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Pense duas vezes antes de criticar a família do seu par

"Ninguém gosta de ouvir críticas sobre familiares", diz a psicóloga Triana Portal - Getty Images
"Ninguém gosta de ouvir críticas sobre familiares", diz a psicóloga Triana Portal Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

27/08/2014 08h04

Quando um casal se forma, um leva para a vida do outro o "pacote" completo: qualidades, defeitos, manias e, claro, a família de origem. O ideal seria investir na tolerância e viver em paz, mas nem sempre os parentes do parceiro correspondem às expectativas: a mãe é intrometida, o futuro sogro faz piadinhas preconceituosas, o irmão é um folgado... 

O choque de realidade, porém, demora um pouco para acontecer. “Durante a fase de apaixonamento, é comum idealizar tudo o que envolve a vida do par. E, quando idealizamos uma situação, é comum nos atermos apenas aos aspectos positivos, por isso a família do outro não é percebida de forma realística logo de cara", diz o psicólogo e terapeuta familiar Marcelo Lábaki Agostinho, que atende em consultório particular e no IP-USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo). Será somente depois de o casal já estar junto há algum tempo que os aspectos negativos das famílias de origem de cada um passam a ser notados.

Para conviver com a família um do outro em harmonia, o primeiro passo é tentar entender porque determinadas atitudes ou características incomodam tanto e, a partir daí, elaborar uma estratégia para lidar com as divergências. Censuras e comentários negativos ou pejorativos devem ser evitados, não só para o bom entendimento entre o casal, mas para não provocar mágoas e ressentimentos desnecessários.

“Ninguém gosta de ouvir críticas ou reclamações sobre familiares, parceiros, amigos... Isso é regra geral. A própria pessoa pode viver reclamando e criticando as mesmas coisas, mas quando um terceiro é quem julga provoca uma reação desagradável, que ativa o sensor natural de defesa”, explica a psicóloga clínica e psicoterapeuta Triana Portal, de São Paulo (SP). “A crítica pode até ser um fato, mas dói ouvi-la. Quando alguém agride verbalmente nossa própria família, é como se tivesse diminuindo a nós mesmos”, completa. $escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2012/05/09/voce-deixa-a-familia-interferir-na-relacao.htm')

Além disso, todas as famílias tem seus problemas, segredos, fraquezas. “Tocar na ferida do outro, reativar dores antigas ou provocar vergonha é algo muito sério. Há indivíduos que não aguentam. Portanto, cuidado com o que diz e como diz. É possível expor algo que o incomoda sem enxovalhar o par ou a família dele”, diz Triana. 

Discordar em relação à forma de agir da família do outro, criticar membros por pensarem de forma diferente a sua ou não tolerar costumes e opiniões que fizeram parte da formação do amado pode criar uma situação desnecessária de escolha.

“Ao criticar a família do outro, a pessoa o coloca em uma situação de conflito entre sua opinião e a da família, para a qual muitas vezes o par tem um sentimento de dever”, afirma Luciano Passianotto, terapeuta de casal do Cinapsi (Centro Integrado de Neuropsicologia e Psicologia), de São Paulo (SP). Em vez de criticar ou acusar, busque colocar as necessidades do casal no centro da questão e discutir como atendê-las de uma forma que não soe desrespeitosa.

Em muitos casos, o impulso daquele que recebe a crítica é partir para o ataque e aí todos saem machucados, pois nessas horas as pessoas dizem tudo o que sentem e um pouco mais, e palavras causam danos profundos. “Não seria mais interessante tentar aprender com as riquezas que as diferenças podem trazer? Além disso, conhecer melhor a família de origem do cônjuge possibilita conhecer melhor o próprio parceiro, o que pode trazer um crescimento para a relação dos dois”, diz Marcelo.


Por mais diferentes que sejam seus membros, é bom lembrar que cada família forma uma unidade e, portanto, tem sua dinâmica e uma visão própria sobre assuntos como crenças religiosas e modo de lidar com o dinheiro, por exemplo. Quanto mais divergentes forem os valores de quem chega à essa família, maior chance de conflito.

“Por isso é importante que o casal se una e converse para buscar entender como a família do outro lida com determinadas questões. E depois, sem julgamentos, ambos terão condições de decidir juntos como irão lidar com o assunto, lembrando sempre que a família de cada um funciona de um jeito e a nova, formada pelo casal, também terá suas características", declara o terapeuta de casal Luciano Passianotto.

Todo casal precisa definir seus próprios valores, limites e acordos, independentemente da educação que cada um teve. “Isso deve estar acima da opinião ou forma de encarar a vida das famílias de onde vieram, e para que ambos se sintam felizes, algumas mudanças de costume podem ser necessárias. O casal tem de ser independente de suas famílias, pois o modo de agir ou pensar que antes funcionava sem problemas pode agora prejudicar seu casamento”, completa Luciano.

E essa união deve prevalecer mesmo quando houver imposição de ideias e valores por parte da família de origem, o que não descarta, obviamente, o respeito mútuo pelas diferenças.