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Pessoas com obesidade contam como conquistaram autoestima

Do UOL*

21/09/2016 07h10

Estar acima do peso não é motivo para não se gostar. Ainda que muita gente tenha dificuldade de aceitar as próprias curvas, pessoas com obesidade contam como fizeram as pazes com o espelho e conquistaram autoestima.

A modelo Jéssica Lopes não aceita mais ouvir que é "bonita de rosto" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Jéssica Lopes, 22, blogueira e modelo plus size

"Cresci ouvindo que era feio ser gorda. Então, óbvio, que ficava incomodada por estar acima do peso. Na infância, sofri bullying e não tive amigos por ser gorda. Na adolescência, eu me forcei a ser magra para me encaixar em um grupo, fui aceita. Depois vi que os amigos que consegui pela minha aparência física, não eram meus amigos de verdade. Conforme fui crescendo, conheci outras mulheres com essa mesma forma física. Fui começando a olhar minha imagem no espelho e achar bonito. Não via o problema que as pessoas diziam que tinha. Falavam que eu nunca teria um namorado, e eu tive, uma pessoa que não era gorda e que me achava bonita. Também tive outras experiências fora do padrão, como ficar com um cara que era personal trainer de uma academia. Sofro preconceito até hoje. Nas redes sociais, enquanto tem muita gente que me elogia, tem quem ainda ache que me chamar de gorda é uma ofensa. Para mim, é a mesma coisa que me chamar de ruiva. É uma característica física minha e não me ofende mais, mas essa aceitação veio aos poucos. Ninguém precisa se aceitar gordo. Se a pessoa não se acha bonita assim, ela pode emagrecer, assim como você não precisa emagrecer para se achar bonito. No meu caso, comecei a me olhar no espelho e a achar bonita aquela forma que via. Mesmo quando estava no meu ápice de peso e resolvi iniciar a prática de atividade física para sair do sedentarismo, sempre me olhei no espelho e me achei linda e maravilhosa. Hoje em dia, quando escuto de alguém: 'Você emagreceu, está linda, antes você era bonita de rosto'. Falo que não, que eu sempre fui linda de tudo."

Felipe Campus, 31, modelo plus size - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook
Felipe Campus, 31, modelo plus size

"Você acredita que existem muitas pessoas que curtem gordinhos como eu? Descobri isso quando parei de ter preconceito comigo mesmo. A falta de aceitação não me deixava ver um mundo novo que estava na minha cara. Fiz muitas dietas quando era mais jovem, mas elas só davam certo por um determinado período. Depois, voltava a engordar. Algumas vezes, o dobro do que pesava. Foi libertador quando postei no Facebook fotos da minha primeira campanha como modelo plus size. Um monte de gente começou a me adicionar e a me mandar mensagens privadas, dizendo que eu era lindo. Hoje, sou um gordo convencido de que sou bonito. Pessoas maldosas sempre vão existir, e o alvo delas não são só os gordinhos."

Débora Fernandes, 28, estilista - Léo Augusto/Divulgação - Léo Augusto/Divulgação
Imagem: Léo Augusto/Divulgação
Débora Fernandes, 28, estilista

"Sempre fui gordinha e muito vaidosa, nunca tive problema de autoestima. Ao mesmo tempo, sofria uma pressão grande para emagrecer por parte dos amigos e familiares. A falta de roupa do meu estilo no mercado também era motivo para eu querer perder peso. Então, com 15 anos, emagreci 20 quilos, mas voltei a engordar. Conforme fui amadurecendo, percebi que não precisava me enquadrar em um padrão de beleza, foi quando conheci a moda plus size e encontrei peças de roupa que me valorizavam. A moda e a autoestima andam juntas. Hoje, com exceção de calças de malha, que acho que marcam muito a silhueta, uso todo tipo de roupa. No dia a dia, não deixo de passar cremes e óleos para manter a hidratação da pele e tento manter uma alimentação equilibrada. Gostaria de praticar mais exercícios, aliás, é a minha meta para este ano. Atualmente, faço caminhada uma vez por semana e tenho suporte de uma assessoria de corridas quando estou com o tempo mais livre. Entendi que a autoestima precisa ser alimentada todos os dias e isso inclui se cuidar mais, fazer o que a gente gosta e estar com pessoas positivas."

Diego Capuchinho, 26, analista de redes - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Diego Capuchinho, 26, analista de redes e modelo plus size

"Minha vida sempre foi dentro da academia, mas isso me não impediu de passar por diversos manequins. Já fui magro e também obeso. Cheguei aos 170 quilos. Hoje, me mantenho nos 130. Ficar magro nunca foi o meu plano, sempre me aceitei, nunca tive problema para arranjar emprego ou namorada. Os gordinhos fazem sucesso e, se tiverem barba, então, mais ainda. De fato, na minha fase mais gorda, eu não me sentia tão bem. Por isso, aumentei o treinamento físico e fiz dieta. Agora, eu me sinto ótimo, sou gordinho, mas tenho músculos. Fico feliz que o mercado esteja investindo na moda plus size, pois agora consigo usar roupas mais modernas, como camisa social slim e calça skinny. Levo uma vida saudável, tento me alimentar da melhor forma e pratico atividade física cinco vezes na semana."

Cléo Lima Fernandes, 28, modelo - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Cléo Lima Fernandes, 28, modelo

"Sofri com bulimia e compulsão alimentar por muito tempo. Os transtornos apareceram quando eu ainda tinha dez anos. Não aceitava meu corpo de jeito nenhum, eu me achava gorda mesmo sem ser. Tenho 1,78 m de altura e nunca fui magrela. Mas, quando comecei a engordar um pouco, desenvolvi um complexo muito grande com a minha imagem e fiquei doente. Foi só com 18 anos que melhorei e, com 23, passei a me achar bonita. Foi a época em que comecei a trabalhar como modelo. Com as fotos, enxerguei que era bonita. Os elogios das outras pessoas também ajudaram na aceitação. Hoje, visto manequim 50 e amo meu corpo. Não é que goste de tudo nele, mas amo porque é um corpo saudável. Gosto do meu quadril largo e da minha cintura mais fina. Uso todo tipo de roupa, só não visto peças que sejam menores do que o meu número, porque ninguém fica bonito com uma roupa que não serve. Ser gorda ainda não é fácil, mas aprendi a não me importar com os padrões da sociedade."

Gisella Francisca, 33 anos, jornalista - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Gisella Francisca, 33, jornalista

"Nunca tive problema de autoestima mas, quando era adolescente, ficava chateada de chegar em uma loja de roupa e não conseguir comprar nada por falta de opção. Desde essa época, tenho consciência de que não estou no padrão. Mas entendi que enxergar a própria beleza e me sentir bem é um hábito que você adquire, como fazer exercícios e tomar café da manhã. Você acorda, olha no espelho e se valoriza, concentra-se naquilo que tem de melhor. Não uso um discurso de vítima, não tenho pena de mim por ser gorda. Fui criada com mulheres fortes, minha mãe me ensinou a não abaixar a cabeça, a ser crítica e a questionar tudo. Existem partes do meu corpo que gostaria de mudar. Tenho um braço muito grande, que não cabe em algumas roupas, se pudesse acordar com o braço menor, seria ótimo, mas não fico paranoica com isso. Só uso roupas com as quais me sinto bem e isso não tem a ver com a modelagem, nem com o que dizem que gorda pode ou não usar. A minha escolha é baseada no que  gosto ou não. Não estou nem aí para os outros."

* Colaboração: Thamires Andrade