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Cortar contato e excluir o ex das redes sociais não é sinal de imaturidade

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Imagem: iStock

Gabriela Guimarães e Marina Oliveira

Colaboração para o UOL

24/04/2017 04h00

Foi bom enquanto durou, mas agora é cada um para o seu lado. E, de preferência, sem contato -- ao vivo ou nas redes sociais. Terminar um relacionamento, geralmente, é um processo bastante sofrido. Por isso, muitas pessoas preferem cortar todo tipo de relação com o ex. E não há nada de errado nisso.

“É uma questão de se preservar. Para esquecer, precisamos de um pouco de distância. Não cabe a ninguém julgar essa decisão, porque só quem viveu a relação sabe o que está sentindo. Ainda que não haja vontade de voltar, há sempre um resquício de sentimento, que pode ser raiva e decepção, por exemplo”, afirma a psicóloga Marina Vasconcellos, especializada em terapia de casais e família pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O psicólogo Breno Rosostolato, professor da Faculdade Santa Marcelina, de São Paulo, tem a mesma opinião. "Eu só não concordo com aquela história de ‘ex bom é ex morto’, porque isso tem a ver com desejar mal para o outro e alimentar um sentimento de amargura. Mas se vai fazer bem pra você deletá-lo do Facebook ou bloqueá-lo no WhatsApp, por que não?”, questiona.

Uma pesquisa conduzida na Universidade de Brunel, na Inglaterra, divulgada em 2012, avaliou a relação entre o uso do Facebook e a recuperação pós-namoro. O levantamento mostrou que os participantes que fuçavam demais na vida do ex demoraram mais para curar a dor da separação. Já os que cortaram o contato acabaram relatando menos sentimentos ruins em relação ao término, bem como menos desejo sexual pelo ex.

Alguns poucos voluntários da pesquisa declararam que conseguiram se sentir melhor ao acompanhar a vida do ex on-line porque, ao ler as postagens, chegavam à conclusão de que aquela pessoa não era a certa mesmo. No entanto, o psicólogo Walter Mattos, da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, diz que esse processo não é tão simples assim. “Tipicamente, os nossos sentimentos moldam as nossas ideias, e não o contrário. É mais fácil ler sobre as atividades do ex nas redes sociais e amplificar sentimentos do que atenuá-los”, diz.

Ele explica que acompanhou, em consultório, muitas pessoas que relataram ter consciência de que não gostavam mais do ex e, ainda assim, sentiam-se mal ao vê-lo com outro. “É comum ser tomado por um sentimento narcísico do tipo: “como ele pode querer estar com outra pessoa e não comigo?’”, afirma.

Amizade é possível, mas depois de um tempo

Ex-namorados podem se tornar bons amigos. Mas, de acordo com os especialistas, não convém ter pressa para virar a chave da relação. “Você tem que superar o término. Talvez vocês se reencontrem e percebam que tudo está resolvido. A amizade acontece quando ambos não se enxergam mais como possíveis parceiros”, diz Marina.

A distância é ideal para parar de olhar para fora --no caso, para o outro-- e passar a olhar para dentro. “Elaborar as nossas tristezas e perdas é o que promove a saúde psíquica, na maioria dos casos. Mas é difícil fazer isso imerso em sentimentos ruins. O tempo longe ajuda a atenuá-los e a equilibrar memórias: a recordação do que foi bom e do que foi ruim. Também ajuda na atribuição de sentido e aprendizado ao que foi vivido com o outro”, diz Mattos.

O tempo de superação do término é individual, contudo, a forma como a relação chegou ao fim influencia --e muito-- no que acontecerá depois. “Quando a decisão da ruptura parte da outra pessoa, é bastante comum um certo inconformismo, misturado com insegurança e tristeza”, afirma o psicólogo.

Por fim, é preciso ter em mente que um ex só se torna amigo do outro quando os dois querem continuar em contato. “Não adianta forçar a barra se o outro não está preparado. Você não tem mais o direito de se impor na vida dele”, diz Marina.