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Opinião: Ser expulso de casa por ser LGBT é só o começo

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Iran Giusti*

Colaboração para o UOL

17/06/2017 04h00

Quando um LGBT é expulso de casa, existe um processo imediatista de se pensar sobrevivência. Como essas pessoas vão comer, onde elas vão morar? A gente também se pergunta como uma família tem coragem de colocar um filho na rua por sua orientação sexual e identidade de gênero.

Passadas essas perguntas iniciais, começamos a olhar com mais profundidade. A expulsão de casa não se dá de uma hora para outra, a partir de uma vivência familiar super saudável e estruturada: é mais um elemento em uma série de violências.

A pessoa LGBT que se vê sem teto passa, além de tudo, a confrontar também todos os seus medos, inseguranças e até a saudade de laços que, por pior que fossem, eram algo.

Quando chegamos em um momento da nossa vida em que a violência é algo que dá saudades, entendemos o quão desesperadora é a situação.

Se a vida ensina a sobreviver, a sociedade não faz o mesmo: cobranças são feitas constantemente, a aceitação não vem, os hospitais e instituições públicas não te atendem, nos centros de acolhida outros moradores e moradoras te agridem. Sem endereço fixo não se consegue escola, muito menos trabalho.

Se você é preto, vem da periferia, tem 18 anos ou pouco menos do que isso, até mesmo transitar pelos centros das cidades é um desafio. Você encara a solidão, mas não a solidão do textão de Facebook, a solidão de uma vida que nem a própria família te ajudou -- ou poderia ajudar.

Mas existe esperança: famílias vão se formando -- mas não dessas de comercial de margarina, menos ainda as que criam obrigações por conta do DNA compartilhado – mas sim aquela de coração, de sorrisos, de fervo e de auxílio. Se por um lado a falta de experiência com a pouca idade assusta, por outro, fazer amigos torna-se mais fácil e os laços com eles, mais estreitos.

No fim, ser expulso de casa é só mais um começo.

*Iran Giusti é produtor de conteúdo, militante e coordena o centro cultural e de acolhida LGBT Casa 1 (www.facebook.com/casaum).