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"Meu marido é o meu cachorrinho". Conheça a prática fetichista pet play

Anna Vonsteel é adepta do pet play e vive uma cachorrinha para seu marido.  - Arquivo pessoal
Anna Vonsteel é adepta do pet play e vive uma cachorrinha para seu marido. Imagem: Arquivo pessoal

Helena Bertho

do UOL

03/03/2017 04h00

No dia a dia, eles parecem um casal como qualquer outro. Ele personal trainer, ela tatuadora. Saem para trabalhar, encontram seus amigos e levam a vida normalmente. Mas ao chegar em casa, cada um assume um novo papel: ele é o cachorrinho e ela sua dona. Ele abana o rabinho feliz em vê-la e obedece às ordens para sentar, deitar e rolar, come e bebe água em seu potinho no chão; já ela dá as ordens e biscoito, quando o pet se comporta direitinho. Os dois são casados e adeptos da prática fetichista chamada pet play, que envolve a interpretação de um animal por um dos membros do casal.

Rainha Capetinha, 33, e H., 40, – esses são os nomes artísticos que adotam na cena fetichista, para preservar sua identidade cotidiana – são adeptos do BDSM (bondage, dominação, submissão, sadismo e masoquismo), que são práticas sexuais que envolvem fetiches ligados ao sado-masoquismo. E o pet play é um desses fetiches, que o casal usa para apimentar a relação. “O meu prazer é deixar ela excitada e com o cachorro tem toda essa coisa de ser adestrado, obedecer, que é algo que agrada ela”, explica H. Além das atitudes de cachorro, ele usa acessórios como coleira, máscara de cachorro e um rabinho para completar o papel.

Rainha Capetinha, adeptos do pet play, em um evento fetichista em São Paulo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rainha Capetinha adora adestrar seu marido, que no pet play é um cachorrinho.
Imagem: Arquivo pessoal
“Eu sou dominadora, então me excita essa sensação do adestramento. Eu mando sentar, deitar, buscar a bolinha... E vamos ser sinceras, que mulher não gostaria de ter seu homem como um cachorrinho?”, brinca Rainha Capetinha quando comenta o relacionamento.

“O pet play tem a ver com o sadismo e o masoquismo. Muitas vezes isso é restrito ao contexto sexual, mas em alguns casos as pessoas vivenciam isso no dia a dia. E pode ser sim uma prática sexual saudável”, explica a psiquiatra Marina Zanetti, mestranda em sexologia pela Unifesp.

Além do que acontece dentro de casa, o casal frequenta festas fetichistas em São Paulo. Levado na coleira, H. adora a sensação de chegar nos eventos e surpreender a todos. “Eu sou grande, forte e maior que ela, então quando chego puxado pela coleira, a festa para”, conta.

Anna Vonsteel, adepta do pet play, em uma festa fetichista em São Paulo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Anna Vonsteel, adepta do pet play, em uma festa fetichista em São Paulo
Imagem: Arquivo pessoal

“Sou a cadelinha dele 24 horas por dia”

Praticamente a todo momento, Anna Vonsteel, 27, encarna seu papel de cachorrinha do seu marido. “Se ele me pede algo, eu vou e pego com a boca. E quando ele vê, abre aquele sorriso. Assim a gente torna as coisas comuns do dia a dia mais divertidas”. Juntos há três anos, ela e o marido vivem o esquema que chamam de 24 por sete, ou seja, a prática do pet play não acontece somente em momentos específicos, mas é parte da forma como a relação funciona.

"Eu chego em casa e ela está com o rabinho abanando. E eu gosto porque para ela é natural, é uma forma que ela encontra para se expressar”, conta Lord Steel, o marido de Anna. Os dois têm dois cachorros em casa e ela adora ser tratada como eles. “Eu amo isso. É completamente consensual. Ele me chamar de cadelinha não é pejorativo, para mim é carinhoso. Eu sei que ele me respeita como mulher”.

Para eles, a prática do pet play vai além do contexto sexual, mas tem também muito a ver com o que acontece no quarto. Tanto que Anna é adepta de acessórios como um plug anal que simula um rabinho enquanto dá prazer.

“O pet play para mim precisa ter regras e segurança”

Ariel Strauss vive uma raposinha e adora ser punida quando desobedece - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ariel Strauss vive uma raposinha e adora ser punida quando desobedece
Imagem: Arquivo pessoal
A designer Ariel Strauss, 22, também adepta da prática. No quarto com o namorado, ela assume o papel de uma raposa. Isso quer dizer que seu comportamento, apesar de dócil, é mais arisco. Ela anda de quatro, e abana o rabinho, mas de vez em quando desobedece a seu dono. E se isso acontece, precisa ser punida - o que adora! “Se meu dono manda e desobedeço, levo bronca e uns tapas”. Mas tudo com segurança. Os dois têm todo um combinado de regras sobre o que pode e o que não pode para ninguém se machucar. “Como eu tenho gastrite, por exemplo, ele não pode fazer nada que envolva minha barriga ou estômago. Normalmente a gente conversa sobre como será, o que pode rolar, antes de fazer. Mas durante, eu entro no papel e não saio”.

Ter regras é uma das partes mais importantes do pet play, assim como das demais práticas de fetiche, para que nenhuma das partes se machuque ou seja colocada em uma situação de que não gosta. “Na medida em que não causa sofrimento para ninguém e tudo é feito de comum acordo, com consentimento, a psiquiatria considera que não há problema algum”, diz Marina Zenetti.

E o pet play para ela, como para Rainha Capetinha, não precisa necessariamente terminar no ato sexual. “Estar na posição do animal me excita, é erótico e sensual, mas não precisa levar necessariamente ao sexo. Mas se acontecer, é muito bom”, explica.

“Fantasia sexual é qualquer imagem mental que desperta o desejo sexual ou erótico da pessoa. O conteúdo das fantasias varia muito e depende dos interesses das pessoas. As fantasias deixam de ser saudáveis quando se tornam indispensáveis para o prazer ou cause um sofrimento significativo”, afirma a psiquiatra.