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Professores se referem a estudantes como "alunxs" para não destacar gênero

Imagem de cabeçalho de prova do colégio Pedro II foi postada no Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem de cabeçalho de prova do colégio Pedro II foi postada no Facebook Imagem: Reprodução/Facebook

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

25/09/2015 12h14

 

Uma imagem de um cabeçalho de prova do Colégio Pedro II, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, caiu nas redes sociais e gerou polêmica. A palavra "aluno" foi substituída por "alunx" –o uso da letra x para suprimir gênero, no entanto, não é novidade, e é uma prática comum entre movimentos feministas e LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis).

Em entrevista ao UOL Comportamento, o reitor do colégio, Oscar Halac, disse que a escola não se posiciona contra o uso do termo, mas que a troca dos artigos pela letra x não é uma prática institucionalizada. "Não tenho autoridade para mudar a ortografia do país. A questão da discussão de gênero existe há muito tempo e não é uma decisão da escola que vai resolver toda a problemática que isso envolve", fala Halac.

O reitor conta que alguns professores e alunos que defendem a aceitação e tolerância à diversidade de gêneros começaram a utilizar o termo. "A ideia é chamar atenção da sociedade e mostrar que, quando não há tolerância, só se causa dor e sofrimento ao próximo, pois a pessoa fica aprisionada em um corpo que não é o seu. Sem apoio, muitos chegam a cometer suicídio ou se anular", afirma.

Para Halac, é preciso entender e compreender que existem pessoas que se sentem diferentes. "Não é um problema que se reduz ao x em 'alunxs', o real xis da questão é a nossa capacidade de aceitar e conviver com pessoas mais felizes."

Críticas

O colégio, que é um dos mais tradicionais do ensino público federal e liderou o ranking das escolas públicas do Rio no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), foi duramente criticado nas redes sociais por "violar" o português.

"Esse termo já é usado na internet faz tempo e nunca ninguém questionou que ele faria alguém desaprender a escrever. Nossos resultados acadêmicos são excelentes e a escola definitivamente não está vilipendiando a língua portuguesa. Trata-se apenas de um posicionamento de alguns professores com relação aos diferentes gêneros", explica Halac.

Além do cabeçalho de prova, o termo "alunxs" também apareceu em um comunicado na entrada de uma das unidades do Pedro II. "O aviso foi colocado no campus São Cristóvão III, em que estudam alunos do ensino médio, ou seja, adolescentes. O termo não foi propagado para os alunos da educação infantil e do ensino fundamental", diz Halac.

O reitor entende que a troca das palavras pode gerar reações contrárias, mas não admite que a intolerância cause sofrimento em uma parte da população. "A orientação sexual de alguém só cabe ao próprio indivíduo e a mais ninguém. Não consigo compreender por qual motivo esse tema incomoda tanto as pessoas. Não dá para causar dor ao outro só porque ele tem uma orientação diferente da sua", fala.

Para discutir e trabalhar a questão dos diferentes gêneros, a escola conta ainda com um núcleo de estudos em educação e diversidade, que coordena seminários, palestras, oficinas e fóruns voltados para alunos e professores que se interessem pelo tema.