Os dois voltaram para a casa de suas respectivas mães e pretendem ficar com elas por um tempo. 
 
"O jeito mais saudável de retornar à casa dos pais é aquele em que o filho conta com um espaço onde haja segurança para se recompor, profissional, emocional ou financeiramente, desde que a volta não signifique um retrocesso no relacionamento. Agora, cada um sabe o que é, qual é o seu lugar e que essa condição é provisória", afirma Maristane Dias dos Santos, psicanalista especializada em Distúrbio do Desenvolvimento.  
 

O que é de cada um

 
Karina Gomes conta que foi voltando aos poucos para a casa da mãe. "Primeiro, vinha dormir com ela nos finais de semana; depois, dormia, também, numa quarta-feira ou outra, para me acostumar à dinâmica". 
 
A auxiliar de cabeleireiro diz que ter de avisar aonde e com quem vai e a que horas retornará parece muito difícil no começo, "mas não é o fim do mundo". 
 
 
No quarto ao lado, a mãe Inês Aparecida Gomes, 64, psicóloga aposentada, acha que a experiência pode ser bem mais difícil para quem recebe o filho de volta, afinal, os filhos saem, e é preciso se habituar a ficar só. O retorno ao lar é, sem dúvida, uma nova ruptura da rotina, que já havia sito adaptada com a saída e agora sofrerá novas transformações.  
 
Para o plano dar certo, Inês e Karina fizeram um acordo, estipulando um prazo relativamente flexível, que deve ser de pelo menos um ano e de, no máximo, dois anos de convivência. Nada muito rígido. 
 
Para a mãe e psicóloga, expressões como "muito obrigado", "com licença", "posso usar?" e "bom dia" não podem fugir do vocabulário familiar. "Há formalidades que, mesmo na relação entre pais e filhos, são indispensáveis, porque demostram respeito ao espaço alheio". 
 
Rodrigo saiu da casa da mãe pela primeira vez em 2004. Ao voltar, sentiu algumas dificuldades: “Mesmo me entendendo bem com ela, tudo é um pouco complicado. Nos habituamos a ter mais liberdade", conta.
 
Sua volta para casa, onde estava também o irmão mais novo, movimentou toda a família, que precisou se mudar para um imóvel maior. "Fiz um acordo com meu irmão, que assumiu o aluguel do novo apartamento com opção de compra. Assim, o imóvel em que moramos um dia será dele, e eu ajudo pagando contas, compras e faxineira". 
 
Apesar de Rodrigo ter absoluta certeza de que a situação é temporária, e ter avisado expressamente que sua intenção é ir para um apartamento próprio, a mãe insiste que ele fique pelo tempo que for necessário. 
 

Quando os pais precisam morar com os filhos

 
  • Fernando Donasci/UOL

    A fisioterapeuta Nilza de Souza Bueno, 48, ofereceu morada ao pai em sua nova casa

Com a chegada da velhice, é frequente que pais se mudem para a casa dos filhos ou que seja necessário que eles voltem para a casa dos mais velhos, que precisam de cuidados. 
 
"Nesse caso, o segredo é dar um novo significado à dor trazida pela doença ou pela perda que se aproxima", afirma a terapeuta familiar Paula Ayub, que é segunda secretária da Abratef (Associação Brasileira de Terapia Familiar), . 
 
É essencial enxergar a grandiosidade do que os pais foram e fizeram, e não olhar tudo como uma obrigação chata, por ter de deixar a sua própria vida de lado para cuidar de pessoas mais velhas, doentes ou incapacitadas. Trata-se de uma oportunidade de retribuir tudo o que foi recebido. "Mas isso precisa ser sincero", afirma Paula. 
 
Porém, é importante não abrir mão de tudo. Reserve um tempo para sair, descansar, curtir alegrias e dividir momentos de lazer com pessoas importantes de sua convivência. "Tudo precisa estar claro e conversado com os pais e com outros familiares, desde o início", diz a terapeuta.
 
Com alguns anos de casada, e visando mudar-se para um bairro melhor e mais central de São Paulo, a fisioterapeuta Nilza de Souza Bueno, 48, ofereceu morada ao pai em sua nova casa, mais ampla, o que ele aceitou prontamente. Apesar da iniciativa em fazer o convite, a decisão do pai surpreendeu Nilza. 
 
"Eu havia saído do apartamento dele há alguns anos, depois de formada e empregada na minha área. Ele não concordava com meu estilo de vida e eu não imaginei que ele aceitaria morar de novo comigo". Mas assim tem sido há 20 anos. 
 
"Hoje, como filha provedora há algum tempo, vejo mudanças tanto em mim quanto nele. Meu pai tinha medo que eu, por causa do meu estilo de vida um pouco mais ousado, não tivesse futuro. Por outro lado, à medida que ficou claro que eu não era uma desvairada, tive mais aceitação. Talvez ele ainda não concorde com algumas das minhas escolhas, mas aprendeu a me respeitar".