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"Meu trabalho é pisar nos homens: ganho dinheiro com podolatria"

Nathália Guedes - Arquivo Pessoal
Nathália Guedes Imagem: Arquivo Pessoal

Helena Bertho

do UOL

06/12/2017 04h00

Podolatria é o fetiche das pessoas que sentem tesão por pés. Nathália Guedes, 32, descobriu esse fetiche por acaso, e soube que seu pé era considerado perfeito pelos podólatras. Ela decidiu aproveitar o que a natureza lhe deu e transformar isso em profissão. Há pouco mais de um ano, faz sessões de podolatria e ganha dinheiro com isso. Aqui ela conta um pouco sobre sua profissão.

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"Tive um namorado que adorava beijar meu pé, mas nem ele entendia aquele tesão. Eu dizia: 'você é louco, para com isso'. Terminamos, o tempo passou e depois de algum tempo, conheci a palavra podolatria, mas ainda era uma realidade distante para mim.

Até que, em 2015, fui fazer uma entrevista de emprego e o entrevistador começou a elogiar meu pé. Foi de uma forma tranquila, não me senti assediada, eram comentários carinhosos sobre como meu pé é perfeito. Consegui o emprego, como recepcionista em um hotel, e meu novo chefe me apresentou ao mundo da podolatria.

Criei um perfil para meus pés nas redes

Foi o meu chefe que me contou que existiam homens doidos por pés e que eu poderia até ganhar dinheiro com os meus, mas isso não era um plano. Estimulada por ele, criei um perfil no Instagram para publicar fotos. Nele, não aparecia meu rosto, apenas os pés.

Começaram a surgir seguidores e passei a receber elogios. Aí, peguei meu perfil pessoal no Facebook, bloqueei minha família e amigos e comecei a adicionar pessoas que gostavam de podolatria.

Pouco depois, fui a uma festa, um concurso Miss Sexy Feet e, para minha surpresa, ganhei o campeonato. Além disso, tinha ali gente que já me conhecia da internet. Um homem parou na minha frente e falou: 'você é a Nathália Guedes? Seu pé é lindo'.

Eu não tinha coragem de pisar no cara

Por essa época, tive algumas questões pessoais e precisei me mudar para São Paulo. Minha ideia era ver o que eu conseguia por aqui de trabalho. Mas começaram a aparecer as propostas de sessões de feet --que é como chamam a dona dos pés adorados pelos podólatras. E, curiosa, acabei topando.

A primeira foi engraçada, um desastre. Era um homem que gostava de ser pisado. Como eu nunca tinha pisado em ninguém, ele disse que me ensinaria. Mas, no começo, tudo que eu pensava era: 'ai, eu vou machucar esse homem'. Então ia com cuidado. Hoje, sei que eles gostam é que pise com força, nada dessa coisa de dó.

Depois desse, foram aparecendo outras propostas. Um dia eu tinha uma sessão, no outro, duas. Foi aparecendo muita gente e eu percebi que poderia dar um tempo de procurar trabalho.

Capa Podolatria - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL
Como é a sessão

As sessões duram uma hora e meia e custam R$ 300. Agora, como acontece pode variar. Tem cliente que gosta de ser pisado, outros querem me ver desfilar de salto, alguns querem que eu amasse comida com os pés... Eu não sou dominadora, então, o máximo que faço de BDSM é uma dominação leve, dando ordens para lamber e beijar meu pé. Coisas assim.

Antes, porém, eu sempre converso muito. Quero saber quem o cara é, se é podólatra mesmo, o que espera. Checo se tem perfil pessoal no Facebook, se parece real. Além disso, deixo claro o que faço e o que não faço. Nada de submissão, BDSM ou outros fetiches, só podolatria. Também não sou prostitua e deixo isso claro.

Sempre marco as sessões em um hotel que escolho, assim me sinto mais segura.

O tempo todo acham que sou garota de programa

Exatamente por ser cuidadosa, nunca passei uma situação difícil durante uma sessão. O que me incomoda é que a maioria dos homens me procura querendo sexo, e não é isso que eu faço.

Se eu falar que nunca teve proposta, que eu nunca transei, é mentira. Eu estava solteira... Daí você atende um cara bonito, solteiro... Querendo ou não, vendo seu pé ele fica excitado, é gostoso, né?

Mas também já aconteceu de atender pessoa que veio aqui, fincou sentado, conversando comigo, fazendo massagem no meu pé. E é bem comum virem caras casados, que só querem beijar e massagear meu pé, porque a esposa não aceita esse fetiche.

O mais legal é ver o poder que eu tenho com o pé. Se toda mulher descobrisse isso... Faz muito bem para a autoestima, ver o cara ali, aos seus pés, te olhando como se fosse uma deusa.

A parte mais chata é que o tempo inteiro acham que sou garota de programa. Não aguento mais isso. De 20 caras com quem falo, só um, de fato, quer a podolatria. Os outros ficam fazendo propostas para transar, me ligam duas da manhã querendo conversar. Isso me cansa.

Vou aposentar meus pés

No começo desse ano, conheci um fotógrafo que fez algumas fotos para minha divulgação. Nos tornamos amigos, fomos nos aproximando e acabamos nos apaixonando e começamos a namorar. Ele sempre soube que eu faço sessões, mas não é podólatra. Até faz carinho e massagem no meu pé, elogia, mas não é o fetiche dele.

Nossa relação foi crescendo e, mesmo sem ele pedir, eu acabei decidindo parar de fazer sessão, porque eu não gostaria que meu namorado estivesse em um quarto de hotel, fazendo sabe-se lá Deus o quê, com uma menina.

Então pretendo aposentar meus pés para novos clientes. Só os antigos, mais queridos, que já conheço e já confio, é que vou manter".