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O que justifica os comentários maldosos sobre as crianças do "MasterChef"?

Os jurados Fogaça, Paola e Jacquin, durante o "MasterChef", reality da Band - Divulgação /Carol Gherardi/Band
Os jurados Fogaça, Paola e Jacquin, durante o "MasterChef", reality da Band Imagem: Divulgação /Carol Gherardi/Band

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

27/10/2015 17h15

O reality show "MasterChef Júnior" estreou no último dia 20 e, logo no primeiro dia, duas das crianças participantes foram alvo de comentários agressivos nas redes sociais. Valentina, 12 anos, foi vítima de ofensas com conotação sexual, e Hytalo, 11, já eliminado, foi agredido com comentários homofóbicos.

De acordo com Vera Blondina Zimmermann, doutora em psicologia e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), por ser uma versão infantil do “MasterChef Brasil”, sem adaptações para a faixa etária dos participantes --como mudança no horário de exibição--, o nível de exposição das crianças candidatas é o mesmo dos adultos. Trata-se de uma atração com crianças, mas feita para adultos, o que colabora para que os telespectadores esqueçam que os que estão ali são menores de idade.

“A atração coloca a criança cozinhando e, portanto, na mesma situação de um adulto. Não é uma brincadeira, é uma competição. Dessa forma, é preciso estar preparado, pois as críticas são inevitáveis e incontroláveis”, afirma a professora da Unifesp.

Outro agravante, segundo Vera, é o uso indiscriminado das redes sociais, que faz com que os internautas deixem de refletir sobre o que vão dizer. “Tudo é publicado. O indivíduo tem uma ideia e esquece que ela atingirá milhões de pessoas em poucos segundos e ficará registrada, mesmo que ele venha a apagá-la.”
 
Para Quézia Bombonato, da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), é dever dos pais evitar a hiperexposição dos filhos, pois isso também colabora para que os valores sejam invertidos e as crianças passem a ser tratadas como adultos. “Para quem essa exposição é útil? Os pais acabam colocando o filho em uma posição para a qual ele não está preparado. As famílias precisam tomar muito cuidado”, diz.

Falta de pudor

Para Veronica Eloi, socióloga e pesquisadora de televisão da UFF (Universidade Federal Fluminense), o formato da atração não pode ser responsabilizado pelo teor dos comentários dirigidos a Valentina e a Hytalo nas redes sociais. Ela afirma que o comportamento agressivo de alguns telespectadores está enraizado na cultura brasileira, que perdeu o pudor até com as crianças.

"Ninguém nasce sexista ou homofóbico. As pessoas aprendem a ser assim. É preciso discutir a responsabilidade da sociedade como 'professora' dessa liberdade que permite naturalizar essas agressões", afirma. 

Procurada pelo UOL Comportamento, a Band também descartou que o modelo do reality seja o motivador dos ataques. "Independentemente do horário de exibição, o foco do programa é o talento das crianças e, nem de longe, há qualquer provocação a esse tipo de estímulo", declarou a emissora por e-mail.