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"A morte vai ter que me levar rindo": sem chance de cura, ela só quer casar

Layra e Alex estão juntos desde 2008 - Arquivo pessoal
Layra e Alex estão juntos desde 2008 Imagem: Arquivo pessoal

Denise de Almeida

Do UOL

27/06/2017 04h00

Layra Jordão tem 30 anos e recebeu um diagnóstico cruel: o câncer que ela enfrenta não tem mais possibilidade de tratamento. Enquanto tenta levar a vida com bom humor, ela quer realizar um último sonho: casar-se com o grande amor da sua vida.

Mesmo travando uma verdadeira batalha pela vida após a descoberta de um câncer agressivo na boca, que já se espalhou para o pulmão, Layra não perde uma oportunidade de dar risada. "Só me resta fazer piada dessa droga dessa doença. Porque se eu me deixar cair, vou passar o tempo todo chorando. Já que é para viver pouco, já que foi escolhido assim pelo Universo, vou viver esse pouco feliz. Não tem outro jeito".

"Não posso ficar deitada na cama chorando, esperando a morte chegar, em desespero. Ela vai chegar e vai ter que me levar rindo", diz a carioca em entrevista ao UOL.

Para poder casar com Alex Silva -- com quem divide a casa, a vida e suas angústias há oito anos, Layra criou uma "vaquinha" virtual, já que ela ganha um salário mínimo e o futuro marido está desempregado. O valor estipulado pela noiva foi humilde: R$ 2,5 mil. Mas, em apenas três dias, o montante arrecado superou as expectativas. No momento do fechamento dessa reportagem o financiamento coletivo beirava os R$ 6 mil.

"A minha intenção, no começo disso tudo, era assinar os papéis com ele, comprar uma aliança 'furreca' e juntar a família para celebrar. Só que agora a coisa está louca demais", conta, emocionada.

Se conheceram em uma noite fria e se esquentam até hoje

"A morte vai ter que me levar rindo", diz Layra  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"A morte vai ter que me levar rindo", diz Layra
Imagem: Arquivo pessoal
A história de Layra e Alex começou em 2008. Os dois trabalhavam em uma empresa de pesquisa e foram escalados para a mesma equipe, durante uma viagem. "Foi mágico, tinha que ser. Em uma noite fria em Nova Friburgo (RJ), aconteceu. É clichê para caramba, mas foi desse jeito. E a gente está se esquentando até hoje", diz ela, aos risos.

"Foi muito rápido: em um mês e meio a gente já estava falando sobre morar junto e procurando casa, comprando fogão, juntando o que tinha". Quatro meses após o início do romance, Alex e Layra passaram a dividir o mesmo teto e não se largaram mais.

"Ele é o meu parceiro da vida! Eu sei que para ele é muito doloroso tudo isso, porque ele sabe que uma hora não estarei mais aqui. E ele aguenta tudo isso do meu lado, sempre tentando se manter forte. Ele evita sofrer na minha frente, porque sabe que isso vai me abalar também. O que ele faz para mim eu não tenho palavras no mundo para agradecer", revela.

O diagnóstico

Layra descobriu o câncer há quatro anos, em 2013, depois que uma ferida surgiu no céu de sua boca.

Layra descobriu um câncer agressivo em 2013 - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
"É engraçado que, quando a médica me falou, eu não conseguia processar a ideia de que era um câncer. Eu tinha o cabelo na cintura e a primeira coisa que falei foi: meu Deus, eu vou ficar careca! Aí o Alex ficou olhando para mim, como quem diz 'quem vai pensar isso numa hora dessas?'", conta a carioca, rindo.

Ela já passou por duas longas quimioterapias e uma dolorosa radioterapia, mas agora ouviu dos médicos que nenhum tratamento seria eficaz de fato.

"Veio um monte de choque atrás do outro. Entrei no hospital com adenocarcinoma de glândula salivar e, em menos de um mês, diagnosticaram uma metástase pulmonar. Mais um mês e eu fiquei sabendo que não tinha cura, que só poderia fazer tratamento para controlar. E agora eles não encontram mais nenhum tratamento funcional para o meu caso", relata.

"Quero teu nome no meu"

Apesar da sequência de notícias ruins, ela diz que sempre tentou fazer piada da situação, mas as últimas notícias sobre a doença foram um baque. "Apesar de levar as coisas com bom humor, é muito doloroso saber que, aos 30 anos, sua vida está correndo".

"A gente sempre acha que vai viver muito, que vai envelhecer, vai poder aproveitar tudo sempre. E quando a gente sabe que não vai mais ter essa oportunidade é doloroso demais", revela.

Juntos há quase nove anos, Layra e Alex não usam alianças e não pensavam em casamento no papel. Mas ouvir dos médicos o diagnóstico desesperançoso mudou a situação. "Recebi essa notícia tão ruim, desse prazo que está correndo sem parar, e falei para o Alex: tem que ser agora! Eu quero teu nome no meu, para levar isso comigo", conta.

O casal criou uma vaquinha para conseguir realizar o sonho do casamento - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O casal criou uma vaquinha para conseguir realizar o sonho do casamento
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu espero ainda viver muito, muito, muito, muito. Até o último minuto eu quero estar aproveitando tudo, mas a gente não sabe quanto tempo restante tem".

Layra cursava gastronomia, mas teve que trancar a faculdade por conta da doença. Para conseguir aproveitar cada segundo que lhe resta ao lado do "amor da sua vida", como ela define, compartilhou entre os ex-colegas o financiamento coletivo. Mas a história começou a se espalhar e muito mais doações surgiram.

"Poxa, era gastronomia. Pelo menos os doces e o bolo aquele pessoal tinha que me dar, né? Aquele pessoal cozinha, pelo amor de Deus!", diverte-se Layra. "Aí eles começaram a se mobilizar de uma forma, com um amor e um carinho sem tamanho. Está uma loucura, está lindo, eu estou muito feliz".

Ela conta que pretende selar a união no dia 16 de setembro, por ser a data mais próxima de quando o casal se conheceu, e já conseguiu um salão para 80 convidados.

"Todo dia é difícil. É difícil quando eu me canso por subir uma escada, é difícil quando me abaixo e fico tonta ao levantar, é difícil respirar. É difícil um monte de coisa, mas eu tenho tanto amor, tenho tanta gente maravilhosa do meu lado! Tenho amigos e minha mãe, que me ligam sempre, tenho o Alex do meu lado, que é o maior presente que Deus poderia ter me dado... então, vamos viver", enfatiza.