Topo

Garay sobre ranking: "É como punir Barça e Real por serem organizados"

Garay foi titular durante os Jogos de 2016 - Yves Herman/Reuters
Garay foi titular durante os Jogos de 2016 Imagem: Yves Herman/Reuters

Leandro Carneiro

Do UOL, em São Paulo

15/04/2017 04h00

Campeã olímpica em Londres 2012, a ponteira Fernanda Garay está longe do Brasil desde 2013. A atleta é uma das jogadoras que entrou na Justiça contra a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). O motivo é o ranking que impede que mais que duas jogadoras que atuem na seleção brasileira defendam uma mesma equipe da Superliga. A regra foi uma das causas que a fizeram deixar o país há quatro anos para fazer carreira internacional.

Ao comentar sobre a situação de ranking, Fernanda Garay comparou a situação com Barcelona e Real Madrid. Para a jogadora, os clubes que fazem boa administração não podem ser punidos por isso.

“É preciso deixar claro que quem controla o mercado é o dinheiro. Clubes que não têm estrutura e poder financeiro nunca vão poder contratar os atletas mais pontuados. Isso acontece no mundo todo, seja no vôlei, seja no futebol, seja em qualquer esporte ou profissão. Imagine um ranking para o Campeonato Espanhol de futebol, para acabar com a hegemonia de Barcelona e Real Madrid. Vamos puni-los por serem os clubes mais bem organizados e administrados? Isso é um absurdo, tanto é que o ranking só existe no Brasil”, falou ao UOL Esporte.

“A forma como o ranking vem sendo implantado não tem como objetivo fortalecer e tornar mais competitivas as equipes que tem menos dinheiro, mas sim enfraquecer e limitar as equipes que contam com um grande patrocinador. Acredito que o fim do ranking possa tornar mais atrativa a Superliga e dessa forma trazer também para as equipes menores chances de maiores investimentos dos patrocinadores", afirmou Garay.

"Nesse aspecto é que a intervenção da CBV é essencial, já que foi quem o criou e por ter o dever de se preocupar com o futuro da modalidade, bem como com o seu crescimento, diferente dos clubes que muitas vezes pensam apenas no resultado individual”, completou a ponteira.

Garay ainda lembrou que quando defendia o Vôlei Nestlé há quatro anos, ela decidiu deixar o país por causa do ranking. Na época em que ainda atuava no país, era permitido a presença de três atletas sete pontos e o clube contava com Sheila, Jaqueline e Thaisa em seu elenco.

“Quando eu saí do Brasil para a Turquia, estava jogando em Osasco, onde estavam também outras três jogadoras de sete pontos. Naquele ano, após os Jogos Olímpicos, eu fui elevada à categoria de sete pontos, portanto a equipe não poderia ser mantida da maneira como estava. Ao fim da temporada, eu preferi tomar as rédeas da minha carreira e não esperar pela decisão do clube de quem não faria mais parte do elenco e abri a possibilidade para equipes do exterior”, afirmou.

“No meu caso específico, o ranking limita as possibilidades nas equipes, mas não é o único fator. Existem outros dois aspectos que procuro pesar. O primeiro é a competitividade. Busquei sempre crescer como profissional, e enfrentar as principais atletas do mundo foi uma motivação na hora de fechar com alguma equipe do exterior. Existe também o fator financeiro. Não vou ser hipócrita de dizer que isso não tem peso, mas desde que a soma desses dois aspectos seja positiva. O ranking, além de discriminar as atletas com sete pontos, inviabiliza a concorrência e o direito das atletas trabalharem. Na teoria ele foi criado para dar equilíbrio à competição, mas isso nunca existiu”, complementou.

Garay deve ser um dos nomes que estarão na lista de Zé Roberto Guimarães para começar o novo ciclo olímpico. Questionada sobre temer possíveis represálias por ter buscado a Justiça, a ponteira disse não temer isso.

“Penso que não haverá represálias por parte da CBV, porque mesmo tendo opiniões diversas, acredito que estamos lutando pelo fortalecimento do nosso voleibol em primeiro lugar e também no melhor para os atletas. Apesar de estar omissa com relação ao ranking, em outros aspectos a CBV é uma entidade que prima também pelo sucesso do nosso voleibol, ou deveria. Eu particularmente espero que a CBV entenda que o que buscamos é o melhor para todos, clubes, atletas, patrocinadores, televisão e a própria Superliga”, finalizou.

A ação das jogadoras contra a CBV ainda não foi julgada na Justiça. A entidade de vôlei foi notificada nesta semana. Mas, até agora, nenhuma decisão foi tomada sobre o processo.