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Viúvas aos 30: elas conseguiram reconstruir a vida após a tragédia

Por Gabriela Guimarães e Rita Trevisan

Colaboração para o UOL

04/08/2017 04h00

A trajetória de todas as mulheres que conversaram com o UOL sobre perder o marido tão jovens têm uma coisa em comum: a força. Com a ajuda do tempo –que não acaba com a saudade, mas ameniza a dor–, elas encontraram estratégias diferentes para tocar suas vidas.

Ayeche Khalil, 57, empresária - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“De dona de casa, me tornei empresária”

“Meu marido foi assassinado ao fazer uma cobrança na porta de um devedor. Fiquei viúva aos 30, com três filhos: a mais velha tinha 10 anos e o mais novo, 18 dias. Não trabalhava, era dona de casa e não tinha a menor ideia de como ia pagar a escola dos meus filhos ou o aluguel. A família, os amigos, todos apoiaram no começo, mais ou menos um mês. Depois, cada um foi cuidar da sua vida e eu vi que teria que me virar, educar meus filhos e arrumar um trabalho. Comecei vendendo artigo de cama, mesa e banho para conhecidos, juntei dinheiro e, em pouco tempo, abri uma loja de utensílios domésticos. Formei uma clientela e passei a trazer tudo o que me pediam, até colchão e guarda-roupa. Hoje tenho uma loja de móveis, que tem tudo que uma casa precisa. Eu me tornei empresária, criei meus filhos e só depois de cinco anos me envolvi com alguém. Tudo o que eu construí foi graças ao meu esforço.”

Ayeche Khalil, 57, empresária
 

Mara Sales Santos, 33, assistente financeira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Preenchi o imenso vazio que ficou com uma meta”

“Meu marido faleceu há cinco anos e já estávamos juntos há 10. Ele era policial militar, foi vítima de um roubo e levou três tiros. Ficou uma semana na UTI, mas não resistiu. O que eu senti, na época, não dá para descrever: um misto de muita dor, raiva e impotência. Não tínhamos filhos e eu acho que só sobrevivi por causa da minha família e dos meus amigos. Lembro que meus dias ficaram completamente vazios sem a presença dele. O que eu fiz foi preencher esse vazio com uma meta: de passar em um concurso público. Tinha 28 anos na época e comecei a fazer cursinho. Não pensava tanto no futuro, mas em sobreviver cada dia. Era o meu único foco: ter paciência, fé e viver um dia de cada vez. Foi assim que, aos poucos, eu consegui voltar a sorrir. Só recentemente consegui iniciar uma nova história com alguém e posso dizer que superei o luto.”

Mara Sales Santos, 33, assistente financeira

Renata Gomes de Oliveira Durães, 34, assistente de publicidade - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Só levantava da cama por causa do meu filho”

“Estava casada há oito anos quando meu marido descobriu um câncer na bexiga, em estágio avançado. Fiquei dois meses com ele no hospital e, logo depois, ele se foi. Eu tinha 30 anos e não trabalhava. Meu filho, na época, estava com 3. De repente, eu não tinha mais que ir ao hospital, não tinha mais meu marido, meu companheiro, a pessoa que sempre foi o meu porto seguro. No começo, passava o dia na casa de parentes, mas, quando voltava e meu filho dormia, eu chorava sem parar. Foi muito difícil e, todos os dias, de manhã, minha vontade era ficar na cama. Mas aí eu pensava no meu filho, que também estava sofrendo muito, e que não tinha mais ninguém com quem contar. Eu me levantava pensando nele e tocava a vida adiante. Hoje, quatro anos depois, aprendi a conviver com a dor e a saudade, trabalho e tenho minhas atividades, o que me ajuda bastante. Quando acontece a perda, parece que nunca mais vamos encontrar a luz no fim do túnel. Mas a vida tem que continuar. E continua.”

Renata Gomes de Oliveira Durães, 34, assistente de publicidade

Herminda Sancho Camatari, 79 anos, costureira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Aceitei tudo o que a vida me deu. E também o que ela me tirou”

Fiquei viúva aos 26 anos e, depois, aos 45. Também perdi uma filha em um acidente trágico, que foi o que deixou o meu primeiro marido desgostoso e, na minha opinião, o que o levou a ficar doente. Mas nunca, em nenhum momento, eu perdi o sentido da vida, a vontade de viver. Simplesmente encarei a realidade e fui à luta. Quando meu primeiro marido faleceu, tinha duas meninas, uma de cinco anos e a outra, dois. Comecei a trabalhar em escola para sustentar minha família, costurava para fora, até lenha eu carreguei. Mas nunca faltou nada para elas. Eu acho que eu tive muita força para superar tudo porque eu nunca me revoltei, eu aceitei o que a vida me deu e também o que ela me tirou. Hoje, 35 anos depois da perda do meu segundo marido, tenho certeza de que valeu a pena persistir e seguir em frente. Ainda acalento muitos sonhos, graças aos meus netos e filhos do coração, que me enchem de alegria.”

Herminda Sancho Camatari, 79 anos, costureira

Josevania Santos, 39 anos, bancária e fotógrafa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

”Encontrei uma segunda profissão”

“Meu marido morreu de forma repentina, teve um mal-estar súbito e chegou ao hospital com vida, mas faleceu na sala de observação. Foi um choque, estávamos juntos há sete anos e, claro, tínhamos planejado envelhecer juntos. Na época, eu tinha 32 anos, e passei vários meses sem vontade de comer nada e sem conseguir dormir. Com o tempo, comecei a sair novamente, tive que fazer novos amigos e encontrei na fotografia uma válvula de escape. Investi tudo nesse novo hobby, que acabou virando uma segunda profissão, embora eu não tivesse qualquer tipo de problema financeiro. Foi mais para ocupar a cabeça mesmo. E funcionou. Sete anos se passaram e eu posso dizer que a gente se adapta com tudo, mesmo com as piores dores do mundo.” 

Josevania Santos, 39 anos, bancária e fotógrafa

Ana Gislene Guimaraes Amorim Silva, 50 anos, gerente regional - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

“Com a perda do meu marido, virei pai e mãe”

“Eu tinha 32 anos quando meu marido faleceu, em um acidente de carro. Estávamos juntos, eu, ele, meu filho de seis anos e mais alguns familiares. Ele foi a única vítima fatal. Nos primeiros dias após a perda, achei que não ia conseguir viver, fiquei anestesiada, o encontro com a realidade foi muito difícil. Mas eu tinha um filho de seis anos que ficou extremamente abalado e que precisava de mim. Por ele, dei o meu melhor, trabalhei muito para que não faltasse nada em casa. Meu papel social mudou completamente, pois virei pai e mãe. Desde que meu marido morreu, entendi que minha vida não seria mais a mesma, eu não seria mais a mesma. Mas era preciso continuar e dar mais um passo adiante, não havia outra coisa a fazer.”

Ana Gislene Guimaraes Amorim Silva, 50 anos, gerente regional