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Doar itens em bom estado demonstra mais consideração pelo outro

Fazer uma doação não significa se livrar daquilo que você não quer, mas ajudar pessoas que precisam - Thinkstock
Fazer uma doação não significa se livrar daquilo que você não quer, mas ajudar pessoas que precisam Imagem: Thinkstock

Por Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

02/12/2013 07h10

No final do ano, o que não faltam são campanhas para motivar as pessoas a fazerem doações. É nesse momento que, tomados pelo espírito natalino, muitos topam o desafio de revirar os armários e separar tudo o que já não tem muita utilidade em casa, para passar adiante.

O grande problema é que, para a maioria das pessoas, é fácil desapegar de objetos que já estão bastante usados ou desgastados, enquanto os novos, mesmo sem serventia, tendem a ser guardados novamente, por pelo menos mais um ano. A principal intenção é a de se livrar daquilo que só atrapalha.

De acordo com a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, mestre em psicologia social pela USP (Universidade de São Paulo), esse tipo de comportamento é pautado, até certo ponto, pela razão. "Do ponto de vista objetivo, não fica muito claro porque devemos nos desfazer do que está em bom estado", explica. 
 
Mas a emoção também pesa. Afinal, os objetos são carregados de significados e contam um pouco da história dos seus donos. Assim, itens que remetem a bons momentos, em geral, são os mais difíceis de doar. 
 
Apesar de tudo isso, há quem consiga se desprender do que tem –mesmo que em perfeitas condições de uso– sem traumas. E essas pessoas, segundo Angelita, podem ser consideradas mais altruístas. "Estamos falando de pessoas mais sensíveis às necessidades dos outros e que geralmente são pragmáticas. Elas entendem que os bens materiais só têm algum valor quando são úteis, caso contrário, não servem para nada", afirma a psicóloga. 
 
Doar itens quebrados, com defeito ou castigados demais pelo tempo ou uso, por outro lado, pode soar desrespeitoso. "Passar adiante aquilo que está bom significa valorizar o outro", diz a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar. Ela lembra que o ato de doar deve ser comparado ao de dar um presente, ou seja, é preciso pensar na reação da pessoa que vai recebê-lo, na satisfação que terá ao utilizá-lo. 
 
 

Apego demais faz mal

 
Se a dificuldade de doar é muito grande, esse pode ser um sinal de alerta. Na maioria dos casos, o apego a itens materiais indica que algo não vai bem no campo emocional. "Em algum ponto da história daquela pessoa, ela provavelmente se sentiu rejeitada ou abandonada e tenta compensar esse vazio com coisas materiais", explica Angelita. 
 
Além disso, quando estamos feridos emocionalmente, fica mais difícil pensar no outro. "Se estamos nos sentindo assim, fica quase impossível querermos cuidar de alguém, confiarmos no amor. Afinal, é impossível dar aquilo que não temos", declara a psicóloga. 
 
Felizmente, o altruísmo é uma característica que pode ser aprimorada ao longo da vida. Os pais, durante a infância de seus filhos, têm um papel fundamental nessa construção. "A criança pequena é egocêntrica, possessiva e a família deve educá-la para compartilhar e viver em sociedade", diz Carmen.

A qualidade também se desenvolve à medida que se compreende que ações individuais têm impacto no coletivo. "Uma pessoa pode se tornar mais altruísta ao reconhecer no outro desejos, necessidades e expectativas que ele pode ajudar a alcançar, a partir de uma ação simples e que, muitas vezes, nem lhe custará grandes esforços", afirma a psicóloga Maria Alice Fontes, doutora em saúde mental pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 
 
Quem consegue atingir esse estágio, geralmente, não quer mais parar. "A experiência de ajudar o outro traz um sentimento tão positivo, de prazer e gratificação pessoal, que a tendência é repetirmos esse comportamento", afirma Maria Alice.

"Quando somos generosos, experimentamos uma alegria interior e um sentimento de recompensa por melhorar a vida de alguém. E nos sentimos conectados aos nossos semelhantes", fala Carmen. Por isso tudo, vale a pena se animar e procurar coisas que você tem em casa neste final de ano tendo como principal objetivo doar o que é bom.

Uma sugestão: se você recebe uma cesta de Natal da empresa onde trabalha, cheia de todas as carnes típicas dessa época, que tal doar algumas? Pense bem: uma ceia precisa, mesmo, de peru, tender, chester, lombo e mais uma infinidade de acompanhamentos? Experimente doar um dos assados para quem não terá nenhum. Certamente, será mais saboroso saber que alguém terá uma ceia graças à sua colaboração do que ter um prato a mais à mesa, que talvez nem seja provado. 
 

Para quem doar

 
Para quem doar: pessoas humildes que sejam próximas a você; organizações religiosas; abrigos; asilos; creches; casas assistenciais; ONGs; prefeituras. Há instituições de caridade que estão presentes em diferentes estados brasileiros, como AACD, Exército da Salvação, Apae e Pestalozzi