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'Em Família': quem se identificou com Laerte ou Helena vive relação doentia

O casal Laerte e Helena (Guilherme Leicam e Bruna Marquezine), na segunda fase de "Em Família" - Divulgação/TV Globo
O casal Laerte e Helena (Guilherme Leicam e Bruna Marquezine), na segunda fase de "Em Família" Imagem: Divulgação/TV Globo

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

14/02/2014 07h08

Vivido por Eike Duarte, Guilherme Leicam e Gabriel Braga Nunes na primeira, segunda e terceira fases, respectivamente, o personagem Laerte da novela "Em Família" já é um dos principais alvos dos comentários dos telespectadores que acompanham a trama de Manoel Carlos para a Rede Globo.

O amor que sempre sentiu pela prima Helena (vivida por Julia Dalavia, Bruna Marquezine e Julia Lemmertz), provocou uma sucessão de tragédias: a cicatriz no rosto de Virgílio (na fase vivida por Fernando Rodrigues), que quase morreu em suas mãos; o casamento rompido em pleno altar; o infarto fulminante de Ramiro (Oscar Magrini), pai da noiva; a briga das irmãs Chica e Selma (papel de Juliana Araripe e Camila Raffanti, nesta fase). 

De acordo com a psicóloga Carmen Cerqueira Cesar, tanto Laerte como Helena alimentam um relacionamento doentio: ele por ter ciúme patológico; ela por ter alimentado por tanto tempo uma relação como essa e se divertir provocando o parceiro. 

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O ciúme de Laerte serviu de fio condutor para diversos acontecimentos que definiram o destino de muitos personagens, mas parece não ter ficado apenas no passado. Prova disso são a relação estranha que ele, já na idade adulta, mantém com a pianista Verônica (Helena Ranaldi) e a fixação que vai desenvolver por Luiza (Bruna Marquezine). O autor Manoel Carlos se propõe a dissecar o ciúme diante do público e mostrar que, apesar da antipatia inicial despertada pelo personagem ciumento, ele é mais vítima do que vilão.

Um pouquinho de ciúme pode até fazer bem para a relação. Afinal, quem ama quer preservar seu amor. Para a psicóloga Carmen Cerqueira Cesar, no caso de Laerte –em especial do personagem mostrado na segunda fase– existe uma questão emocional particular, mas que é bastante comum.

"Ele tem obsessão pela Leninha, não vive e não a deixa viver. Não é um amor saudável, parece mais ligado à necessidade do que ao desejo. Ele precisa de Helena para se sustentar enquanto sujeito. Se ela não está ao seu lado ou olha em outra direção, é como se não o desejasse mais. Laerte é tão inseguro que, quando se sente ameaçado, desmorona", diz a especialista.

Segundo Carmen, outro fator que contribui para a personalidade frágil do flautista é a imaturidade –por isso, se apoia tanto em Helena. Na origem do problema está a relação com a mãe superprotetora e permissiva, que não o deixou crescer e que mascara seus erros, além de se angustiar e ficar irada quando alguém fala dele.

"Ela pensa que seu filhinho é perfeito, o mundo é que é mau. Por isso, ele não se responsabiliza por nada, pois emocionalmente é uma criança. Ele não é ruim, mas profundamente imaturo", diz a psicóloga.

Laerte também não aprendeu a lidar com as emoções. Ele é tomado por elas, parte para a ação e faz besteiras. Acaba sofrendo com a própria compulsão, percebe o que fez, pede desculpas e diz que não vai acontecer de novo, mas não consegue evitar.

Na novela, a presença e a palavra do pai de Laerte foram barradas pelo desejo da mãe controladora. Sejam quais forem os motivos, na vida real, muitos homens ciumentos não conseguem lidar com os próprios limites. Para eles, não existe a outra pessoa, com seus desejos. Trata-se de um traço do funcionamento primitivo do ser humano, do bebê, da vida infantil, de alguém que ficou retido lá atrás.

De acordo com a psicóloga Raquel Fernandes Marques, é bastante provável que esse quadro de ciúme patológico possa estar associado a outros transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade. "Pode ocorrer isoladamente em personalidades mais propensas e vulneráveis ou em pessoas com baixa autoestima. Em casos mais expressivos, o ciúme patológico vem acompanhado de sentimentos de rejeição, abandono e raiva", declara.

Raquel conta que a pessoa cujo ciúme encontra-se dentro do normal baseia os seus questionamentos, desconfianças e inseguranças em fatos reais. Já o ciumento doentio tende a fantasiar situações, viver buscando indícios de infidelidade e tem a vida prejudicada por não conseguir pensar em outra coisa que não sejam as suas desconfianças.

"Praticamente nada tranquiliza um ciumento patológico, pois nada resolve suas dúvidas, nada ameniza suas suspeitas. Se ele não pegou nada de errado, acha que é porque não procurou direito. Quanto mais  investiga, mais dúvidas tem, nada traz paz", afirma.

Relação doentia

Na segunda fase de "Em Família", tanto Helena quanto sua mãe chegaram a aconselhar Laerte a fazer terapia, ideia que rechaçada pelo rapaz. Quadros de ciúme patológico merecem mesmo atenção e tratamento, caso contrário o desfecho pode ser bem negativo. Primeiro, porque a pessoa vai minando a relação aos poucos. E, segundo, porque há o risco de se destruir e a seu par.

"O relacionamento com um ciumento pode se tornar insustentável. Quando um homem começa a perseguir, tentar controlar, afastar os amigos ou agredir com palavras ou fisicamente, é hora de considerar se vale a pena continuar esse romance. Frequentemente, mulheres acabam sendo mortas ou prejudicadas por um parceiro ciumento", fala a psicóloga Raquel Fernandes Marques.

Na maior parte dos casos, o rompimento é a solução mais eficaz e segura. "É verdade que o ciumento precisa de ajuda, mas isso não quer dizer que outras pessoas têm a obrigação de viver sofrendo em um relacionamento assim", diz Raquel.

Segundo a psicóloga clínica Andrea Lorena, os ciumentos costumam se relacionar com qualquer tipo de mulher, porém, o ciúme excessivo fica ainda mais evidente sob algumas circunstâncias. "Ocorre, principalmente, quando a parceira é mais espontânea ou segura do que o homem, além de outros quesitos como a história e a personalidade dos envolvidos", diz.

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Na novela, Laerte reclama do jeito da namorada Helena, afirmando que ela dá bola para os outros e gosta de provocar os homens. “Não é apenas uma impressão. Leninha se mostrou imatura e brincou com os sentimentos dos amigos Laerte e Virgílio", conta Carmen Cerqueira Cesar.

"Ela queria ver o circo pegar fogo, alimentava o ciúme dele e parecia se divertir com isso. Talvez se sentisse valorizada, objeto único de uma disputa entre dois machos. Na minha opinião, ela também precisaria de uma terapia, porque continuava em um relacionamento em que o parceiro muitas vezes se tornava violento e a fazia sofrer", fala Carmen.

Para Laerte, a situação era uma forma de ganhar os benefícios secundários de um sofrimento. Porque ele procurava aquilo que vai fazê-lo sofrer? Porque não procurou uma moça quietinha? De alguma forma, ele precisa montar e vivenciar essa “forma de satisfação”, essa cena, da outra se mostrando, provocando, e ele reagindo. Essa, provavelmente, é sua neurose.

"O pior é que um relacionamento em que existe a neurose complementar pode durar anos. Anos de desgaste e sofrimento. São relações extremamente passionais e que oferecem riscos. Ambos podem se matar emocionalmente ou de verdade. Quem vem se identificando com Laerte ou com Helena precisa procurar ajuda, pois vive um romance doente", afirma Carmen.