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Feminista e dona de casa: ela conta como concilia esses dois papeis

A catarinense Carla Cristina, 37 anos - Arquivo pessoal
A catarinense Carla Cristina, 37 anos Imagem: Arquivo pessoal

Gabriela Guimarães

Colaboração para o UOL

16/10/2017 04h00

Carla Cristina, 37 anos, faz faculdade de Serviço Social, é dona de casa e cuida de cinco filhos - a mais velha tem 18 e o caçula, 6. Ela é feminista militante há quatro anos: dirige um projeto de alfabetização de mulheres do município de Santo Amaro da Imperatriz (SC) e participa de reuniões num Coletivo Feminista em Florianópolis. A seguir, ela explica por que ser dona de casa não anula o seu empoderamento.

"Ficar em casa com meus filhos foi uma opção consciente. Quero e preciso ser uma referência para eles. Ao decidir não trabalhar, não acho que me anulei. Apenas escolhi priorizar minha família.

Não romantizo a maternidade e entendo que filhos demandam tempo e dinheiro - mais tempo que dinheiro. Também não julgo as mães que trabalham fora e pagam alguém para cuidar dos filhos.

O feminismo existe para que a mulher tenha poder de escolha. Eu escolhi ser dona de casa, mãe e esposa

Entrei para o movimento feminista após estudar a crimes contra mulher na faculdade. O assunto me instigou e procurei grupos de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. Na época, eu ainda morava em Palhoça, em Santa Catarina. Entrei para o Conselho Municipal de Mulheres, em que debatíamos leis e segurança. 
Mas a minha vida de mãe e esposa logo se interpôs e eu mudei de cidade. Saí de Palhoça e vim para o município vizinho, Santo Amaro da Imperatriz, uma área mais rural. Viemos em busca de mais qualidade de vida para os nossos filhos. Lá em Palhoça, morávamos em um apartamento pequeno. Aqui, temos uma casa confortável, com quintal, árvores e é próxima da escola das crianças."

"Exerço o feminismo no meu dia a dia"

"Estou fazendo um curso à distância sobre feminismo na FURG (Universidade Federal do Rio Grande). Também atuo como militante do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, de Florianópolis. Mas entendo o movimento mais como ações diárias, como por exemplo, ser solidária às outras mulheres. É o que se chamamos de sororidade. 

Ao chegar aqui, percebi que muitas mulheres não sabiam ler ou escrever e eu poderia ensinar. Criei, então, um projeto pessoal de militância feminista. Dou aulas gratuitas de alfabetização, duas vezes por semana. É uma forma de transformar a vida de algumas delas. Alfabetizadas elas se tornam empoderadas."

"Lavo roupa e faço a faxina"

"Minha rotina é corrida, às vezes não tem almoço, só café e lanche. Tem dia que durmo às 3h da manhã, porque fiquei limpando banheiro. Minhas filhas mais velhas, de 18 e 13 anos, ajudam a cuidar dos mais novos, de 10, 7 e 6. Meu marido também é um parceirão, mas eu sou responsável pela comida e pelas roupas: lavar e estender.
Também mantenho um brechó na minha garagem, que abro todos os dias (segunda à sábado das 13h às 19h). É daí que tiro o dinheiro para manter o projeto de alfabetização. Nas terças e quintas a rotina muda por conta das aulas de alfabetização. Das 14h às 17h meu tempo é dedicado única e exclusivamente ao projeto.
À noite, costumo estudar um pouco, dar janta para as crianças e, às vezes, faxino e arrumo o brechó. Enquanto eles dormem, eu planejo o dia seguinte."