Por que você não precisa ter vergonha do cheiro da sua vagina

Sabonete íntimo, desodorante vaginal, gel perfumado, lenço umedecido, protetor diário de calcinha e até perfume. O que não faltam nas prateleiras das farmácias são opções de produtos que prometem "uma vagina limpinha e cheirosa". A prova de que o órgão sexual feminino, assim como o seu odor característico, ainda é tabu. E isso precisa acabar, fazem coro as especialistas.

Se todas as secreções do corpo têm cheiro, com a vagina não seria diferente. Dá pra afirmar que ele é levemente ácido, como o ph da região, e muda de acordo com a alimentação e o ciclo menstrual de cada mulher.

Mas, apesar de ser totalmente natural, há muitas reclamações de mulheres — em muitos casos relatando que os problemas vêm dos parceiros.

Uma pesquisa realizada pela empresa Sex Wipes, em 2014, com 1.252 homens heterossexuais e sexualmente ativos de São Paulo revelou que 43% deles não fazem sexo oral nas parceiras. Entre as justificativas para a repulsa, domina o desagrado com o cheiro e aparência da genitália feminina.

Além do desconhecimento sobre o próprio corpo, existe uma concepção equivocada de que cheiroso é tudo aquilo que se parece com baunilha e flor, por exemplo. Nosso olfato foi treinado a achar fragrâncias sintéticas agradáveis.

Cuidado com a higiene exagerada

Uma outra questão chama atenção: a obsessão pela limpeza. Há quem contraia infecções vaginais causadas pelo excesso de banho. Isso ocorre porque a lavagem frequente com produtos adstringentes provoca uma retirada mecânica das bactérias da flora vaginal, que têm como única função promover o equilíbrio saudável contra infecções.

O ideal é escolher apenas um banho do dia para lavar as partes íntimas com um sabonete líquido e neutro. O produto deve se restringir à virilha e aos grandes lábios. Na mucosa interna, limite-se à água corrente. Nada de recorrer às duchas vaginais. A vagina é autolimpante. A mesma recomendação vale para os lenços umedecidos. Caso esteja com alguma infecção, o recomendado é lavar as mãos com o sabonete neutro e retirar a secreção interna com os dedos.

Atenção redobrada também à roupa íntima. Prefira sempre as de algodão, que evitam o acúmulo de suor na região, que é naturalmente úmida e abafada. Na hora de lavar, use só sabão de coco — sem amaciante — e enxágue duplo. Pigmentos depositados nas peças por produtos de limpeza podem causar irritação e desequilibrar o ph vaginal.

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E o tal 'cheiro de bacalhau'?

Camuflar o cheiro natural tem ainda outro fator agravante, o de não reconhecer qualquer sinal de infecção que se mostra através da mudança de odor. Toda vulva libera muco, também conhecido como corrimento. Em geral, a quantidade varia de mulher para mulher e são considerados normais aqueles transparentes — amarelo ou esbranquiçado — e sem odor intenso. Qualquer alteração de cor ou cheiro precisa ser avaliada por um especialista.

O diagnóstico mais frequente é de vaginose. Trata-se de uma infecção causada pela alteração bacteriana da flora local provocada principalmente pelo aumento do número da bactéria Gardnerella vaginalis, que gera corrimento acinzentado e leitoso, além do tal cheiro de peixe podre. A comparação tem sentido, pois é o mesmo composto químico liberado pelo bacalhau. O problema se dá, em muitos casos, por meio da relação sexual.

O esperma alcalino, quando depositado na vagina ácida, desequilibra a flora vaginal, abrindo espaço para as bactérias. Já a famosa candidíase é uma infecção causada pelo crescimento excessivo do fungo Cândida, que normalmente se dá na baixa imunidade. Para evitá-la, o ideal é dormir sem calcinha, evitar os protetores diários, pegar leve na limpeza extrema e passar longe das peças íntimas muito justas.

Fontes: Ana Katherine da Silveira Gonçalves, ginecologista da comissão de doenças infecto-contagiosas da Frebasgo; Bruna Wunderlich, ginecologista e obstetra; Palmira Margarida, historiadora e especialista em odores femininos

*Com matéria publicada em 18/09/2018

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