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Estigma de doenças mentais afasta possíveis parceiros

Esquizofrenia evoca coisas assustadoras que dificultam sucesso nas relações - Joyce Hesselberth/NYT
Esquizofrenia evoca coisas assustadoras que dificultam sucesso nas relações Imagem: Joyce Hesselberth/NYT

Michael Hedrick

The New York Times

25/06/2015 11h26

Arrumar um encontro já é complicado. Arrumar um encontro quando você é obeso é ainda mais difícil. Mas a coisa fica quase impossível quando você é um cara grande e que ainda tem um problema mental sério.

É verdade que tive algum sucesso amoroso nos dez anos em que passei a conviver com a esquizofrenia. Mas existem muitos obstáculos. Esquizofrenia é uma palavra assustadora para muita gente. Ela faz lembrar de tentativas de assassinato, falta de controle e mais um punhado de coisas assustadoras.

Contudo, tenho de viver com essa palavra; sou essa palavra. E esse não é o tipo de coisa que você pode falar casualmente no meio de uma conversa e depois dizer: "mas isso não é nada demais".

Eu me apaixono fácil e sempre por mulheres que não sentem o mesmo. Já fui mais rejeitado do que gosto de admitir, quase sempre por agir dessa forma, e não é nada fácil impedir que minhas emoções tomem conta de mim.

Se não se trata de rejeição pura e simples, outra coisa sempre acaba acontecendo.

Eu me lembro de um encontro a que fui há alguns meses. Ela tinha cabelos loiros e um olhar de quem não estava a fim de brincadeira. A gente se conheceu no Match.com, e eu fiquei curioso com a quantidade de vezes em que ela foi a shows do Phish, banda de rock americana. O perfil dela listava uma série de bandas que eu havia adorado em diferentes pontos da minha vida.

Também era professora e escreveu no seu perfil que adorava purpurina, artesanato, arco-íris e que, por isso, era uma menina de seis anos presa no corpo de uma mulher. Antes que eu me desse conta, perguntei se ela gostaria de tomar uma cerveja. A resposta foi sim, um pouco rápido demais, pensei na época.

Cheguei ao restaurante uns 15 minutos antes da hora marcada e pedi uma cerveja, sabendo de antemão que em algum momento eu teria de contar a ela sobre a minha doença. Logo em seguida ela entrou, mas não pude evitar a impressão de que ela estava um pouco desapontada por ter ido. Ela não sorriu ao me ver nem ao se sentar.

Eu perguntei como ela estava e, depois de quase 45 minutos, tive a impressão de que já sabia absolutamente tudo sobre sua vida. Ela havia comprado um sofá que era grande demais para a sala e tinha um vazamento no apartamento. Passou o fim de semana tingindo macacões para seu sobrinho recém-nascido e eu não disse quase nada.

Por fim, ela perguntou o que eu fazia da vida, e contei que escrevia sobre doenças mentais. O que ocorreu em seguida foi a mesma coisa de sempre: como eu me meti nisso? Tinha alguma experiência pessoal?

Naquele momento, minha única opção era revelar meu diagnóstico, e depois de uma ida rápida ao banheiro, ela voltou com mais questões. Eu era perigoso? Já havia matado alguém? Nem preciso dizer que o encontro acabou logo em seguida.

Às vezes, o estigma da doença mental acaba com qualquer chance de sucesso. Outras vezes, notei que sou eu quem não suporta a ideia de estar em um relacionamento.

Alguns meses mais tarde, um encontro com uma mulher muito simpática de cabelo escuro teve um resultado muito melhor. Nós começamos a conversar sobre seus comediantes favoritos por meio do OkCupid, site de encontros, e nos conhecemos na sala de provas de uma cervejaria. As coisas estavam indo muito bem e depois que falei a ela sobre minha doença mental, ela naturalmente foi ao banheiro. Mas retornou e me contou que passou por um caso de ansiedade extrema. Pelo menos, tínhamos isso em comum.

Trocamos muitas mensagens nos dias seguintes, mas dessa vez, percebi que era eu que não conseguia me imaginar em um relacionamento. Não sei se por causa do medo de me ver em uma relação com outra pessoa, da vulnerabilidade que sentia por estar tão perto de alguém, da sensação de estar fora do controle ou porque faltava química entre a gente. Então, preferi terminar tudo e ainda não sei ao certo o motivo. Ela era ótima, e eu ainda me sinto um pouco culpado.

A confiança é bem difícil para mim --meus piores sintomas giram em torno da paranoia de que as pessoas estão me julgando e rindo de mim--, por isso confiar em uma pessoa nova tão rapidamente é dificílimo.

E para completar, um dos maiores obstáculos de viver com a esquizofrenia é a sensação de sufocamento, a impressão de que não estou 100%. Tenho um pico de paranoia, então caio em uma depressão que pode durar meses. Normalmente, isso é resultado das pressões do trabalho, mas os relacionamentos são uma grande fonte de estresse. É difícil até pensar a respeito. Seria pouco dizer que fico assustado. Lutar contra o elefante da esquizofrenia sentado no meio da sala nunca é fácil.

Adoraria me casar um dia, mas por enquanto prefiro repetir o mantra: "Não vá atrás das pessoas, seja legal e a pessoa certa chegará até você".

Eu gostaria que isso acontecesse naturalmente.