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Nunca é tarde: histórias de pessoas que começaram uma vida nova após os 50

Para se reiventar, deixe claro que você busca uma nova aventura, que não quer ser chefe e está pronto para trabalhar em equipe - Paul Rogers/The New York Times
Para se reiventar, deixe claro que você busca uma nova aventura, que não quer ser chefe e está pronto para trabalhar em equipe Imagem: Paul Rogers/The New York Times

Jane E. Brody

The New York Times

17/03/2016 15h57

Talvez você tenha perdido o emprego, ou não se interesse mais pelo trabalho que faz. Talvez um divórcio ou uma morte na família tenha ameaçado sua estabilidade econômica. Talvez você se considere velho demais ou acha que não tem formação para mudar para uma carreira mais satisfatória ou que pague melhor.

Eu entrevistei diversas pessoas em condições similares e que se reinventaram, muitas vezes a despeito de todas as circunstâncias, outras vezes de forma surpreendente.

Depois de 25 anos como médico da família em Park Slope, Brooklyn, nos Estados Unidos, o médico Kenneth Jaffe não aguentava mais o dia a dia do trabalho regulado pelos planos de saúde, pois não podia mais dedicar o tempo que achava necessário para cuidar dos pacientes e, ainda assim, ganhar o suficiente para viver.

Então, aos 55 anos de idade, inspirado pelos cursos que fez na Escola Mailman de Saúde Pública da Universidade de Columbia, ele abandonou a medicina, mudou-se para uma região empobrecida no norte do estado, onde a terra era barata e abundante, e começou a criar gado de pastoreio sem hormônios nem antibióticos. Chamou seu novo empreendimento de Slope Farms, em homenagem ao seu velho bairro e à Park Slope Food Coop, que vende a carne de suas 200 cabeças de gado.

Agora, aos 66 anos, Jaffe afirmou que se sente realizado com seu trabalho em agricultura sustentável. Ele ajuda outros criadores de gado a fazerem o mesmo na região de Catskills, além de colaborar com programas escolares que levam carne de gado de pecuária extensiva para crianças do jardim de infância ao ensino médio.

Mary Doty Sykes foi assistente social por 30 anos, aconselhando e ensinando pais e adolescentes a respeito de sexualidade, autoimagem, questões familiares e de mercado de trabalho, primeiro em Chicago e depois nas escolas públicas de Nova York. Quando tinha 50 e poucos anos, divorciou-se e seus filhos saíram de casa, Mary decidiu que deveria sair da cidade.

“Aluguei minha casa para poder pagar meu curso de massoterapeuta”, um interesse que ela desenvolveu depois que técnicas de medicina alternativa a ajudaram a se recuperar de lesões graves causadas por um acidente de carro. Recomeçando aos 55 anos como terapeuta licenciada, durante 13 anos ela fez massagens terapêuticas em diversos locais, com frequência para pacientes idosos em Massachusetts. Agora, aos 75 anos, Mary voltou a Nova York e realiza terapias reiki, além de participar de diversas aulas de dança. “Tenho sorte por poder fazer tudo isso; me divirto muito”, afirmou.

Diversão é pouco, no caso de Richard Erde, que também tem 75 anos. Durante 28 anos ele atuou como programador. Depois de se aposentar em 2005, Erde resolveu se dedicar a sua antiga paixão pela ópera, fazendo testes para participar como figurante na Metropolitan Opera.

“Eu estive no palco do Met centenas de vezes ao lado de cantores mundialmente famosos e nunca precisei abrir minha boca para cantar. Já vesti todo tipo de fantasia, de monge budista a soldado russo. Muitas vezes é maravilhoso e eu ainda por cima ganho para fazer isso.”

Quando a temporada do Met acaba no fim da primavera, ele faz a mesma coisa com o American Ballet Theater, onde os figurantes muitas vezes se integram aos bailarinos que se movem pelo palco.

Desde os 21 anos de idade, Beth Ravitz trabalhou como designer de tecidos, quase sempre em sua bem-sucedida empresa em Nova York. Então, aos 40 anos, resolveu deixar a profissão para dedicar mais tempo aos três filhos e dois enteados pequenos. A família se mudou para Coral Springs, Flórida, onde “eu não queria pensar sobre dinheiro; queria alimentar minha alma e me tornar uma artista de verdade”.

Quando se matriculou em uma aula de cerâmica em uma faculdade comunitária, ela viu um anúncio que convocava candidatos para criar obras de arte para espaços públicos, decidiu arriscar e foi contratada para fazer um projeto. Depois de se graduar e pós-graduar em belas artes, ela começou a dar aulas em nível superior, seu emprego dos sonhos, o que permitiu que chegasse onde chegou aos 66 anos de idade: consultora de obras de arte públicas em duas cidades da Flórida (Lauderhill e Tamarac), além de defensora de artistas que, segundo ela, não têm os trabalhos devidamente valorizados.

“Eu adoro essa luta, e adoro o fato de poder fazer a diferença”, afirmou Beth.

Embora eu sempre tenha vivido como um cavalo com os olhos tapados, pois comecei a atuar como jornalista de saúde e ciências aos 23 anos e não mudei de rumo nos últimos 52 anos, sempre tive admiração pela coragem, imaginação e determinação de pessoas como essas quatro, que se reinventaram por acreditar que nunca se sabe o que é possível fazer até que se tente.

Ao invés de embarcar em uma nova carreira depois da aposentadoria, expandi meus horizontes aprendendo espanhol, indo a mais shows, óperas, palestras, museus e viajando mais. Recentemente, fui com meus quatro netos a um cruzeiro de observação da natureza no Alasca, além de um safari e acampamento na Tanzânia.

Além disso, também adotei um cachorrinho e o treinei para ser um cão terapeuta, que anima pacientes e funcionários do hospital do meu bairro. E se eu encontrar um professor com horários flexíveis, espero poder aprender a tocar um novo instrumento, de preferência o bandoneon, um tipo de sanfona comum no tango argentino. (Alguma sugestão de professor, pessoal?)

Uma coisa que já estou aprendendo são meus limites: saber quando dizer não para que eu tenha o tempo e a energia necessários para fazer o que é mais importante para mim nesse último quarto de vida.

Embora tenha apenas 37 anos de idade, Dorie Clark, professora da Escola de Negócios da Universidade Duke e autora do livro “Reinventing You” (Reinventando-se, em tradução livre) é especialista na reinvenção pessoal e ajuda outras pessoas a fazerem mudanças em suas vidas.

“Em linhas gerais, os mesmos princípios se aplicam a qualquer idade”, afirmou. Contudo, ela apresenta algumas dicas interessantes para pessoas com mais de 50 anos.

- Faça o esforço de se familiarizar com as mídias sociais e as novas tecnologias --elas são uma boa maneira de se inteirar.

- Reconheça que você talvez seja superqualificado para determinados tipos de trabalho. Isso pode ser um problemão, então é importante ser o primeiro a falar sobre isso. Talvez seja interessante dizer que você está em busca de uma nova aventura, que não quer ser chefe e que está pronto para trabalhar em equipe.

- Surpreenda as pessoas para contrariar qualquer noção prévia que elas tenham a seu respeito. Seu currículo pode dizer uma coisa, mas isso não significa que essa seja a única coisa que você sabe fazer. Mostre que você está realmente disposto a se reinventar, talvez por meio de um trabalho voluntário ou da publicação de um blog – algo que force as pessoas a vê-lo sob uma nova ótica”.

Ela também sugere que você “se reconecte com velhos conhecidos” –pessoas com quem você tinha um bom relacionamento no passado. Elas podem ajudar abrindo portas ou dando ideias que ainda não tinham passado pela sua cabeça.