Mesmo sem denúncia, caso Mayer teve avanços para mulheres, diz especialista
A figurinista Susllem Meneguzzi Tonani decidiu não levar adiante o inquérito contra José Mayer, após acusar o ator de assédio sexual nos bastidores da novela “A Lei do Amor” (Globo). “Mesmo sem a formalização, houve um ganho na direção de recriminar comportamentos como o do ator”, afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão.
Para a especialista, o fato de Susllem ter exposto a situação de violência e as consequências geradas para o ator –que reconheceu o erro e foi afastado do trabalho– são por si históricas. “É um episódio inédito na Globo, e é um progresso que vai tornar possível que outras denúncias ocorram em empresas grandes, como a emissora.”
Para a defensora pública Ana Rita Souza Prata, coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo, é provável que Susllem não tenha visto na via criminal a solução para a situação que viveu.
“O reconhecimento da violência por parte do ator pode ter sido o objetivo da denúncia, trouxe a paz que ela precisava. E é fato que o sistema prisional, tal como é hoje no Brasil, não iria fazer com que ele refletisse sobre seu comportamento machista.”
Ana Rita fala que, assim como Susllem, muitas mulheres não veem a detenção do agressor como objetivo final da denúncia. “E não é por isso que elas merecem menos proteção do que aquelas que formalizam a acusação e a levam adiante na Justiça. Temos de respeitar a autonomia da mulher.”
Fátima também diz que não se deve, de forma alguma, pôr em dúvida a conduta da mulher que não formaliza a denúncia. “Transferir a culpa para a vítima é uma reação cultural baseada no machismo. Ao fazer isso, a pessoa se coloca a favor do agressor”, fala a socióloga.
Não há como especular o que levou a figurinista a não seguir com a formalização da denúncia, mas ela não está só ao agir dessa maneira.
Segundo pesquisa da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, de 2015, 80% das mulheres que sofrem violência doméstica querem se ver livres da opressão, e não têm como objetivo final que o agressor vá preso.
“Inúmeras razões podem estar por trás disso: medo, vergonha, não acreditar no sistema prisional”, afirma a defensora pública.
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