Flor comestível: onde encontrar e como plantar a capuchinha

Uma flor de cor laranja vibrante e de folhas arredondadas é abundante nesta época do ano. Comestível e de sabor picante, a capuchinha lembra o agrião -que é um dos parentes vegetais da espécie, junto com a rúcula.

A flor é das mais versáteis na cozinha (combina com saladas, carnes e queijos) e pode ser encontrada nas hortas comunitárias da cidade.

Por isso, ela foi escolhida pela nutricionista Neide Rigo, 53, da horta City Lapa, para temperar o nhoque que preparou para o almoço coletivo em comemoração aos dois anos da horta das Corujas, na Vila Beatriz, região oeste, no último sábado (13).

"[A planta] brota muito rápido, não precisa de muitos cuidados e logo já floresce. Praticamente toda horta urbana tem, é um jeito de proteger a terra porque ela resiste à seca e protege a umidade", conta Neide. A flor ainda é rica em betacaroteno e em vitamina C, segundo a nutricionista.

Em casa, se você não tem espaço para um canteiro, a capuchinha pode ser plantada em um vaso. Para começar o cultivo, basta pegar uma muda ou um galho -os voluntários das hortas costumam oferecer a quem pede- e colocá-lo em um vaso com terra úmida.

Nos primeiros dias, é interessante deixá-lo em um local com sombra. Depois que a planta "pegar", o único cuidado necessário é garantir a umidade do solo, impedindo que a terra fique seca.

HORTELÕES URBANOS

A plantação das Corujas é a primeira horta comunitária em praça paulistana e, desde que começou, tem inspirado ocupações semelhantes nas áreas verdes da cidade.

"É um experimento não só agrícola, mas principalmente sociológico. Não é voltado para o abastecimento, mas para a educação ambiental na cidade", afirma a jornalista Claudia Visoni, 48, enquanto cuida de canteiros onde são colhidos morangos, tomates, abacaxis, mamões e temperos.

Além de produzir alimentos orgânicos e de criar novos grupos sociais, o trabalho dos hortelões acaba recuperando espaços antes degradados.

Ezyê Moleda/Folhapress
Quiche de queijo com capuchinha, receita da nutricionista Neide Rigo, 53
Quiche de queijo com capuchinha, receita da nutricionista Neide Rigo, 53

A horta da Saúde, no bairro homônimo, na zona sul, ocupa desde novembro de 2013 um terreno público que, abandonado e malcuidado, gerava reclamações entre os vizinhos pela falta de segurança.

Encontrar pés de milho e de couve brotando durante uma caminhada pelo bairro desperta a curiosidade dos transeuntes. "Ei, escuta, quem é que vai comer tudo isso aí?", perguntava uma senhora de cabelos ruivos, carregando as sacolas das compras de domingo, ao passar pela calçada da horta da Saúde.

O engenheiro Sergio Shigeeda, 55, um dos voluntários, explica que, por estarem localizadas em espaços públicos, o uso e o cuidado da horta são coletivos. Mas mesmo quem nunca fez nada pela plantação pode colher uma verdura ou fruta que esteja por ali -com bom senso, para que a colheita possa beneficiar o maior número possível de pessoas. "A recomendação é colher pouco e com cuidado", diz Shigeeda.

Quem quiser colaborar pode participar das discussões no grupo Hortelões Urbanos, que reúne no Facebook mais de 10 mil agricultores e aprendizes da capital para trocar experiências e marcar encontros. Outro canal é procurar diretamente os voluntários nos mutirões, que ocorrem nos finais de semana.

NASCEU NO ASFALTO

Além das flores de hortaliças (como as de alface, manjericão, pepino, abóbora e melão), as calçadas da cidade podem ser um prato cheio para quem quer se aventurar em cardápios floridos. Já pensou, em vez de assoprar um dente-de-leão, comê-lo? "Quando ele está maduro é ruim para comer, mas quando está desabrochando, antes de saírem as pétalas amarelas, é ótimo em saladas e massas", diz Neide Rigo.

Até mesmo as pétalas amarelas e rosas do ipê podem virar almoço. "Pegue sempre da árvore, nunca do chão. Despreze os filetes que ficam dentro, pois neles pode haver algum bicho", afirma o gestor ambiental Guilherme Reis, 24, do blog Matos de Comer (matosdecomer.blogspot.com).

Reis recomenda sempre lavar as flores para retirar a poluição ("que não se acumula muito, porque a flor dura em média uma semana e não acumula tanto pó").

Também é importante tomar cuidado com a localização da planta a ser colhida. Evite pegá-las em áreas de risco como imediações de córregos poluídos, aterros sanitários e áreas industriais.

ONDE TEM CAPUCHINHA?

Horta das Corujas
Na praça Dolores Ibarruri, uma cerca delimita a horta das Corujas. Mas não se intimide: a porteira está sempre aberta e a restrição é apenas para animais não ficarem entre os pés de alface, morango e couve. Preste atenção nas placas que avisam as datas de mutirões de cultivo e orientam a circulação entre os canteiros, pois trata-se de uma área de nascentes.

Pça. Dolores Ibarruri, Vila Beatriz, região oeste. www.hortadascorujas.wordpress.com

Horta da Saúde
Mantida pelos moradores do bairro, na horta há canteiros com pés de milho, ervas medicinais e tomates. O canteiro de capuchinhas circunda toda a lateral da horta -entre as flores comestíveis, é possível encontrar ali também as
da espécie ora-pro-nobis.

Rua Paracatu, 66, Saúde, região sul.

Horta do Ciclista
No cruzamento da avenida Paulista com a Consolação, uma das esquinas mais agitadas de São Paulo, é possível comer
e cultivar morangos e temperos.

Praça do Ciclista, Cerqueira César, região oeste.

Horta City Lapa
Perto da estação de trem Domingos de Morais, a horta surgiu há quatro meses
e já tem ervas medicinais e pés de couve.

Esquina das ruas João Tibiriçá e Barão de Itaúna, Lapa, região oeste. www.hortacitylapa.blogspot.com.br

Hortão Casa Verde
O terreno particular, antes cheio de entulho, há cinco anos virou uma horta com pés de tomate, milho, cenoura e
até um pequeno lago. Para entrar, mande e-mail para botanica@folha.com.br.

R. Caetano Desco, 126, Casa Verde, região norte.

Horta do CCSP
As capuchinhas ainda estão tímidas, mas a horta tem flores de hortaliças, como manjericão, e dentes-de-leão.

Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso, região sul. www.centrocultural.sp.gov.br

31ª Bienal de Arte de São Paulo
A instalação "Landversation", da artista Otobong Nkanga, convidou alguns hortelões para plantar na Bienal -há um canteiro com ervas e temperos e outro com capuchinhas.

Parque Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, região sul, tel. 5573-9932.

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