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Regina Navarro Lins

"Ele me decepcionou; é como se estivesse entre o masculino e feminino"

Universa

30/04/2018 04h02

(Caio Borges/Arte)

" Ele me decepcionou; é como se estivesse entre o masculino e feminino…é indefinido, um andrógino!

Conheci um homem pelo Tinder. Eu estava muito a fim dele e ficava ansiosa quando ele não me enviava mensagem. Conversamos durante dois meses e acabamos marcando um jantar. Eu já tinha visto fotos dele, mas no restaurante, fiquei decepcionada. Ele não tem aspectos masculinos como os de outros homens com quem me relacionei, mas também não é gay… é como se estivesse entre o masculino e feminino…é indefinido, um andrógino! Isso me causou estranheza, mas temo que seja por algum preconceito meu."

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"Acredito que essas categorias sexuais – hetero, homo ou bi -, quando usadas como rótulos, fixam na mente uma ideia que não deveria ser fixa, mas extremamente fluida. Nós só estamos encapsulados numa categoria.", diz a psicanalista americana June Singer, autora do livro Androginia.[

A queda das barreiras dos sexos já não é novidade. Há algum tempo não são nítidas as fronteiras entre o masculino e o feminino. É praticamente impossível encontrar algo que interesse aos homens e não às mulheres, e vice-versa.

No momento em que se impõe a plasticidade dos papéis sexuais, em que as mulheres podem escolher não serem mães, torna-se cada vez mais difícil determinar, de forma exata, a diferença entre o homem e a mulher. A semelhança dos sexos é uma inovação tal que podemos encará-la em termos de mutação.

O modelo de semelhança é propício para se levar em conta nossa natureza andrógina. June Singer vê muitos indícios de uma tendência andrógina no Ocidente, seja nos hábitos e costumes sociais, na moral, ou na percepção de milhões de pessoas que buscam como expandir a consciência de si e do mundo em que vivem.

Androginia é uma forma arcaica e universal de exprimir a totalidade. A androginia refere-se a uma maneira específica de juntar os aspectos "masculinos" e "femininos" de um único ser humano. O andrógino aceita conscientemente a interação desses aspectos: um é complemento do outro.

"Quando exploramos o material sexual nos níveis profundos da psique, inevitavelmente chegamos a um estado no qual os sentimentos sexuais são muito mais soltos e fluentes do que as pessoas normalmente se dispõem a admitir. Minha experiência clínica sugere que a orientação bissexual é muito mais difundida do que a maioria acredita. Poucas são as pessoas que não nutrem sentimentos eróticos por parceiros reais ou potenciais de ambos os sexos.", diz Singer.

Não precisamos mais nos ver como exclusivamente masculinos ou exclusivamente femininos, mas como somos seres inteiros nos quais as qualidades opostas estão sempre presentes. E caminhamos para o fim do gênero sexual.

A americana Melinda Davis acredita que a identidade sexual se tornará meramente uma característica secundária, como tipo sanguíneo. Seremos identificados e escolheremos parceiros não segundo o sexo, mas segundo a compatibilidade psíquica. Será?

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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