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Busca frenética por um amor atrapalha outros aspectos da vida

Na ânsia de assumir um compromisso, é comum a pessoa acabar fazendo escolhas equivocadas - Stefan/UOL
Na ânsia de assumir um compromisso, é comum a pessoa acabar fazendo escolhas equivocadas Imagem: Stefan/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

02/06/2014 07h04

Algumas pessoas simplesmente não conseguem viver sozinhas. Precisam de alguém ao lado não só porque gostam de companhia para aproveitar a vida, mas também por carência. Sentem uma necessidade imensa de amarem e serem amadas, e às vezes até porque se sentem mais valorizadas em diversos aspectos, principalmente o social, quando estão com um par.

O problema é que nem sempre as circunstâncias colaboram para que o desejo de ter um parceiro seja concretizado. Muita gente encara a solteirice numa boa e não deixa de investir em outras coisas enquanto o amor não aparece. Por outro lado, há quem se lance em uma busca incansável atrás de um par –e essa atitude, em vez de contribuir para que a área afetiva saia do marasmo, acaba atrapalhando outras esferas da vida.

Um exemplo típico? Ficar de antenas permanentemente ligadas à caça de alguém na balada, no bar, na faculdade, nos eventos do trabalho, no trânsito, na padaria... Na opinião da psicoterapeuta Andrea Vaz, da Rhava Psicologia, do Rio de Janeiro (RJ), a pessoa que sai para passear com a ilusão de estar se divertindo, mas não para de procurar um parceiro, pode perder grandes momentos de lazer em sua vida.

"A pessoa está esquecendo de olhar para si e de fazer o que gosta. Quem age assim também costuma colocar família, amigos, trabalho e viagens em segundo plano. Além disso, sonhos e planos passam a ser adiados por causa dessa obsessão", fala Andrea, que diz ainda que geralmente os amigos mais íntimos percebem a fixação e a sinalizam, mas nem todo mundo está pronto para ouvir críticas.

"Temos vários papéis a desempenhar em nossas vidas. Se a prioridade for achar um par, papéis que podem e devem ser muito prazerosos acabam comprometidos sem sequer nos darmos conta, pois a atenção está voltada para a busca por um relacionamento. E ela precisa ser algo natural", diz a neuropsicanalista Priscila Gasparini Fernandes, também da capital paulista.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2012/08/14/qual-o-seu-tipo-de-solteirice.htm')

Segundo Andrea Vaz, seria muito importante que todo indivíduo angustiado por amor procurasse ajuda na psicoterapia. "As pessoas sofreriam menos e passariam a se amar mais, mas infelizmente elas costumam atribuir a felicidade a alguém que está por surgir para modificar e arrumar toda bagunça da sua vida", comenta a psicoterapeuta. Só que a busca da realização deveria ser independente de ter ou não alguém.

Outro erro bem comum na ânsia de assumir um compromisso é acabar fazendo escolhas amorosas equivocadas. Para a psicóloga especializada em sexualidade Juliana Bonetti Simão, de São Paulo (SP), em se tratando do sexo feminino não é raro ver mulheres em relacionamentos que claramente são calcados na dependência afetiva, e não no amor.

"Muitas ainda consideram que ter um homem é moeda que as valoriza, já que ainda existe muita cobrança social para a mulher assumir um compromisso. Em outros casos, se envolvem por carência e por não terem discernimento daquilo que querem e precisam”, explica. O resultado disso é um relacionamento infeliz atrás do outro
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Para Priscila Fernandes, conseguir alguém a todo custo faz com que a pessoa passe por cima de seus próprios critérios e valores. "Pessoas assim têm a ilusão de que irão mudar o outro, mas caráter e personalidade não se modificam. Então, é importante encontrar alguém cuja maneira de viver e pensar é parecida com a nossa. Aí, sim, tende a ser um relacionamento frutífero", declara.

Outro ponto fundamental que as pessoas esquecem é que, antes de embarcar numa vida a dois, precisam se sentir bem com elas mesmas. Se estamos infelizes com o que somos não nos relacionamos com o outro de igual para igual, nos relacionamos como se o outro pudesse nos dar algo que não temos e precisamos muito. Dessa maneira, um sentimento de privação afetiva predomina e mobiliza em nós escolhas pautadas na carência e na necessidade de preencher um vazio existencial.


De acordo com Raquel Fernandes Marques, psicóloga da Clínica Anime, de São Paulo (SP), apesar de muita não perceber ou não aceitar, ser feliz e estar sozinho são duas condições que podem conviver juntas da melhor forma possível.

"Muitas pessoas acreditam que se abrirem mão da crença de que só serão completas quando tiverem um par amoroso também abrirão mão do romance em sua vida e irão acabar com a magia do amor. Na verdade, o que ocorre é o oposto disso, pois a felicidade que não depende da vida amorosa liberta e permite que uma pessoa viva as relações interpessoais de maneira mais plena", afirma.

Estar solteiro é a possibilidade de se conhecer de uma maneira mais profunda e aberta. Você pode redescobrir sua identidade, seus próprios desejos e limites, sem confundir-se com a identidade e os desejos de outra pessoa. O exercício do autoconhecimento pode ajudar em várias áreas da vida, incluindo a convivência com o próximo.

"Antes de tentar se tornar quem você gostaria de ser, observe se suas expectativas com relação a si mesmo não estão equivocadas, talvez você esteja melhor assim. E lembre-se que o autoconhecimento também evita a repetição de possíveis fracassos ou insatisfações com relacionamentos amorosos no futuro", diz a psicóloga Raquel.

"Para quem está à espera de um amor, recomendo ter paciência e aceitação, e também observar o próprio comportamento no cotidiano, porque muita gente diz que quer relacionamento sério, mas transmite uma mensagem oposta. E vale ainda analisar se quer mesmo uma relação séria no momento ou apenas atender um apelo social que cobra o namoro ou o casamento", diz Juliana Bonetti Simão.