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Aluno usa vestido em formatura do ITA para protestar contra homofobia

O jovem passou por sindicância e teve que deixar a Aeronáutica após fazer protesto vestido de drag - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O jovem passou por sindicância e teve que deixar a Aeronáutica após fazer protesto vestido de drag
Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

Do UOL

20/12/2016 16h17

Talles de Oliveira Faria, 24, se formou neste sábado (17) em engenharia da computação pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos (SP). Para a cerimônia, ele deixou de lado a tradicional beca e usou vestido vermelho, salto alto e maquiagem. De acordo com o jovem, essa foi a forma que ele encontrou de protestar contra a homofobia que diz existir dentro da instituição. "Foi o meu jeito de tentar impactar, causar alguma mudança", fala o jovem em entrevista ao UOL

Segundo o agora engenheiro, o preconceito dentro da instituição aparece indiretamente no discurso de funcionários. "Os professores se sentem confortáveis para fazer piadas homofóbicas e machistas. Os alunos ficam doentes com tanta opressão. Cansei de ver gente deixando a faculdade por causa do bullying e do abuso de poder dos professores", reclama. 

Nascido em Varginha (MG), Talles é um dos integrantes do Agita (Associação de pessoas LGBT do ITA). Ele diz que foi por causa da sua militância que foi obrigado a deixar a carreira militar. "Teve um protesto contra a homofobia dentro do Instituto e eu fui de drag. A partir dali, eles abriram uma sindicância, investigaram toda a minha vida pessoal e fizeram eu sair da aeronáutica, por não condizer com o que eles esperam de um integrante". O processo de dispensa militar foi finalizado em 2015, mas ele pôde continuar no ITA. 

De acordo com Talles, este tipo de procedimento é bastante comum dentro da FAB (Força Aérea Brasileira), apesar de não estar "no regulamento que uma pessoa LGBT não pode entrar para a carreira militar". "Você pode ser gay, mas não pode falar para ninguém, tem que agir como heterossexual e não pode se ofender com nada". 

O rapaz diz que o histórico do ITA não impediu que colegas o aplaudissem e apoiassem a decisão de usar vestido em sua formatura. "A reação foi a melhor possível. Recebi muitas palavras de conforto", afirma. 

A reportagem tentou entrar em contato com assessoria de imprensa do ITA, mas não recebeu uma resposta até o fechamento da matéria.