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Contato com a natureza diminui chances de ansiedade e depressão

Quem frequenta áreas verdes tem menor risco de sofrer de ansiedade e depressão - Getty Images
Quem frequenta áreas verdes tem menor risco de sofrer de ansiedade e depressão Imagem: Getty Images

Gretchen Reynolds

The New York Times

30/07/2015 12h32


Uma caminhada no parque pode acalmar a mente e, no processo, mudar o modo como ela funciona melhorando nossa saúde mental. É isso que afirma um estudo recente sobre os efeitos físicos que o contato com a natureza tem no cérebro.

Hoje, a maioria das pessoas moram em centros urbanos e passam muito menos tempo em espaços verdes e naturais do que as gerações passadas. Moradores das cidades têm riscos maiores de sofrer de ansiedade, depressão e outras doenças mentais do que aqueles que vivem longe da do espaço urbano,

Esses fatores parecem ligados de alguma maneira, de acordo com um conjunto cada vez maior de pesquisas. Vários estudos descobriram que quem mora nas cidades, com pouco acesso a áreas verdes, tem incidência mais alta de problemas psicológicos do que as pessoas que vivem perto de parques. Além disso, os moradores urbanos que frequentam ambientes naturais têm níveis menores de hormônio do estresse, logo depois da visita, do que aqueles não veem áreas verdes há algum tempo.

Mas ainda não está claro como frequentar um parque ou a outra área verde pode alterar o humor. Será que vivenciar a natureza realmente mudar o nosso cérebro de modo a afetar nossa saúde emocional?

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Essa possibilidade intrigou Gregory Bratman, aluno de graduação do Programa Interdisciplinar Emmett de Meio Ambiente e Recursos da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, que estuda os efeitos psicológicos da vida urbana. Em um estudo publicado no último mês, ele e seus colegas descobriram que voluntários que andaram brevemente no meio de uma exuberante área verde no campus da universidade ficaram mais atentos e felizes depois do que os que passearam o mesmo tempo perto de tráfego pesado.

Mas o estudo não examinou os mecanismos neurológicos relacionados aos efeitos de estar na natureza. Assim, para a nova pesquisa, que foi publicada no último dia 14 "Proceedings of the National Academy of Sciences", Bratman e seus colaboradores decidiram analisar mais de perto qual o efeito de uma caminhada para desenvolver preocupações.

Ficar preocupado, mais conhecido entre os cientistas cognitivos como ruminação mórbida, é um estado mental familiar à maioria de nós no qual parece que não podemos parar de "mastigar" as maneiras em que as coisas estão erradas conosco e com nossas vidas. Essa preocupação estilo "disco riscado" não é saudável e não ajuda em nada. Pode ser uma precursora da depressão e é desproporcionalmente comum entre as pessoas das cidades em comparação com aqueles que vivem fora das áreas urbanas.

Talvez mais interessante para os objetivos de Bratman e seus colegas, no entanto, esse tipo de ruminação também é fortemente associado ao aumento da atividade em uma porção do cérebro conhecida como área subgenual do córtex pré-frontal. Se os pesquisadores pudessem acompanhar a atividade nessa parte antes e depois de a pessoa entrar em contato com a natureza, eles teriam uma ideia melhor sobre em que extensão as áreas verdes mudam a mente das pessoas.

Bratman e seus colegas primeiro juntaram 38 moradores adultos e saudáveis da cidade e pediram que completassem um questionário para determinar seu nível normal de ruminação mórbida. Os pesquisadores também checaram a atividade cerebral da área subgenual do córtex pré-frontal de cada voluntário, usando escâneres que avaliam o fluxo de sangue no cérebro. Maior fluxo de sangue é normalmente um sinal de mais atividade nessas áreas.

Então, os cientistas distribuíram aleatoriamente metade dos voluntários para andar por 90 minutos por uma área verde e calma, parecida com um parque, no campus de Stanford, ou perto de uma estrada larga, movimentada e barulhenta. Os voluntários não podiam ter companhia nem ouvir música. Eles andaram no ritmo que preferiram.

Imediatamente depois de terminar de andar, os voluntários voltaram ao laboratório e repetiram tanto o questionário quanto o escaneamento do cérebro. Como era esperado, andar ao longo de uma estrada não acalmou a mente dos voluntários. O fluxo de sangue na área subgenual do córtex pré-frontal ainda estava alto, e o nível de ruminação não mudou.

Mas, os voluntários que andaram pela trilha tranquila, cheia de árvores, mostraram melhoras pequenas, mas significativas na saúde mental, de acordo com os questionários. Eles já não estavam mais tão presos aos aspectos negativos de suas vidas quando antes. Também tinham um fluxo de sangue menor na região subgenual do córtex pré-frontal. Essa parte do cérebro estava mais tranquila.

"Esses resultados sugerem que estar em ambientes naturais pode ser uma maneira quase imediata de melhorar o humor para as pessoas que vivem em cidades", diz Bratman.

Claro que muitas perguntas ainda não foram respondidas, afirma ele, incluindo quanto tempo na natureza é suficiente ou ideal para nossa saúde mental, assim como quais aspectos do mundo natural são mais tranquilizadores. É o verde, a calma, o sol, os cheiros, tudo junto, ou algo diferente que melhora nosso humor? Precisamos estar andando ou fazendo uma atividade física para conseguir totalmente os benefícios psicológicos? Devemos estar sozinhos ou a companhia amplifica a melhoria do humor?

"Ainda precisamos fazer uma quantidade tremenda de estudos", afirma Bratman.

Mas, enquanto isso, ele explica que há poucas desvantagens de se passear pelo parque mais próximo, e alguma chance de que você possa silenciar beneficamente, pelo menos por um tempo, a área subgenual do córtex pré-frontal.