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Segunda lua de mel não salva casamento, dizem especialistas

Uma viagem, sozinha, não é solução para uma crise no relacionamento. O diálogo, sim - Getty Images
Uma viagem, sozinha, não é solução para uma crise no relacionamento. O diálogo, sim Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

06/03/2014 07h44


Por causa de um momento crítico ou com a vontade de resgatar a paixão do início do relacionamento, há casais que tentam uma uma espécie de segunda lua de mel. Pode ser uma viagem longa ou de apenas alguns dias, para o mesmo lugar da época de núpcias ou rumo a um novo destino. Não importa, o que vale é tentar não deixar a relação naufragar. Nem sempre, porém, a proposta se cumpre, segundo especialistas. Às vezes, a tentativa pode até colocar tudo a perder. E como evitar isso?

Para começar, é importante que o casal deixe certas fantasias para trás, para evitar frustrações. O casamento nunca voltará a ser o que era nos primeiros tempos, pois, com o passar dos anos, homens e mulheres se desenvolvem, amadurecem e se transformam. É fundamental, portanto, lidar com o parceiro real, o de hoje em dia, com seus defeitos e qualidades.

Para a psicóloga e terapeuta de casal Miriam Barros, outra expectativa bem comum é a de que tudo seja maravilhoso na viagem, que exista muito desejo, muito sexo, carinho, conversa… "Isso também pode ser motivo de decepção, pois é um momento em que os dois precisam construir novamente todos esses sentimentos, pois eles não retornam de uma hora para outra, como mágica. Precisa ter de paciência, boa vontade, amor e tempo de qualidade juntos", explica.

Alguns casais podem cultivar a esperanças de voltarem da viagem totalmente resolvidos e transformados, o que também nem sempre acontece. "O par pode voltar mais unido, mas não necessariamente com a crise resolvida", diz Miriam.

Para a psicoterapeuta Sandra Samaritano, a segunda lua de mel até pode salvar um casamento em um período complicado, desde que os dois, em comum acordo, se deem a chance de reescrever a relação. O que ocorre, em muitos casos, é que apenas um dos dois vê a viagem como uma oportunidade de se entenderem.

"Quando só um quer continuar dentro da relação, raramente a história acaba bem", conta Sandra. Assim como o final feliz também fica inviável se ambos aproveitam a folga para destilarem ressentimento, cobranças, ansiedades.

É óbvio que o diálogo é o objetivo principal, mas homens e mulheres devem tomar cuidado com aquilo que falam e, principalmente, da maneira como falam. "É essencial controlar a língua, pois é por causa dela que um romance pode começar e terminar", afirma a psicóloga Ligia Guerra, autora de "Mulheres às Avessas" (Ed. Sextante).

"O ditado que diz que ‘somos donos do que calamos, mas escravos do que falamos’, é real. Quer dar uma nova chance à relação? Então esqueça o baú das reclamações em casa", afirma.

A sugestão é procurar resgatar o que o parceiro tem de bom. Na opinião de Lígia, artifícios como lingerie sexy e buquê de flores servem apenas como estímulo, jamais como respostas. "para uma relação amadurecida, tente em uma nova forma de enxergar a outra pessoa, redescobrindo a antiga ou descobrindo a nova", conta a psicóloga.

Isso não significa, entretanto, fazer de conta que os problemas não existem. É preciso diálogo, sim, mas de um modo assertivo, sem troca de acusações e ironias. "Quando ambos deixam de se enxergar com generosidade e acolhimento e vão para a lua de mel querendo ter razão, a viagem pode ser uma roubada", fala Lígia. “Mas se não conversarem sobre a crise, estarão segurando o tempo todo o que gostariam de dizer sobre a relação. O clima ficará tenso, sem espontaneidade e sem prazer", complementa Miriam Barros.


De acordo com a psicanalista Blenda de Oliveira, o entendimento de um casal não vai acontecer em uma viagem, mas o período pode fazer parte do entendimento. "As pendências não se resolverão magicamente. Sair para umas férias é uma parte de algo maior que requer rotineiramente que seja regado, alimentado e discutido, quando necessário. Nem segunda, terceira ou quarta lua de mel dará conta de determinadas questões, portanto, cuidar sempre é uma possibilidade de prevenção", fala a especialista.

Tirar um tempo só para os dois, de vez em quando, pode ajudar a evitar que no futuro invistam em uma lua de mel com o objetivo de resgatar coisas ou consertar problemas. É importante que o casal tenha momentos só deles, sem mais ninguém.

"Isso ajuda a manter a intimidade emocional, pois existem coisas que serão compartilhadas apenas entre eles, o que alimenta o sentimento de ser único para o parceiro e vice-versa", explica Miriam.

Um casamento precisa de momentos de reciclagem e afastamento da rotina, que não necessariamente precisa ser com grandes viagens, mas com a possibilidade de no dia a dia o casal criar novos espaço para fugir um pouco da correria do cotidiano. "A segunda lua de deveria ser uma celebração, um presente que o casal se dá", diz Blenda.