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Pais e filhos moram juntos em comunidades para aposentados

Allen, 71, e sua mãe, Hilda, 95, moram juntos em uma comunidade - NYT
Allen, 71, e sua mãe, Hilda, 95, moram juntos em uma comunidade Imagem: NYT

Paula Span

The New York Times

12/01/2016 15h38

Todas as manhãs quando acorda, Allen Geiwitz dá uma olhada em sua mãe, Hilda, que gosta de dormir até mais tarde e coloca os cereais matinais sobre a mesa da cozinha, junto com as pílulas dela. Um pouco depois, assim que ela acorda, volta para fazer seu café.

“Vou até lá várias vezes por dia para ter certeza de que ela tomou os remédios. E ela gosta que eu fique um pouco”, afirma Geiwitz, 71, programador de computador aposentado.

Hilda Geiwitz, 95, não dirige mais, então, o filho a leva para as consultas médicas. Ele garante seu suprimento contínuo de livros da biblioteca e vídeos com documentários sobre a natureza. Os dois jantam todas as noites com três amigos idosos. Nas noites de domingo, ficam ansiosos para assistir à série policial “Columbo”, na TV a cabo.

A vigilância, cuidados e companheirismo se tornaram muito mais simples agora que Allen Geiwitz pode ficar de olho em sua mãe apenas atravessando o corredor. Em 2014, ele se mudou para Glen Meadows, a comunidade de aposentadoria e cuidados continuados no subúrbio de Baltimore, nos Estados Unidos, onde ela havia ido morar oito meses antes. Agora cada um tem um apartamento independente, de um quarto no primeiro andar.

Allen frequentemente encontra pessoas mais ou menos de sua idade que estão avaliando o local para seus pais. “Eles me olham de maneira estranha, mas para mim esse é o futuro”, afirma.

Dá para entender sua maneira de pensar. Por causa do aumento da expectativa de vida, os filhos adultos que precisam tomar conta de pessoas de 80 ou 90 anos já estão chegando aos 70 anos ou até mais do que isso.

Eles também podem estar ficando cansados de limpar e arrumar a casa exatamente no momento em que seus pais precisam de mais ajuda. Cuidadores de mais de 75 anos passam 34 horas por semana dando apoio aos parentes idosos, segundo um estudo da Aliança Nacional para Cuidados e do Instituto de Políticas Públicas AARP, divulgado no ano passado.

“Por todo o país, cerca de 1.925 comunidades de aposentados e cuidados continuados --em que os moradores podem ter uma vida independente, contar com ajuda de pessoas especializadas ou morar em uma casa de repouso, dependendo de suas necessidades-- abrigam 750 mil pessoas”, diz Steve Maag, diretor de comunidades residenciais da LeadingAge, uma associação da indústria de provedores de serviços para idosos sem fins lucrativos --80%  delas não têm fins lucrativos.

Até agora pelo que ele e outros especialistas do ramo sabem poucos filhos adultos se mudaram para as comunidades de seus pais. “Mas eu não ficaria surpreso de ver isso acontecendo cada vez mais”, afirma. Em regiões mais baratas, uma comunidade de aposentadoria pode oferecer uma mistura de proximidade e privacidade e um nível mais elevado de cuidados, que muitos adultos das duas gerações eventualmente precisarão.

“É muito comum os filhos fazerem grandes ajustes para tomar conta de pais idosos”, fala Philip Sloane, codiretor do programa sobre envelhecimento, deficiência e cuidados de longo prazo da Universidade da Carolina do Norte. “Dividir uma comunidade de cuidados continuados representa um novo, mas lógico modelo de serviços para idosos. Como os custos são razoáveis, a moda pode muito bem pegar”, afirma.

A história de Allen Geiwitz

Solteiro, ele já estava passando de três a quatro dias por semana no apartamento dos pais. Com assistência, sua mãe e seu pai podiam continuar a viver sozinhos por anos. Mas, depois da morte do marido, Hilda, que tem neuropatia diabética, doença pulmonar, e usa um andador, não pode continuar sozinha.

Allen pensou em se mudar para o apartamento dela, mas tomar conta de um idoso sozinho pode se tornar um fator de isolamento e sobrecarregar uma pessoa.

Assim, a família checou várias comunidades de aposentadoria com cuidados continuados e Hilda escolheu a Glen Meadows, uma entidade sem fins lucrativos. Allen pagou US$ 35 mil de taxa de entrada, metade dela reembolsável se a mãe se mudar ou morrer.

“No inverno, tivemos 60 centímetros de neve um dia e mais 55 centímetros dois dias depois”, conta Allen Geiwitz, que tinha uma casa ali perto. “Estou tão velho que limpar o carro já foi um desafio. Tirar a neve, cortar a grama, limpar as folhas, fazer consertos --ou eu começava a pagar alguém para cuidar dessas coisas ou teria de vender a casa e mudar para um apartamento. Pensei: ‘vou pular essa parte intermediária’”. Ele se mudou para Glen Meadows, pagando uma taxa de entrada maior, US$ 88 mil, que podem ser reembolsados quando ele se mudar ou morrer.

Os Geiwitzs pagam US$ 2.115 de aluguel por mês, o que inclui alimentação, atividades, limpeza da casa, lavanderia e transporte para alguns lugares. Os apartamentos tipo estúdio custam menos, as casas independentes, mais.

“Morando aqui não tenho de fazer compras, preparar a comida ou cortar a grama. Posso dar atenção às necessidades da minha mãe e ainda ter uma vida independente,”

A comunidade tem pistas e trilhas de caminhada, que ele usa diariamente. Allen trabalha em comitês que ajudam na manutenção do local e tomam conta da galeria de arte.

“Tenho amigos porque me dou bem com pessoas mais velhas”, diz. Seu vizinho de porta é um esperto senhor de 106 anos.

“Ter meu filho por perto faz com que aqui se pareça muito com minha casa”, fala Hilda. “Está funcionando muito bem.”

Muitos cuidadores não acham que essa é uma boa solução. Em uma sociedade que segrega as pessoas por causa da idade, poucos integrantes da geração dos baby boomers vão se interessar por locais destinados a pessoas mais velhas, mesmo que sejam maravilhosos. Na verdade, a LeadingAge anunciou no mês passado que as comunidades de aposentados e cuidados continuados iriam passar a ser chamadas de “comunidades de vida planejada”.

“Grupos de pesquisa revelaram que as palavras ‘cuidados’ e ‘aposentado’ tinham uma conotação muito negativa para os clientes mais jovens”, declara Maag.

Barreira econômica

Essas comunidades hierarquizadas normalmente exigem taxas de entrada e aluguéis mensais, mas os tipos de contrato, as políticas de reembolso e os serviços variam muito. Mudar-se para uma delas pode custar menos de US$ 100 mil ou, muitas vezes, esse valor, dependendo da estrutura financeira. Se os custos mensais aumentam com mais serviços e em quanto, também varia.

A geografia é outra coisa que conta. A bem administrada comunidade de aposentados e cuidados continuados onde meu pai passou seus últimos meses, no norte de Nova Jersey, uma parte cara do mundo, não exige pagamento de entrada além de uma “taxa comunitária” de US$ 1.500. Mas dois apartamentos de um quarto lá hoje custariam mais de US$ 10 mil por mês de aluguel, o que tornaria a residência conjunta impossível para a maioria das pessoas.

Em Waynesboro, na Pensilvânia, no entanto, a taxa de entrada para um apartamento independente de um quarto no Quincy Village vai de US$ 85 mil a US$ 127.500 para uma pessoa, dependendo do acordo de reembolso. O aluguel mensal de US$ 1.125 inclui uma refeição por dia, serviços públicos, TV a cabo, atividades, transporte e 14 dias de ajuda de enfermeiros por ano.

Outros casos

Diane e Mike Matlock, os dois com 67 anos, mudaram-se para um chalé em Waynesboro em junho. Eles também queriam se livrar da manutenção da casa, especialmente depois que Mike teve câncer de cólon e passou quase um ano em tratamento e recuperação.

“Foi um alerta. Teríamos de tomar a decisão de nos mudar mais cedo ou mais tarde”, diz Diane.

Eles visitavam a Quincy Village com frequência porque a mãe de Diane vive lá em um chalé, que agora está a uma curta caminhada de distância da casa dos Matlocks em vez da uma hora de viagem que precisavam enfrentar antes.

Duas outras duplas como essa vivem em chalés independentes aqui: uma filha de 71 anos e seu pai de 95, e outra mãe e filho.

A mãe de Diane, Nancy Gardner, 85, continua muito independente. Mas a filha pode levá-la às consultas médicas, ao mercado ou para comprar comida pronta. “É muito confortável saber que ela está por perto se eu precisar. E eu tento não precisar muito dela”, afirma Nancy.

Por enquanto, ela não precisa. Mas, no inverno passado, uma gripe mandou Nancy para o hospital por três dias, seguidos de três dias na unidade de enfermagem da comunidade.

“Quanto mais velhos eles ficam, mais você percebe que qualquer coisa pode acontecer”, diz Diane. “Agora, caso aconteça, estou aqui.”