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Juliana Paes deveria saber que feminista não precisa largar salto e batom

"Acho errado esse desejo de igualdade com os homens a todo custo", disse Juliana Paes à revista - Estevam Avellar/Rede Globo
"Acho errado esse desejo de igualdade com os homens a todo custo", disse Juliana Paes à revista Imagem: Estevam Avellar/Rede Globo

Adriana Nogueira

Do UOL

04/04/2017 15h52

Para a última edição da revista “Veja” –publicação da editora Abril--, Juliana Paes disser ser feminista, mas não concordar com algumas reivindicações do movimento. “Acho errado esse desejo de igualdade com os homens a todo custo. Somos tão competentes e valiosas quanto eles, mas não iguais”, falou a atriz para a publicação. Para a advogada feminista Carmen Hein de Campos, que fez parte da comissão que elaborou o anteprojeto da Lei Maria da Penha, a artista falar sobre feminismo dá visibilidade ao assunto, mas ela precisa se atualizar sobre as pautas do feminismo.

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“O feminismo de hoje reconhece a diversidade. Homens e mulheres são diferentes. Só que essas diferenças geraram desigualdades e é contra elas que o movimento luta”, afirma Carmen.

Para a advogada, o problema foi a diferença ser usada socialmente como construtora da desigualdade. “É daí que decorre a diferença de salários entre homens e mulheres que ocupam a mesma função, que vem a pouca presença da mulher na política, entre outros problemas.”

 

A professora de psicologia Jaqueline Gomes de Jesus, coordenadora do curso de extensão Feministas nas Trincheiras da Resistência do Instituto Federal do Rio de Janeiro, afirma que ainda existe um senso comum forte que simplifica e reduz o que é o feminismo.

“Não conheço nenhuma vertente do movimento que defenda que as pessoas sejam iguais e, sim, que tenham direitos e oportunidades iguais”, declara Jaqueline.

Sensibilidade e afeto

Para a revista “Veja”, Juliana ainda declarou que agir com “sensibilidade” e “afeto” são características das mulheres, assim como a disposição natural para “cuidar do outro”.
“Não dá para uniformizar a categoria mulher. Nem todas são sensíveis e afetuosas. É a reprodução do mito do instinto maternal, que é muito forte na sociedade. Nem toda mulher quer ser mãe”, diz Jaqueline.

Segundo a advogada Carmen, a fala da artista é ruim mesmo para os homens. “É como se essas características fossem exclusivas do feminino. Como se homens não pudessem ser afetuosos e sensíveis.”

“Queima de sutiãs”

Ambas as especialistas dizem que outro ponto da fala da atriz associada ao feminismo que merece esclarecimento é quando ela faz uma alusão à “queima de sutiãs” (protesto realizado por 400 ativistas contra a realização do concurso Miss América, tido como símbolo de opressão às mulheres, em 1968, e que não incendiou nada no sentido literal).

“Não quero queimar sutiãs. Gosto de sutiãs! Não quero quebrar saltos de sapato em busca de liberdade. Gosto de me enfeitar, e nós, mulheres, não fazemos isso para o macho. Fazemos porque dá prazer cuidar de si e cuidar do outro. Sou uma feminista de saia, sutiã, salto alto e batom vermelho”, afirmou Juliana para a “Veja”.

Carmen Hein de Campos afirma que a real discussão do feminismo atual é sobre a ditadura dos padrões de beleza. “Não se trata de dizer que não se pode usar salto alto ou batom”, fala a advogada.

Ela fala ainda que a referência da atriz diz respeito ao início do movimento com as chamadas “feministas radicais”. “Mesmo elas têm a sua importância por terem colocado na pauta a discussão dos direitos das mulheres. “Com elas, inaugurou-se um debate que era inexistente”, diz a advogada.