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Baleia Azul tem de ser assunto do jantar em família, mas sem histeria

Pais devem ter cuidado para que o filho se recuse a ouvir pensando se tratar de discurso contra a internet - Getty Images
Pais devem ter cuidado para que o filho se recuse a ouvir pensando se tratar de discurso contra a internet Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL

20/04/2017 17h58

O Baleia Azul --jogo virtual de desafios, via Facebook ou Whatsapp, que vão de automutilação a suicídio-- tem ocupado o noticiário e as preocupações dos pais brasileiros. Para lidar com a avalanche de informações sobre ele –e evitar as consequências de ter o filho envolvido--, a primeira providência é uma conversa franca, mas sem alarmismo.

Para a psicóloga e especialista Blenda de Oliveira, os adultos devem se antecipar e não esperar o filho manifestar curiosidade sobre o assunto.

“O melhor caminho é perguntar o que o jovem sabe a respeito. Se ele souber algo, pode esclarecer dúvidas e compreender a gravidade. Se não, é a oportunidade de os pais esclarecerem e orientarem”, afirma Blenda.

Sem sermão

A especialista fala que é essencial os pais não adotarem um tom de sermão nem histérico durante a conversa. “Se não o filho pode pensar: ‘melhor nem falar para ele o que aconteceu com o meu amigo’.”

A psicóloga clínica Ana Café, que tem especialização no tratamento e prevenção dos transtornos do impulso, reforça a necessidade de os pais adotarem uma fala clara com os filhos, a fim de que esses não descartem a conversa pensando em se tratar de um discurso contra o uso da internet.

“Há toda uma preocupação atual sobre o jovem estar viciado na web, mas deve-se esclarecer que o alerta não é sobre navegar muito ou pouco, mas como o desafio Baleia Azul está sendo espalhado pelo ambiente virtual e é perigoso”, declara Ana, que ainda recomenda que os pais não adotem uma conduta restritiva sobre o acesso à internet.

Medidas práticas de proteção

Além do diálogo, ambas as especialistas dizem ser importante adotar medidas práticas de proteção, como estar atento ao conteúdo que o filho acessa nas redes sociais ou as mensagens que troca, via elas ou por aplicativos como o Whatsapp.

“Direito à privacidade na adolescência vai até o ponto em que o jovem está em risco. Os pais não podem esquecer que ele o jovem ainda está desenvolvendo a maturidade para lidar com as questões. O adolescente é muito impulsivo e tem forte necessidade de ser aceito pelo grupo, o que o expõe a perigos”, fala Ana Café.

A psicóloga clínica também lista comportamentos que devem despertar a atenção dos pais e que justificam eventualmente a procura por um terapeuta. “É preciso estar atento a sinais de adoecimento emocional e psíquico, como isolamento social.”

Por fim, Ana afirma que os adultos não devem se prender à crença “conheço meu filho e ele não seria capaz de”. “Ninguém conhece ninguém. Todo mundo tem sentimentos e comportamentos que podem tanto aflorar positivamente quanto negativamente.”

Blenda de Oliveira diz que conversas sobre o desafio da Baleia Azul devem estar restritos a crianças e adolescentes com acesso à internet, seja fixa ou móvel. “É um alerta que não vai fazer sentido com os menores.”

Segundo Ana Café, no entanto, os pais não devem ficar presos à faixa etária. “Hoje em dia, há crianças que têm smartphones ou amigos com aparelhos. O que é preciso fazer é adaptar o que se tem a dizer de acordo com a capacidade de compreensão do filho.”