Topo

Paola Machado

Posso me exercitar com dor nas costas?

Paola Machado

08/05/2019 04h00

Crédito: iStock

A dor nas costas é considerada um problema de saúde pública que pode afetar qualquer pessoa. Cerca de 80% das pessoas sofrerão ao menos um episódio de dor lombar em algum momento da vida.

Quando se pensa em dor lombar crônica, devemos pensar em um impacto negativo que afeta vida pessoal e profissional dos indivíduos, gerando afastamento do trabalho e de vida social, além de gastos médicos com tratamentos extensos e caros.

No caso de quem tem dor, é muito comum que a pessoa evite se movimentar, o que alimenta o ciclo de dor crônica. A pessoa passa a ter a crença de que se realizar algum movimento, irá sentir dor e, por isso, limita e não executa adequadamente movimentos. Como se a mente assistisse a uma situação e automaticamente começasse a montar um cenário de dor e incapacidade.

Posso fazer exercícios com dor nas costas?

Pode e deve, desde que com orientação. Quando pensamos em custo-benefício no tratamento de dor lombar crônica devemos considerar o papel do exercício terapêutico. Todas as diretrizes e evidências na área apontam para o exercício físico como o melhor tratamento para dor lombar crônica.

O exercício direcionado e orientado se mostra eficaz em diminuir a dor, influenciando o sistema inibitório endógeno e induzindo a hipoalgesia –diminuição de dor. Além disso, o exercício melhora as questões psicológicas envolvidas na ansiedade, estresse e nesse medo de se movimentar, conhecido como cinesiofobia.

O pilates é um método que se difundiu fortemente no Brasil sendo incorporado por profissionais como uma ferramenta na promoção à saúde. No pilates, o fortalecimento do core ocorre de forma constante e intensa por meio da contração isométrica de um conjunto de músculos como multifidus, transverso, assoalho pélvico e diafragma. A co-contração das musculaturas leva à diminuição da compressão articular e à estabilização da coluna.

Estudos já demonstraram o papel do pilates na melhora da resposta imune, diminuição de marcadores pró-inflamatórios, redução do percentual de gordura e incremento da massa magra. Recentemente, um estudo foi publicado e demonstrou a eficácia do pilates incorporado durante o processo de reabilitação em pacientes com dor lombar crônica não específica, e apontou que praticar pilates por 12 semanas é eficaz na redução da dor, na melhora da incapacidade, na redução medo do movimento –cinesiofobia — e proporciona uma maior espessura dos músculos do tronco.

Além disso, outro estudo recente demonstrou que o pilates realizado duas vezes por semana traz benefícios em pacientes com dor lombar crônica inespecífica, sendo a frequência de três vezes por semana a melhor opção no que se refere à análise custo-utilidade*.

O que é essa análise custo-utilidade?

De forma geral, a análise de custo-utilidade pode ser vista como uma análise econômica tipo custo-efetividade realizada a partir da perspectiva do paciente e que toma como parâmetro de efetividade clínica. A vantagem desse indicador de saúde é que ele permite simultaneamente capturar ganhos com a redução da morbidade (ganhos em qualidade) e com a redução da mortalidade (ganhos em quantidade), integrando-os em uma única medida.

Assim, o pilates surge como uma ótima opção dentro dessa análise. A importância de se incorporar o pilates surge como uma estratégia que pode agregar no combate à dor nas costas.

Lembre-se que é possível tratar a dor, mas o essencial é focar em prevenção. Pense em qualidade de vida, mantenha-se ativo e consciente do impacto de suas escolhas em sua vida em longo prazo. Caso tenha sintomas, acompanhe com seu médico e fisioterapeuta para a escolha da melhor abordagem de tratamento.

*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP, Dra. Renata Luri

Referências:
– Cruz-Díaz, D., Romeu, M., Velasco-González, C., Martínez-Amat, A., & Hita-Contreras, F. (2018). The effectiveness of 12 weeks of Pilates intervention on disability, pain and kinesiophobia in patients with chronic low back pain: a randomized controlled trial. Clinical Rehabilitation, 32(9), 1249–1257. doi:10.1177/0269215518768393
– Ferreira PH, Ferreira ML and Hodges PW. Changes in recruitment of the abdominal muscles in people with low back pain: ultrasound measurement of muscle activity. Spine 2004; 29: 2560–2566.
– French DJ, France CR, Vigneau F, et al. Fear of movement/(re)injury in chronic pain: a psychometric assessment of the original English version of the Tampa Scale for Kinesiophobia (TSK). Pain 2007; 127: 42–51.
– Miyamoto, G. C., Franco, K. F. M., van Dongen, J. M., Franco, Y. R. dos S., de Oliveira, N. T. B., Amaral, D. D. V., … Cabral, C. M. N. (2018). Different doses of Pilates-based exercise therapy for chronic low back pain: a randomised controlled trial with economic evaluation. British Journal of Sports Medicine, 52(13), 859–868.doi:10.1136/bjsports-2017-098825
– Oliveira CB, Maher CG, Pinto RZ, Traeger AC, Lin CC, Chenot JF, van Tulder M, Koes BW. Clinical practice guidelines for the management of non‐specifc low back pain in primary care: an updated overview. European Spine Journal. 2018 Nov;27(11):2791-2803. doi: 10.1007/s00586-018-5673-2. Epub 2018 Jul 3. Review.
– Qaseem A, Wilt TJ, McLean RM, et al. Noninvasive treatments for acute, subacute, and chronic low back pain: a clinical practice guideline from the american college of physicians. Ann Intern Med 2017;166:514.
– WHO Commission on Macroeconomics and Health. Macroeconomics and health: investing in health for economic development. Geneva: World Health Organization; 2001.
– Valença JB, de Alencar MCB. O afastamento do trabalho por dor lombar e as repercussões na saúde: velhas questões e desafios que continuam/The absence from work due to low back pain and the repercussions on health: old persisting issues and challenges. Cad. Bras. Ter. Ocup.,São Carlos, 26 (1), 119-127, 2018.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.