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Para fugir de luto pela mãe, Harry caiu na "vida louca"; recurso é válido?

O príncipe Harry, que confessou ter demorado 20 anos para lidar com a perda da mãe - Getty Images
O príncipe Harry, que confessou ter demorado 20 anos para lidar com a perda da mãe Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL

17/04/2017 16h10

Em entrevista ao jornal britânico "Daily Telegraph", o príncipe Harry, 32, revelou ter passado 20 anos tentando não pensar na morte da mãe, a princesa Diana, vitimada em um acidente de carro, em 1997, quando ele tinha 12. Ainda para o veículo, ele afirmou que viveu no “caos” por dois anos, esforçando-se para se divertir e assim esquecer a perda.

"Com 20, 25 ou 28 anos, eu era o cara típico que saía por aí dizendo 'a vida é genial' e 'a vida é boa'”, falou para o jornal. De fato, por muitas vezes, a vida baladeira do príncipe foi alvo de reportagens na mídia internacional.

Para a psicóloga Marilena Bigoto, especialista em desenvolvimento humano, por mais que se tente evitar viver o luto, uma hora, o sentimento vem à tona.

“Tudo o que a gente nega vira uma sombra, que pode se manifestar na forma como você se relaciona com as pessoas ou em problemas. Cedo ou tarde, a pessoa vai ter de lidar com isso”, afirma Marilena.

Falar sobre o luto

No caso de Harry, aconselhado pelo irmão mais velho, o príncipe William, ele foi fazer terapia.

Segundo a psicóloga hospitalar Sabrina Gonzalez, há quem consiga passar pelo luto apoiado por amigos e familiares e quem precise de auxílio profissional.

“As pessoas ao redor são as mais capazes de identificar que o enlutado precisa de ajuda. Ficar triste é normal e esperado, mas não a ponto de recusar contato com todo mundo. Assim como não é saudável não ficar triste e, sim, saindo sem parar”, diz Sabrina.

De acordo com a psicóloga, na hora de buscar ajuda, vale fazer terapia ou mesmo participar de grupos de apoio, presenciais ou virtuais. “Prefiro os presenciais, mas mesmo os virtuais podem funcionar, desde que mediados por profissionais especializados”, fala Sabrina.

As duas psicólogas consideram fundamental falar sobre a perda para que se possa vivê-la e superá-la. Foi com esse propósito que nasceu o “Vamos Falar sobre o Luto?”, projeto criado por sete amigas –que vivenciaram diferentes perdas, de pais, companheiros e filhos. A iniciativa tem um site que é um espaço para divulgação de textos, cursos, livros, para discutir sobre o tema.

Fases

Sabrina Gonzalez diz que o luto é caracterizado por fases. A primeira é a negação, quando a pessoa renega a perda para que ela não se concretize. A segunda é a raiva, na qual o sentimento é a revolta pelo fato. A terceira é a barganha, que é quando a pessoa “negocia” com a vida para que outras perdas não aconteçam (“vou ser uma pessoa melhor e, em troca, nunca mais perco nada”). Na sequência vem a depressão e, por fim, a aceitação.

Sabrina afirma que as fases são comuns a todas as pessoas, o que não significa que aconteçam na mesma ordem e com intervalo regular entre elas. “Há quem emende uma na outra.”

Para a psicóloga hospitalar, o príncipe Harry viveu durante muito tempo a negação e a barganha. “Dá para se interpretar isso quando ele diz que evitava pensar na morte da mãe e que se concentrava em achar a vida boa.”