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Caso Zé Mayer: Caio Blat chama de brincadeira, defensora chama de crime

Caio Blat no lançamento da série "Os Dias Eram Assim" (Globo), no qual falou sobre o caso José Mayer - Agnews
Caio Blat no lançamento da série "Os Dias Eram Assim" (Globo), no qual falou sobre o caso José Mayer Imagem: Agnews

Adriana Nogueira

Do UOL

05/04/2017 17h42

Em lançamento de série da Globo, nesta terça-feira (4), Caio Blat saiu em defesa de José Mayer, que assumiu ter assediado a figurinista Su Tonani. “José Mayer é uma pessoa que a gente conhece. A declaração que ele deu hoje foi brilhante [sobre a carta aberta de desculpas]. Ele não representa ameaça a ninguém. Fez uma brincadeira fora de tom, e na presença de outras pessoas. Não houve intimidação”, afirmou o ator para o site “Glamurama”.

Para a defensora pública Ana Rita Prata, coordenadora do Núcleo da Mulher na Defensoria de São Paulo, Blat está equivocado na sua defesa do colega. “É importante dizer que não foi uma brincadeira. Foi uma violência de gênero. Praticada contra uma mulher por ela ser mulher e pode ser caracterizada como um crime”, afirma.

A defensora diz que, caso a figurinista denuncie Mayer na Justiça comum, o fato de o ator ter passado a mão na genitália dela pode ser interpretado como estupro, pelo artigo 213 do Código Penal.

Segundo Ana Rita, a fala de Blat demonstra o quanto a sociedade ainda precisa refletir sobre o machismo e a cultura do estupro e do assédio ainda existem no país.

Ana Rita diz que o discurso do ator é desmontado pelas estatísticas de violência contra a mulher. “Ele falou que Mayer não representa ameaça por ser conhecido. Acontece que 70% dos estupros são praticados por parentes, amigos, namorados ou conhecidos da vítima. A fala de Blat é contraproducente para que comportamentos como esse não aconteçam mais”, declara ela, referindo-se à pesquisa “Estupro no Brasil: uma Radiografia Segundo os Dados da Saúde”, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

“Podia ser uma brincadeira em uma época em que se dizia que ‘em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’, não hoje, quando temos uma legislação tão completa de combate à violência contra a mulher, que é a Lei Maria da Penha”, afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão, conselheira do Instituto Patrícia Galvão, entidade feminista.

Fátima fala que a condição cultural que faz Blat relativizar uma violência como a ocorrida com Su Tonani está tão arraigada na sociedade brasileira que nem a diferença de idade (31 anos) entre ele e Mayer o fez refletir sobre o episódio.

“É um processo de longo prazo [entender a autonomia da mulher sobre seu corpo], mas a violência desse tipo que era invisível já se tornou um processo de responsabilidade social”, declara a socióloga.