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Como muitos, Fernando e Aline do 'BBB' confundem paixão com amor

Aline e Fernando: use o campo de comentários para opinar sobre o casal do "BBB15" - Paulo Belote/TV Globo
Aline e Fernando: use o campo de comentários para opinar sobre o casal do "BBB15" Imagem: Paulo Belote/TV Globo

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

20/02/2015 19h04

Além das brigas, um dos grandes atrativos para os fãs do "Big Brother Brasil" são os romances entre os participantes. Na 15ª edição, o casal Fernando e Aline despertou o interesse do público por vários motivos, como o triângulo amoroso com Amanda e as cenas e conversas tórridas sob o edredom. Outro fato, porém, chamou a atenção: a rapidez com que o casal trocou juras de amor. Ao ser eliminada no dia 17 de fevereiro, Aline se declarou a Fernando e confirmou sua intenção de se casar com ele em um futuro próximo.

O "BBB15" estreou em 20 de janeiro. Apenas dez dias depois, Fernando disse “eu te amo” para a loira pela primeira vez. Atitudes intensas e emocionadas são comuns em atrações da TV desse tipo, mas será que é possível desenvolver um sentimento tão forte por alguém em tão pouco tempo? De acordo com especialistas, as emoções de Fernando e Aline são legítimas, mas ambos estão confundindo sentimentos.

Para Triana Portal, psicóloga clínica e psicoterapeuta de São Paulo (SP), o termo "amar", hoje em dia, é usado amplamente e com muita frequência e facilidade. "No entanto, amor é algo que exige tempo. Normalmente, chamamos essa fase inicial, a do encantamento, de paixão, e ela pode se transformar em amor ou não. A paixão se caracteriza pela intensidade das emoções e expectativas", explica.

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"Na fase da paixão, um ainda se projeta muito no outro, ambos dão o melhor de si e mágoas ainda não fazem parte da história do casal. Com isso, tudo tem um colorido especial, diferente da calmaria e maturidade do que nomeamos por amor", conta Triana. O amor é pautado em companheirismo, amizade, aceitação dos defeitos do outro, sintonia e afinidades, coisas que são construídas com o tempo e a convivência.

Cibele Fabichak, mestre em Fisiologia pela Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e autora de “Sexo, Amor, Endorfinas & Bobagens” (Ed. Novo Século), lança mão da ciência para explicar as diferenças, mais precisamente de pesquisas que surgiram nos Estados Unidos nos anos 2000. Os estudos mais famosos foram os conduzidos pela antropóloga e pesquisadora Helen Fisher, que resultaram no livro "Por Que Amamos – A Natureza e a Química do Amor Romântico” (Ed. Record), de 2004.

"As pesquisas de Helen concluíram que as pessoas amam conforme três fases biológicas. A primeira, a da luxúria, que consiste no desejo sexual e na necessidade de estar com o outro. Nessa etapa, os hormônios testosterona e estrógeno estão a mil, acompanhados do neurotransmissor endorfina, culminando no tesão", explica.

A segunda fase é a da atração ou paixão, quando a pessoa apresenta extrema euforia e obsessão para estar ao lado do par. O indivíduo é inundado por uma deliciosa sensação de prazer. "Não é à toa que muitos cientistas e médicos costumam dizer que a paixão é um antidepressivo natural", diz Cibele.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2015/02/07/quanto-tempo-voce-duraria-no-bbb.htm')

A fase seguinte é a da ligação. "Há a construção de um vínculo mais forte e os envolvidos experimentam paz, calma, intimidade. Essa etapa de estabilidade configura o amor, propriamente dito, e demanda tempo para acontecer. Não ocorre em duas semanas nem em dois meses", fala a fisiologista..

"O que acontece no 'BBB' é que o confinamento faz com que os cinco sentidos fiquem ativados ao extremo, aumentando o nível dos hormônios. Há, ainda, uma série de estímulos que geram respostas de atração e paixão. A impressão é de que os participantes vivenciam, simultaneamente, as três fases, mas na verdade só experimentam as duas primeiras", fala Cibele Fabichak.

Construção dia a dia

Para a psicóloga Rejane Sbrissa, de São Paulo (SP), o confinamento e o ócio típicos do programa fazem com que a carência emocional e a saudade do que ou de quem ficou do lado de fora apareçam com intensidade. "Lá dentro, fica mais fácil ver as qualidades do outro ou querer vê-las. São pessoas juntas, sem informações umas das outras, a não ser os dados que cada um quer revelar. Por isso acreditam que se conhecem e se amam tanto", afirma.

Diferentemente da paixão, o amor é construído no dia a dia, e não só através de beijos calorosos, sexo selvagem e troca de elogios. Até as crises e conflitos o fortalecem. "Para se ter certeza que se ama alguém é necessário conhecer bem essa pessoa, afinal, não se pode amar quem não se conhece", diz o terapeuta familiar e de casal Luciano Passianotto, de São Paulo (SP).

Para ele, o “amor à primeira vista”, como alguns chamam o encantamento fulminante por alguém, é um conceito romântico. "No amor à primeira vista há atração e euforia, idealização do outro e projeção dos seus desejos e fantasias sobre ele. É como se você estivesse apaixonado pela imagem que você acabou de criar da pessoa supostamente amada, não por ela mesma", diz.

Há, ainda, outra tese levantada pelo sociólogo polonês Zigmunt Bauman em seu livro “Amor Líquido – Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos” (Ed. Jorge Zahar), de 2004: as relações modernas, cada vez mais fugazes e flexíveis, transmitem a ideia de intensidade, embora superficiais.

“É como se o consumismo desenfreado tivesse atingido os relacionamentos. No momento em que o consumimos e o vivemos, sua força dá a impressão de que é amor. Parece amor, mas não é, pois o vínculo não chega a ser construído. A relação é descartada antes. É por isso que muitos dos romances vividos durante o 'BBB' não vingam meses depois que o programa acaba”, comenta Cibele Fabichak.

Circunstâncias em que a convivência se torna estreita em pouco tempo contribuem para que as pessoas vivam um romance rápido com maior intensidade. “O tempo limitado impõe maior valorização. Qualquer experiência prazerosa, mesmo que seja observar um pôr do sol, costuma ser aproveitada com mais entrega quando sabemos que ela não estará disponível por muito tempo”, conta Luciano.

As chances de um “amor a jato” dar certo costumam ser menores, segundo os especialistas, pois etapas importantes são puladas e a base da relação fica fraca. “Relacionamento é construção, processo, caminhada. Encurtar a jornada não é seguro. Pessoas que mergulham de cabeça em relacionamentos costumam ter a mesma facilidade para sair deles, pois vivem intensamente cada momento e estão sempre em busca de novas emoções", descreve Triana.