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Lubrificante de maconha potencializa mesmo os orgasmos das mulheres?

Meg Ryan fingindo orgasmo em cena icônica de "Harry & Sally - Feitos um para o Outro" (1989) - Divulgação
Meg Ryan fingindo orgasmo em cena icônica de "Harry & Sally - Feitos um para o Outro" (1989) Imagem: Divulgação

Natália Eiras

Do UOL

16/12/2016 06h02

Imagina ter um orgasmo de 15 minutos? Essa é uma das “promessas” do lubrificante de maconha, produto que tem ganhado muita repercussão por sua suposta capacidade de potencializar orgasmos. É só digitar no Google ou nas redes sociais que aparecerão várias referências a isso. O produto ganhou notoriedade com o lançamento da marca Foria, vendido somente nos EUA. Algumas jovens brasileiras, no entanto, descobriram um jeitinho de fazer uma versão caseira, vendida clandestinamente em grupos secretos nas redes sociais. 

Mas, afinal, ele funciona ou não? Os efeitos do produto não são completamente comprovados. O UOL ouviu duas pessoas que usaram o lubrificante e tiveram opiniões diferentes sobre as sensações geradas.

A publicitária Fernanda, 28, conta que usou o produto, vendido por uma colega, 30 minutos antes da relação sexual, enquanto ainda estavam nas preliminares. "A transa foi mais intensa, senti que demorei mais tempo para chegar ao orgasmo e, quando cheguei, durou mais tempo", narra a jovem.

A microempresária Mariana, 35, por sua vez, diz que não sentiu muita diferença durante o sexo. "Como lubrificante ele foi ótimo, mas não senti 'brisa' nenhuma". Ambas, no entanto, querem testar o lubrificante de "outros fornecedores". "Quero comprar o original, o Foria", fala Mariana.

Especialistas também divergem

De acordo com Albertina Duarte, ginecologista e coordenadora do Programa do Adolescente da secretaria de saúde do Estado, não há qualquer evidência científica de que o uso de substâncias na região vaginal potencializa o orgasmo. "O prazer da mulher não é local, envolve regiões de todo o corpo", fala a especialista. "O orgasmo feminino é um sistema mais complexo do que o clitóris e a vagina".

O ginecologista Élvio Floresti Junior, porém, concorda que o uso do lubrificante de maconha pode deixar a mulher sob o mesmo efeito que ela teria se fumasse a droga. "Tudo o que você coloca na vagina tem um grande grau de absorção por ela ser uma mucosa e levar direto para a corrente sanguínea", explica. Porém ele deixa claro que a sensação de euforia e relaxamento "batem" mais rapidamente, mas o fato da maconha ser absorvida pela vagina não potencializa o "barato". "É mais o efeito comum da droga que deixa a pessoa mais relaxada e melhora a performance na relação".

O especialista também avisa que o efeito do lubrificante vai depender muito de como o corpo de cada pessoa responde à droga. "Assim como tem gente que fica em outro mundo, outras pessoas ficam apenas mais relaxadas. É algo muito pessoal", diz. Então não espere que o lubrificante também faça milagres.

No caso do produto industrializado, que usa apenas o THC, princípio ativo da droga, são poucas as chances de haver qualquer tipo de reação com a região íntima, segundo Élvio. No entanto, a versão caseira, usada pelas brasileiras, pode causar irritação. "Assim como a maconha irrita a pele quando está sendo triturada, ela também pode afetar a vagina", diz o especialista. Albertina vai além: a erva pode mudar a flora e o ph do órgão. "Isso aumenta o risco de contaminação e expõe ainda mais a mulher", fala.

Apesar dos riscos, Albertina admite que, durante os 40 anos em que trabalha na área, não é a primeira vez que ela vê mulheres tentando apimentar o sexo com ervas e outros produtos durante a relação. "Faz parte do fetiche, de estar provando algo novo na cama", fala a ginecologista. O risco mora em a mulher procurar novos jeitos de ter prazer sem refletir sobre o ato, já que o orgasmo feminino depende da relação da mulher com o próprio corpo. "Esta é uma busca importante da mulher, mas não existe um pó mágico que vá melhorar a performance".