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Não gostar de "BBB" não torna você mais inteligente do que ninguém

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

21/01/2016 07h00

A 16ª edição do "Big Brother Brasil" (Globo) começou na terça-feira (19) e o público já está preparado para os apelidos criativos dos casais, a alternância de amor e ódio por determinados participantes e, claro, ouvir sobre o reality no trabalho, em casa e na rua. Entretanto, se você faz parte do grupo dos que odeiam o programa --e não se cansam de exaltar sua opinião contrária--, entenda que tal atitude não lhe torna uma pessoa melhor. Pelo contrário. De acordo com os especialistas entrevistados pelo UOL, alardear todo ano a sua indignação com a atração só mostra uma coisa: você se identifica com ela de alguma forma.

"Quem se importa em denegrir os assuntos relacionados ao 'BBB', certamente, vê em algum dos personagens da edição algo que reconhece em si mesmo e não suporta ver exposto. Traições entre amigos e casais, inveja, tudo isso provoca autoconhecimento e é o que as pessoas não querem", afirma Mara Lúcia Madureira, psicóloga cognitivo-comportamental. 

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Mara afirma que alguns indivíduos têm a sensação de que, ao emitir um parecer ofensivo sobre algo, são superiores. "É como se ao falar mal eu negasse pertencer àquilo. Afinal, se não diz nada para você, não deve perturbar e, portanto, é só mudar de canal e seguir a vida. Em vez de tentar convencer o outro de que o programa é ruim, questione o motivo de se sentir tão incomodado com o que acontece lá.”

Para a psicoterapeuta Miriam Barros, a internet e as redes sociais dão mais espaço para o depósito de "lixos" pessoais e a manifestação do lado narcisista. "As pessoas gostam de mostrar que são intelectuais e, por isso, precisam opinar e deixar claro que não se deixam influenciar pela massa, já que o 'BBB' é popular. Esses indivíduos não pensam no outro ao ofender, apenas em si mesmos."

O professor Tuca Américo, da pós-graduação em mídia e tecnologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), diz que o grupo dos que odeiam o "BBB" se divide em dois: os que assistem ao programa para falar mal e aqueles que não acompanham, mas são bombardeados com as notícias a respeito da atração. "A questão envolve a polarização que está presente na sociedade maniqueísta: ou se é a favor ou contra. Existe um pensamento de que somos obrigados a ter uma opinião sobre tudo. É quase como um prazer mórbido assistir só para cutucar quem gosta do reality."

Para os que argumentam que o programa emburrece, Tuca esclarece que o papel da televisão é entreter e não educar. "A questão editorial de um telejornal, por exemplo, é pouco discutida pela massa. Mas se o programa é o 'BBB', as pessoas cobram uma obrigação que não é dele, de educar e passar valores, por exemplo."

Segundo Mara Lúcia, apesar de não provocar questionamentos intelectuais, a atração trata de aspectos afetivos, dramas pelos quais todos passam em algum momento e, por isso, faz tanto sucesso. "Nenhum programa emburrece. Não é porque escutamos uma estupidez na rua que nossa inteligência vai diminuir. Se determinada atração te satisfaz, tudo bem, se não, procure outra."