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Ter pênis ridicularizado está entre pedidos ouvidos por strippers de webcam

"Muitos sentem vontade de experimentar sexo anal, mas têm vergonha, então, falam para mim", diz Emme White - Club Rubber Brazil/Divulgação
"Muitos sentem vontade de experimentar sexo anal, mas têm vergonha, então, falam para mim", diz Emme White Imagem: Club Rubber Brazil/Divulgação

Yannik D'Elboux

Colaboração para o UOL

10/11/2016 07h05

O que você gostaria de ver uma mulher fazendo pela câmera do computador? “Tinha um gringo que adorava que eu enchesse balões coloridos até estourarem”, diz a stripper de webcam de nome artístico Maya, 22, sobre um dos pedidos mais inusitados que já recebeu. O trabalho das “cam girls” (garotas da câmera, em tradução livre do inglês), como também são chamadas, é entrar no mundo da fantasia dos clientes, recebendo por cada minuto de transmissão.

Os desejos de quem paga para olhar variam muito, porém os mais comuns são danças sensuais, ver a modelo tirando a roupa, masturbando-se, usando brinquedos eróticos, podolatria (tara por pés), entre outros, conforme a imaginação e o que o bolso do usuário permite.

Também aparecem com frequência homens que se excitam com a ideia de serem tratados como "cornos" e interessados em fantasias de inversão. “É um fetiche comum, muitos sentem vontade de experimentar sexo anal, mas têm vergonha de dizer para a mulher, então, falam para mim”, conta Emme White, 35, que trabalha como “cam girl” desde 2009.

Existem modelos para todos os gostos: magras, gordas, tatuadas; algumas seguem a linha mais clássica, do gênero “namoradinha”, outras preferem um visual mais “dominatrix”, com roupas de couro. Elas têm também limites diferentes do que estão dispostas a fazer em frente à câmera.

Rebeca Galabarof diz que passa a maior parte do tempo conversando com clientes na webcam; personagem de UOL Comportamento - Divulgação - Divulgação
Rebeca Galabarof diz que passa a maior parte do tempo conversando com clientes na webcam
Imagem: Divulgação
Apesar de ser uma solicitação recorrente, a maioria não aceita escatologia, ou seja, soltar gases ou defecar enquanto o cliente observa. “Também não faço fantasias de incesto ou pedofilia”, diz Emme.

Os sites que oferecem o serviço de shows e sexo pela webcam também costumam impor suas próprias restrições. Nos provedores norte-americanos, é proibido aparecer qualquer animal na câmera, mesmo que esteja apenas dormindo em um canto do quarto, sob risco de a prática ser configurada como crime de zoofilia. O sangue menstrual também deve ficar fora da tela, caso contrário, a modelo pode ser banida do site.

De comum acordo, a modelo e o voyeur conduzem a apresentação, que quase sempre envolve strip-tease, porém muitas vezes vai além do sexo. “Em 60% do tempo, fico só conversando e é muito difícil eu fazer uma exibição da cintura para baixo”, diz Rebeca Galabarof, 26, que começou a atividade em 2010 e atualmente trabalha com consultoria e cursos para modelos de webcam.

Para Rebeca, esse é um mercado mais da solidão do que do sexo. “As pessoas estão muito sozinhas, vendemos uma companhia on-line”, afirma.

Dobro para se mostrar

Para quem nunca teve essa experiência, ao entrar em um “chat”, você provavelmente verá apenas a modelo vestida em frente à câmera. Os primeiros minutos são gratuitos, mas para ver mais é preciso pagar, entrando em uma conversa privada ou participando como voyeur em outras sessões.

Além de observar, muitos clientes querem também se exibir, mas para isso precisam desembolsar o dobro do valor, para que a câmera deles seja aberta. “Eles sentem tesão em mostrar o pênis, tanto para serem exaltados quanto humilhados por causa do tamanho”, fala Rebeca.

A maioria dos clientes são homens e, às vezes, surgem casais. O preço por minuto é determinado pela modelo. No Brasil, custa em torno de R$ 2,40 em “chat” privado. Nos sites norte-americanos, o valor pode ir até 16 dólares. Por que alguém pagaria para ter somente sexo virtual? “Eles querem ver nudez, mostrar a própria nudez, querem atenção e se sentir desejados”, afirma Maya.

Emme White conta que muitos também entram no “chat” para compartilhar fantasias e fetiches, coisas que não têm coragem de falar para mais ninguém. Além disso, ela diz acreditar que para alguns é uma forma de ter prazer com outras mulheres sem trair. “Funciona como um escape sem complicar a vida a dois.”

Liberdade sem sair de casa

Por existir há mais tempo nos Estados Unidos, o serviço por lá é mais especializado em fetiches, segundo Rebeca Galabarof, já que existem termos específicos para determinadas práticas, como instruções para masturbação e humilhação em relação ao tamanho do pênis, conhecidos pelos clientes.

No Brasil, muitos iniciantes confundem o serviço com pornografia ou prostituição, exigindo que as modelos tirem logo a roupa ou tentando convencê-las a fazer sexo fora da câmera. Os mal-educados podem ser eliminados a qualquer momento da conversa com um clique.

Apesar de gostarem da exibição, de serem elogiadas e de alimentar as fantasias alheias, as “cam girls” encaram essa atividade apenas como um trabalho, o prazer costuma ficar de fora.

“É um trabalho que não fere minha natureza como estar sentada em um escritório 40 horas por semana”, fala Maya, que aproveita o tempo livre para se dedicar à espiritualidade e às artes.

Há pouco mais de um ano na profissão, Maya prefere não mostrar seu rosto na webcam, o que a obriga a trabalhar mais, pois a maioria dos clientes quer conhecer a modelo inteira.

Tanto Rebeca quanto Emme expõem suas faces, afinal não precisam mais esconder a atividade de familiares e amigos. Para Emme, ser uma “cam girl” também trouxe liberdade. “Assim posso trabalhar em casa, sem horário e sem chefe.”